quarta-feira, 23 de julho de 2014

Uma reflexão sobre o memorial Padre Cícero



Segue abaixo editorial do Jornal do Cariri desta semana:


O  padre Cícero Romão Batista é considerado, pela maioria dos juazeirenses, como um santo e,  mesmo pelos que não possuem crenças religiosas, como o grande patrono e fundador do município.

Não há como se negar, todavia, que ele é uma figura histórica polêmica e controvertida. Um dos pontos que alimentam fortes debates em torno dele é o chamado “Milagre de Juazeiro”, quando as espécies sagradas converteram-se em sangue para a beata Maria de Araújo.

A participação política de padre Cícero é também objeto de grandes especulações, pois alguns estudiosos identificam nessa parte de sua biografia um impedimento a que ele seja beatificado ou canonizado pela Igreja Católica.

É certo que o Padim Ciço, como é conhecido pela gente humilde de todo o Norte-Nordeste do Brasil, venceu a batalha histórica.

Ninguém mais discute sua importância, sua contribuição para o desenvolvimento do Cariri e para a fé católica no Brasil. Independentemente disso, ou até mesmo por essa
vitória sobre seus críticos, é crescente o número de estudos históricos, sociológicos e teológicos sobre o fundador de Juazeiro do Norte.

A comissão do Vaticano, que avalia o pedido de reabilitação do sacerdote cratense, também precisará de elementos para estudar o caso. Em suma, o crescente interesse
por padre Cícero só será saciado com o estudo de fontes primárias: documentos, objetos pessoais, escritos e marcas de sua vida.

Na última semana, um verdadeiro crime histórico, um delito contra a memória do povo de Juazeiro e de seu grande benfeitor, foi denunciado: o roubo de objetos do acervo do museu do memorial Padre Cícero. A denúncia vem do respeitado advogado José Nildo Rodrigues. Segundo ele, desapareceram do memorial um conjunto expressivo de peças históricas, como xícaras, talheres, livros e batinas, doadas por famílias tradicionais juazeirenses. Além disso, já havia ocorrido o furto de 80 livros de alto valor histórico e
bibliográfico, segundo denúncia também respeitado memorialista Renato Casimiro.

Esses fatos, que ganharam  repercussão na mídia nacional, como a página “on line” da revista Veja, só reforçam o verdadeiro descalabro administrativo que Raimundo Macedo instaurou na Prefeitura de Juazeiro do Norte.

Os vivos não são protegidos. Os doentes não têm acesso aos hospitais e aos medicamentos. Agora, o desgoverno municipal de Raimundão deixou suas marcas junto ao mais famosos e ilustre morto de Juazeiro, ninguém menos que o padre Cícero.

São gastos milhares de reais anualmente com segurança no memorial do Padre Cícero, mas o abandono do local é visível. Agora, com os crimes ali cometidos, torna-se ainda mais grave a situação de descaso com a coisa pública e, o mais grave, com o passado e a memória do povo de Juazeiro do Norte.

Os historiadores, os sociólogos, os teólogos e os investigadores do Vaticano terão comprometido seu trabalho com esse saque ao Memorial do Padre Cícero. A perda é irreparável, porque não é de dinheiro – e este tem sumido aos montes na Administração, em todos os níveis – mas é de caráter imaterial.

Nenhum comentário: