segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

COPA DO MUNDO E POLÍTICA




Junte estes ingredientes: 1) um evento que vai monopolizar as atenções da quase totalidade da população brasileira. 2) Nos anos que o antecedem, o País conhecerá o maior programa de obras de infra-estrutura já realizado em 12 das maiores capitais brasileiras, com investimentos bilionários e até uma própria versão do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). 3) Tudo isso ocorrerá faltando poucos meses para as eleições de deputados estaduais, deputados federais, senadores, governadores e do presidente da República.

O resultado da equação é previsível: a Copa de 2014, no Brasil, será não apenas o maior acontecimento esportivo da história do País. Será, também, um momento sem precedentes em termos de projeção política para os personagens envolvidos.

As autoridades locais não demonstram mais qualquer dúvida de que Fortaleza será confirmada como uma das subsedes. Dos atuais chefes do Executivo federal, estadual e municipal diretamente relacionados à possível Copa em Fortaleza, o governador Cid Gomes (PSB) é o único com possibilidade de permanecer no cargo até lá. Os atuais mandatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e da prefeita Luizianne Lins (PT) se encerram em 2010 e 2012, respectivamente, e eles, já reeleitos, não têm possibilidade de concorrer a um novo mandato. Já Cid tem possibilidade de ser reeleito.

No entanto, diferentemente do que ocorrerá com o governador - caso ainda esteja no cargo entre junho e julho de 2014, quando a Copa deverá ser disputada - tanto Lula quanto Luizianne poderão ser candidatos nas eleições que ocorrerão logo após o Mundial. O presidente poderá, por exemplo, tentar retornar à Presidência. A prefeita terá possibilidade de concorrer ao Governo ou ao Senado. E o próprio Cid, caso seja reeleito no próximo ano, estará, em meados de 2014, envolvido na sua própria sucessão.

O que é certo é que, nos mais de cinco anos que faltam até a competição, o cenário político de Fortaleza, do Ceará e do Brasil serão outros. A mudança de comando que necessariamente haverá nos planos federal e municipal levarão ao surgimento de novos personagens - hoje, não há sucessores naturais. Ainda que os mesmos partidos se mantenham no poder, haverá uma reacomodação dos grupos e também das oposições. E, com tanto tempo e tantas eleições pelo caminho, é não só possível, mas provável que seja rompido o atual alinhamento existente entre Prefeitura, Governo do Estado e Governo Federal - todos hoje nas mãos de um mesmo consórcio político. Toda essa remontagem do cenário político será, em boa medida, pautada pela Copa do Mundo.

Isso porque os efeitos eleitorais não ficarão restritos às eleições que sucederão o evento, três a quatro meses depois da Copa. As duas próximas eleições, que antecederão o evento, já serão pautadas, em grande medida, pelos preparativos para a competição. No ano que vem, os governadores que tentarem a reeleição ou os candidatos que forem por eles apoiados poderão colher os frutos da escolha da capital de seus estados como subsedes, ou pagar o preço de terem ficado de fora do espetáculo.

Em 2012, a repercussão da Copa sobre o ambiente político será ainda maior. Será ano de eleições municipais e o programa de obras estará entrando na fase final. Até lá, a população já estará vendo o que estará e o que não estará saindo do papel. Nos dois casos - 2010 e 2012 - os eleitores escolherão os dirigentes estaduais e federais, no primeiro caso, e municipais, no segundo, que serão responsáveis pela realização efetiva da Copa do Mundo. Durante suas campanhas, serão, sem dúvida, cobrados quanto aos seus planos para a fase final da organização de um evento sem precedentes na história brasileira.

Jornal O Povo

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