A desativação da ferrovia Sul que liga Fortaleza à cidade do Crato, na
região do Cariri, prevista ainda para este mês, provocou reações
adversas. Pelo menos oito instituições (associações e sindicatos) de
engenheiros, sob a coordenação do Conselho Regional de Engenharia e
Agronomia (Crea) do Ceará divulgaram na imprensa nota de repúdio contra a
suspensão do tráfego ferroviário da linha Sul.
A informação de que a empresa Logística
Transnordestina S.A. que administra a ferrovia confirmou a suspensão da
ferrovia da linha Sul, que tem uma extensão de 600 km, foi divulgada com
exclusividade no Caderno Regional do Diário do Nordeste, no último dia
11 de junho, com o título ´Ferrovia Sul será desativada até o fim de
julho no Interior".
Em nota publicada na imprensa, as
instituições ligadas ao setor de engenharia criticam a decisão da
empresa e mostra que o Brasil anda na contramão do desenvolvimento, pois
os países ricos priorizam o transporte ferroviário. No fim da nota, há
uma conclamação para que as autoridades do Estado lutem contra a decisão
de suspender o tráfego ferroviário na linha Sul.
A empresa
Logística Transnordestina não forneceu uma data exata de suspensão das
atividades. Em nota, justificou a medida, informando que a malha da
Transnordestina substituirá a ferrovia atual no ramal Sul, e que por
esta razão e em função das interferências necessárias para a construção
da nova ferrovia, o transporte de produtos encontra-se temporariamente
suspenso nesse trecho.
Os engenheiros criticam a justificativa,
alegando que somente deveria haver a suspensão da linha Sul quando a
Nova Transnordestina fosse concluída. "Somente depois da nova ferrovia
ser concluída é que o tráfego deveria ser suspenso", disse o presidente
da Associação Brasileira de Engenheiros Civis do Estado do Ceará
(ABENC), Lyttelton Rebelo Fortes. "A suspensão do tráfego é um absurdo".
Lyttelton
Fortes observa que há sete anos foi anunciado início das obras da
Transnordestina no Ceará, mas até agora praticamente nada foi
construído. "Quanto tempo essa obra vai demorar até chegar ao Porto do
Pecém? Uma década, duas?", indagou. "Até lá, a linha Sul não terá
tráfego e isso vai prejudicar o transporte elevado de carga no Ceará e
para outros estados, como Paraíba e Pernambuco". Quando da privatização
da ferrovia em 1998, os trechos na região foram leiloados e arrematados
para um sistema de concessão pela Companhia Ferroviária do Nordeste
(CFN) em substituição à extinta Rede Ferroviária Federal. Depois, surgiu
a empresa Transnordestina Logística que explora a ferrovia.
O
presidente da Associação dos Engenheiros da Rede Viação Cearense,
engenheiro, José Alexandre Torres, critica duramente a decisão em
suspender o tráfego ferroviário e a falta de manutenção do trecho. "Está
abandonado, sem conservação, embora o contrato exija investimentos",
frisou. "As agências reguladoras não fiscalizam, não funcionam e não
fazem planejamento".
Alexandre Torres observou que a implantação
da Transnordestina prevê a instalação de três trilhos em bitola mista.
"Ora, se não teremos mais o trem antigo, na bitola de um metro, para que
colocar três trilhos?", questiona. "Isso demonstra falta de
planejamento". O engenheiro aposentado lamentou que nenhum deputado
estadual e o próprio governo fizeram pronunciamentos acerca da suspensão
do tráfego na linha Sul.
O engenheiro Lyttelton Fortes espera o
Ministério Público Federal e a Assembleia Legislativa do Estado
verifiquem o que está ocorrendo ante a falta de manutenção e a decisão
de suspender as atividades de tráfego ferroviário na linha Sul. "A gente
precisa levantar essa bandeira, em defesa do Brasil".
O retrato
atual da precariedade da linha Sul está no fato de que o trem que faz o
transporte de milho para cidades do Interior, mediante contratação do
governo do Estado, trafega em baixa velocidade, cerca de 10km por hora,
pois há risco de descarrilamento. O tráfego é feito somente durante o
dia.
O presidente da Associação dos Engenheiros Agrônomos do
Ceará, Ésio do Nascimento Silva, também lamentou a falta de
investimentos na malha ferroviária. "Essa decisão prejudica o Estado,
causa sérios danos", afirmou. "O tráfego de carga por rodovia traz mais
riscos de acidentes e contribui para reduzir a vida útil das estradas".
Para o presidente da Associação dos Engenheiros Industriais do Ceará,
Alberto Belchior, a desativação da ferrovia é um equívoco.
Mais informações:Crea-CE
Telefone: (85) 3453. 5800
Associação Brasileira de Engenheiros Civis
Telefone: (85) 3268. 1866
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