Segue abaixo editorial do Jornal do Cariri desta semana:
O
padre Cícero Romão Batista é
considerado, pela maioria dos juazeirenses, como um santo e, mesmo pelos que não possuem crenças
religiosas, como o grande patrono e fundador do município.
Não
há como se negar, todavia, que ele é uma figura histórica polêmica e
controvertida. Um dos pontos que alimentam fortes debates em torno dele é o
chamado “Milagre de Juazeiro”, quando as espécies sagradas converteram-se em
sangue para a beata Maria de Araújo.
A
participação política de padre Cícero é também objeto de grandes especulações,
pois alguns estudiosos identificam nessa parte de sua biografia um impedimento
a que ele seja beatificado ou canonizado pela Igreja Católica.
É
certo que o Padim Ciço, como é conhecido pela gente humilde de todo o
Norte-Nordeste do Brasil, venceu a batalha histórica.
Ninguém
mais discute sua importância, sua contribuição para o desenvolvimento do Cariri
e para a fé católica no Brasil. Independentemente disso, ou até mesmo por essa
vitória
sobre seus críticos, é crescente o número de estudos históricos, sociológicos e
teológicos sobre o fundador de Juazeiro do Norte.
A
comissão do Vaticano, que avalia o pedido de reabilitação do sacerdote cratense,
também precisará de elementos para estudar o caso. Em suma, o crescente interesse
por
padre Cícero só será saciado com o estudo de fontes primárias: documentos,
objetos pessoais, escritos e marcas de sua vida.
Na
última semana, um verdadeiro crime histórico, um delito contra a memória do
povo de Juazeiro e de seu grande benfeitor, foi denunciado: o roubo de objetos do
acervo do museu do memorial Padre Cícero. A denúncia vem do respeitado advogado
José Nildo Rodrigues.
Segundo ele, desapareceram do memorial um conjunto expressivo de peças
históricas, como xícaras, talheres, livros e batinas, doadas por famílias
tradicionais juazeirenses.
Além disso, já havia ocorrido o furto de 80 livros de alto valor histórico e
bibliográfico,
segundo denúncia também respeitado memorialista Renato Casimiro.
Esses
fatos, que ganharam repercussão na mídia
nacional, como a página “on line” da revista Veja, só reforçam o verdadeiro descalabro
administrativo que Raimundo Macedo instaurou na Prefeitura de Juazeiro do
Norte.
Os
vivos não são protegidos. Os doentes não têm acesso aos hospitais e aos
medicamentos. Agora, o desgoverno municipal de Raimundão deixou suas marcas
junto ao
mais famosos e ilustre morto de Juazeiro, ninguém menos que o padre Cícero.
São
gastos milhares de reais anualmente com segurança no memorial do Padre Cícero,
mas o abandono do local é visível. Agora, com os crimes ali cometidos, torna-se
ainda mais grave a situação de descaso com a coisa pública e, o mais grave, com
o passado e a memória do povo de Juazeiro do Norte.
Os
historiadores, os sociólogos, os teólogos e os investigadores do Vaticano terão comprometido
seu trabalho com esse saque ao Memorial do Padre Cícero. A perda é irreparável,
porque não é de dinheiro – e este tem sumido aos montes na Administração, em
todos os níveis – mas é de caráter imaterial.
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