quinta-feira, 8 de outubro de 2009

AOS AMIGOS, COM CARINHO

Tanto quanto são infinitas as formas de compreender a vida, igualmente são as de enfrentar suas adversidades. Até que estejamos concretamente diante de um obstáculo, em verdade não sabemos de que forma o enfrentaremos. Até que sintamos a dor, não saberemos a verdadeira dimensão do sofrimento.É o instinto (talvez vindo de Deus, talvez da mera condição animal) que nos ensina a lutar pela sobrevivência. Por pior que estejam as coisas sempre preservar-se vivo será a melhor saída, mesmo que o sopro de vida que restar não possua mais viço ou qualidade. A esperança é a última que morre: eis um ditado o qual bem poderia representar a eterna luta que somos socialmente treinados a travar com a morte. Pouco importa o sentimento que demos à nossa vida, desde que cotidianamente suplantemos o fantasma e a certeza da morte. Por finitos que sejamos, é na crença da imortalidade que consumimos cada instante de nossa tênue existência.

Nas dificuldades (nas mais temíveis principalmente) é este o instante que todos os que nos são próximos buscam nos alimentar. A qualquer custo que for, vença a morte, insista na sua própria imortalidade, porque assim estarás evidenciando não apenas sua infinita fortaleza como também alimentando de esperança todo o restante da humanidade.

Porém, uma vez que são muitas as formas de viver as augrúrias da existência, um dissabor pode ser encarado por infinitas maneiras. Variações que de ordinário dependerão da forma com que se interpreta o mundo, assim como este mesmo mundo reage face a seu sofrimento. Diante da enfermidade, fui cercado pela calorosa luz da compaixão e da amizade; fui encharcado pela inebriante energia do amor sincero, passional mas desinteressado de centenas de pessoas que me infligiram desejos de saúde plena e pronto restabelecimento.

Quem nada me devia senão estima gratuita me emprestou dessa luz; quem talvez me devesse algo, mas que não poderia ser cobrado em razão do meu próprio estado de fragilidade, sem nada querer pagar igualmente me cedeu desta luz; quem imaginei que pelos descaminhos da vida nem mais se lembrasse de mim, da mesma forma me encandeou desta revigorante luminosidade; de quem não esperava carícias me afagou pelo amor; de quem esperava estas carícias, me as trouxe com muito mais generosidade que merecia; quem decepcionei me afagou com o perdão; quem não pude ajudar, me retribuiu com a solidariedade; quem pouco conhecia, me abraçou com ardor e os antigos e verdadeiros amigos permaneceram incontinenti em apoio.

Jamais havia sentido energia tão pujante e verdadeira. Nas lágrimas destas centenas de amigos angariei a força do destemor; na honestidade de seus abraços adquiri a coragem da vitória; na fortaleza de suas palavras (escritas ou faladas) a energia da revitalização. É esta a verdadeira alquimia. A chave da pedra filosofal tão empenhadamente buscada pelos antigos filósofos. Tão plena, enfim, estava minha alma desta saborosa energia, que dali seria capaz de enfrentar todos os obstáculos que se pudessem interpor no meu caminho, fossem quais fossem as conseqüências do mal que me afligia.

A vida, a morte e esta infindável luta pela eternidade passaram a ter nenhuma importância a partir de então. Talvez não houvesse diferença entre uma longa vida e uma morte prematura. Nem uma nem outra condição garantiria a felicidade. O completar-se dessa pujante e luminosa energia proveniente do amor e da amizade, sim, representam o verdadeiro sentido e mistério da vida. Por isto mesmo que pouco importava a vida ou a morte, pois tanto pela vida longa quanto pela breve morte estarei sempre repleto daquela energia vital e eterna que preenche todos os planos da existência, seja material ou não.

Aos amigos, além destas palavras, somente posso agradecer com o compromisso de distribuir a tantos quanto se apresentem, com o mesmo calor revigorante de que fui já embebido por sua generosa luz.

Lhes sou profunda e eternamente grato por tudo! Muito obrigado!

Por Jorge Emicles Pinheiro

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