“Os brancos podem aprender muito a respeitar a natureza com a gente, os povos indígenas. O homem branco vai desmatando e secando nossos rios, desrespeitando o que o nosso Pai Tupã nos ofertou”, ensina a diretora da Escola Diferenciada de Ensino Fundamental e Médio Jenipapo-Kanindé, Juliana Alves, de 30 anos. Filha da cacique Pequena, primeira mulher a assumir a liderança da etnia JenipapoKanindé, ela encara a luta pelo cumprimento dos direitos indígenas, pela demarcação de suas terras e em proteção à Lagoa da Encantada.
Juliana, conhecida carinhosamente como Irê (Luz dos Encantados), repassa os sonhos almejados pela mãe sobre a importância dos estudos para seus alunos da comunidade indígena, localizada no município de Aquiraz, em um local sagrado chamado Lagoa Encantada. Lá, os encantados, entidades que representam a terra, água, ar e o fogo, guardam histórias e lendas indígenas, ligadas à magia.
Sob a pele, a simbologia dos traçados e triângulos da tinta do jenipapo comprovam, por meio da arte, o esforço de uma mulher guerreira que une forças para dar continuidade ao trabalho desenvolvido por sua mãe. Com um olhar longínquo, Irê relembra a história da sua etnia e o empenho em trazer melhorias para a comunidade entre passagens estreitas de uma estrada carroçal.
Até o final dos anos 1980, a tribo JenipapoKanindé era chamada de Payaku, nome de um peixe venenoso que existe no litoral nordestino. Os índios costumavam ser chamados, por seus vizinhos que não eram indígenas, pelo apelido “cabeludos da encantada”. Em 1997, a Fundação Nacional do Índio (Funai) começou o processo de demarcação da terra indígena na Lagoa Encantada. A denominação JenipapoKanindé, até então desconhecida por eles, foi-lhes aplicada com base em pesquisas históricas pouco aprofundadas, confundindo-os com antigos povos vizinhos, quando o grupo começou a participar dos movimentos indígenas. “Anteriormente, quando minha mãe começou os trabalhos na comunidade tinha apenas 30 casas, com somente 17 famílias. Hoje em dia, há 130 famílias, totalizando 407 pessoas”, destaca a diretora.
Março de 1995 ainda tava começando quando Maria de Lourdes da Conceição Alves foi convidada para ser a cacique da aldeia. Irê carrega na memória o receio das dificuldades que sabia que sua mãe iria enfrentar. “Minha mãe disse que não queria. Porém eles insistiram e ela aceitou. Ela foi muito discriminada por ser uma cacique mulher e por não ter sido alfabetizada na idade certa. Mas, mesmo com as dificuldades e a discriminação, ela não se arrepende de ter aceitado a liderança”, celebra.
Uma das batalhas vencidas foi a construção da escola indígena, inaugurada no dia 18 de fevereiro de 2009. Agora, a batalha atual é pela formação dos professores indígenas. “A escola tem um papel fundamental na comunidade. Lutamos para que os professores das nossas crianças sejam da nossa etnia. Quando criança eu tive que ser reeducada para aprender sobre a cultura do meu povo, porque meus professores foram brancos. Acabei não vivenciando a cultura na prática, pois ninguém juntava os alunos e ensinavam a fazer uma roda de Toré, por exemplo; ou na aula de arte, a fazer um colar, uma pintura. Tive que aprender tudo com os nossos guardiões, os mais velhos da comunidade”, relembra Irê.
A escola possui 14 professores indígenas licenciados, sendo que somente um não é da etnia, já que não há educador formado em educação física. Assim, os instrutores tornam-se responsáveis pela disseminação da cultura passando por gerações, trabalhando o artesanato, a vestimenta, a arte, canções e lendas contadas diariamente. Uma vez por mês, na noite de lua cheia, o Museu Indígena JenipapoKanidé recebe os guardiões da aldeia, fazem fogueira e grolado (farofa de goma feita em caco de barro ou frigideira), assam peixe, tapioca e oferecem para a comunidade e os visitantes presentes. Nos encontros, os guardiões contam as lendas da Mãe D’água, do Homem e o Peixe, e várias outras lendas envolvendo figuras mitológicas.
Entre batalhas vencidas e perdidas, a esperança nunca acaba para esse povo que busca sempre por dignidade, território, saúde e educação. A história aos poucos é exibida no museu, na escola, na casa de farinha, na pousada comunitária, nas lendas dos mais velhos, nas canções e, principalmente, nos encantamentos do Morro do Urubu e na Lagoa Encantada. Em frente a escola, Irê, a luz dos encantados, e sucessora da Cacique Pequena, vive a possibilidade de novas narrativas sobre a sua comunidade nos livros de história. Contos em que o mundo real e o imaginário permanecem juntos na luta por seus direitos indígenas, agraciados pelo Pai Tupã e a Mãe Tamaí.
Juliana, conhecida carinhosamente como Irê (Luz dos Encantados), repassa os sonhos almejados pela mãe sobre a importância dos estudos para seus alunos da comunidade indígena, localizada no município de Aquiraz, em um local sagrado chamado Lagoa Encantada. Lá, os encantados, entidades que representam a terra, água, ar e o fogo, guardam histórias e lendas indígenas, ligadas à magia.
