Começam a ser restauradas as imagens sacras do Museu Histórico do Crato. São 19 imagens, algumas delas com mais de 200 anos. O projeto foi selecionado pela Secretaria de Cultura do Estado (Secult), para apoio à preservação material, na modalidade de preservação de acervos museológicos, executado pela Secretaria de Cultura, Esporte e Juventude local, que administra o equipamento. Serão seis meses de um trabalho, que não envolve somente a recuperação das imagens, mas a conscientização sobre a importância do resgate da história local entre estudantes.
A recuperação está sendo feita pela restauradora italiana, Maria Gabriella Federico, que já vem realizando esse trabalho há 22 anos, desde o seu país de origem. Gabriela afirma que a imagem mais importante do museu, a de São Fidélis, co-padroeiro do município, tem mais de 200 anos e está bastante danificada. Alguns dedos precisam ser refeitos e o trabalho é extremamente minucioso. Será um mês de trabalho, com o monumento em madeira provavelmente confeccionado pelos índios cariri, que receberam influência dos padres.
A outra imagem em madeira é a de São Francisco. O próprio material utilizado no processo de recuperação é natural. Gabriella cumpre a tarefa de recuperação com um cuidado minucioso, como quem está criando uma obra de arte, pela segunda vez. Cada detalhe é fruto de uma pesquisa para a sua reposição na integralidade, a exemplo de detalhes na base da imagem de São Fidélis. São pequenos desenhos, sobre a cor rosa bebê.
O primeiro trabalho desenvolvido pela italiana no Cariri aconteceu em 2004, por indicação do Instituo do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), para o restauro da imagem de Nossa Senhora da Penha, na Igreja da Sé, Crato. Outra importante atividade aconteceu no Museu Jaguaribano de Aracati, com projeto de restauração. No Rio de Janeiro, ela fez a recuperação dos painéis de azulejos da Escola dos Estados Unidos, além de trabalhos na sua terra de origem, como a restauração de quatro esculturas no palácio real de Torino, e outras atividades no Centro Histórico de Roma.
Origem do município
A autora do projeto classificou as peças a serem contempladas no projeto, que se constituem em exposição permanente na Sala Dom Vicente de Paulo Araújo Matos, do Museu Histórico. São relíquias que remontam quase o período de origem do município, estando entre as mais antigas da região. Além das imagens, estão incluídos sacrário e dois oratórios, que foram detalhados no projeto técnico de conservação.
A secretária de Cultura do Crato, Danielle Esmeraldo, destaca que essa "é a nossa história que está sendo resgatada. Antes, tínhamos um projeto de modernização do museu, solicitado ao arquiteto Waldemar Farias, isso levando-se em consideração a preservação da originalidade do Museu Histórico. Mas agora, vemos a necessidade de recuperar e salvaguardar as peças raras, em primeiro plano", explica a secretária.
Ela afirma que alguns móveis destruídos pelos cupins passaram por recuperação durante a sua gestão, com a meta de revitalizar o espaço e torná-lo mais atrativo. "As pessoas precisam conhecer sua história, suas origens, e o museu é um espaço importante que documenta esse passado", diz a secretária.
Os quadros do Museu de Artes Vicente Leite, que funciona na parte superior do Museu Histórico, também foram recuperados pela artista plástica e restauradora, Edilma Saraiva. No local, há obras de artistas como Sinhá D´amora. O investimento futuro será na proteção das imagens. "São obras de um valor imensurável. Vamos restaurar para conseguir manter essas obras e fazer com que o Museu tenha algo digno para visitas", ressalta Danielle.
Há imagens sem os dedos e até as mãos, a exemplo das imagens de São Francisco, Santana e São José. O Crato, por um período de sua história, foi conhecido como "Curato de São Fidelis´". O acervo sacro do museu é considerado um patrimônio de grande valor histórico pela restauradora.
Ela abre o espaço durante o período em que estiver realizando a recuperação das imagens, para a sociedade. O objetivo é promover também a conscientização, mostrando cada passo para a recuperação do acervo cultural.
A técnica de trabalho envolve desde a consolidação da peça, recuperação das rachaduras, pintura de origem, recomposição e proteção da escultura, e colocação de "patna protetiva". Para Gabriella, a responsabilidade histórica pelos acervos aos poucos tem sido disseminada, mas ainda falta, por parte da sociedade, um conhecimento maior para se ver com profundidade essa importância.
Estamos iniciando o trabalho e as pessoas aos poucos estão se conscientizando"
Gabrielle Federico
Restauradora
Mais informações
Secretaria de Cultura do Crato
Centro Cultural do Araripe, S/N
(88) 3523.2365
ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER
Jornal Diário do Nordeste
Nenhum comentário:
Postar um comentário