Sob a pele, a simbologia dos traçados e triângulos da tinta do jenipapo comprovam, por meio da arte, o esforço de uma mulher guerreira que une forças para dar continuidade ao trabalho desenvolvido por sua mãe. Com um olhar longínquo, Irê relembra a história da sua etnia e o empenho em trazer melhorias para a comunidade entre passagens estreitas de uma estrada carroçal.
Até o final dos anos 1980, a tribo JenipapoKanindé era chamada de Payaku, nome de um peixe venenoso que existe no litoral nordestino. Os índios costumavam ser chamados, por seus vizinhos que não eram indígenas, pelo apelido “cabeludos da encantada”. Em 1997, a Fundação Nacional do Índio (Funai) começou o processo de demarcação da terra indígena na Lagoa Encantada. A denominação JenipapoKanindé, até então desconhecida por eles, foi-lhes aplicada com base em pesquisas históricas pouco aprofundadas, confundindo-os com antigos povos vizinhos, quando o grupo começou a participar dos movimentos indígenas. “Anteriormente, quando minha mãe começou os trabalhos na comunidade tinha apenas 30 casas, com somente 17 famílias. Hoje em dia, há 130 famílias, totalizando 407 pessoas”, destaca a diretora.
Março de 1995 ainda tava começando quando Maria de Lourdes da Conceição Alves foi convidada para ser a cacique da aldeia. Irê carrega na memória o receio das dificuldades que sabia que sua mãe iria enfrentar. “Minha mãe disse que não queria. Porém eles insistiram e ela aceitou. Ela foi muito discriminada por ser uma cacique mulher e por não ter sido alfabetizada na idade certa. Mas, mesmo com as dificuldades e a discriminação, ela não se arrepende de ter aceitado a liderança”, celebra.
Uma das batalhas vencidas foi a construção da escola indígena, inaugurada no dia 18 de fevereiro de 2009. Agora, a batalha atual é pela formação dos professores indígenas. “A escola tem um papel fundamental na comunidade. Lutamos para que os professores das nossas crianças sejam da nossa etnia. Quando criança eu tive que ser reeducada para aprender sobre a cultura do meu povo, porque meus professores foram brancos. Acabei não vivenciando a cultura na prática, pois ninguém juntava os alunos e ensinavam a fazer uma roda de Toré, por exemplo; ou na aula de arte, a fazer um colar, uma pintura. Tive que aprender tudo com os nossos guardiões, os mais velhos da comunidade”, relembra Irê.
A escola possui 14 professores indígenas licenciados, sendo que somente um não é da etnia, já que não há educador formado em educação física. Assim, os instrutores tornam-se responsáveis pela disseminação da cultura passando por gerações, trabalhando o artesanato, a vestimenta, a arte, canções e lendas contadas diariamente. Uma vez por mês, na noite de lua cheia, o Museu Indígena JenipapoKanidé recebe os guardiões da aldeia, fazem fogueira e grolado (farofa de goma feita em caco de barro ou frigideira), assam peixe, tapioca e oferecem para a comunidade e os visitantes presentes. Nos encontros, os guardiões contam as lendas da Mãe D’água, do Homem e o Peixe, e várias outras lendas envolvendo figuras mitológicas.
Entre batalhas vencidas e perdidas, a esperança nunca acaba para esse povo que busca sempre por dignidade, território, saúde e educação. A história aos poucos é exibida no museu, na escola, na casa de farinha, na pousada comunitária, nas lendas dos mais velhos, nas canções e, principalmente, nos encantamentos do Morro do Urubu e na Lagoa Encantada. Em frente a escola, Irê, a luz dos encantados, e sucessora da Cacique Pequena, vive a possibilidade de novas narrativas sobre a sua comunidade nos livros de história. Contos em que o mundo real e o imaginário permanecem juntos na luta por seus direitos indígenas, agraciados pelo Pai Tupã e a Mãe Tamaí.
A cacique Pequena
Maria de Lourdes da Conceição Alves nasceu no dia 25 de março de 1945, na região do Riacho Saco do Marisco, no município de Aquiraz, localizado a 32,3 km de Fortaleza. Porém, o nome ficou só no registro, pois todos a conhecem como Pequena, apelido que ganhou da mãe, ainda na infância. Sutil e batalhadora, Pequena pertence à tribo JenipapoKanidé e mantém uma disposição inabalável. Casada há 53 anos com Francisco Alves Filho, é mãe de 16 filhos e sua família já se espalha na comunidade através de 50 netos e 20 bisnetos.
A primeira mulher cacique do Brasil ainda traz da mocidade os banhos na Lagoa Encantada, as cantigas e contos dos encantados que os guardiões contavam. Sente até hoje o cheiro do peixe no fogo, cozinhando e relembra da cumbuca de coco na qual tomava o café diário. Aos 71 anos, a cacique Pequena continua organizando sonhos e lutando por reconhecimento e direitos. “É com muito solado de chinelo, com muito banho de chuva, e com muito sol na cabeça para conseguir as coisas para a comunidade”, conclui.
Fotos: Rosane Gurgel
18.04.2016
Assessoria de Comunicação da Seduc18.04.2016
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