terça-feira, 26 de abril de 2016

O maior problema do Brasil não é a corrupção é a desigualdade

Publicado no site Diário do Centro do Mundo.

O maior problema do Brasil é a desigualdade.
Você leu isso várias vezes no DCM, um site apartidário que se bate tenazmente por um Brasil ‘escandinavo’.
Não existe nada mais corrupto e depravado que a desigualdade. A real corrupção é a iniquidade, “os extremos de opulência e miséria” para usar a grande expressão de Rousseau.
Para nós, igualitários, foi especialmente agradável ouvir a causa antidesigualdade ser defendida pelo homem mais rico do Brasil, Jorge Paulo Lemann.
Num seminário internacional, Lemann disse que não haverá estabilidade no Brasil enquanto perdurar a desigualdade.
Escrevi algumas vezes que é um sintoma da miséria moral da imprensa brasileira nunca haver levantado tal bandeira. Isso expõe quanto os donos da mídia plutocrática nacional lucram com o quadro de iniquidade que marca desde sempre o país.
A fala de Lemann foi um marco no debate brasileiro. Nenhum empresário é tão admirado na comunidade de negócios do Brasil quanto ele, um homem discreto e frugal.
Em meus anos de jornalismo de negócios, Lemann foi de longe o personagem que mais me impressionou. Estive com ele e seus sócios repetidas vezes, sempre com proveito.
Quando Lemann diz alguma coisa, todos os executivos brasileiros param de falar e ouvem.
Ele mora na Suíça, de onde sua família é originária, e disse o óbvio: é uma sociedade muito mais feliz que a brasileira.
O Brasil só chegará ao grau de felicidade suíço, acrescentou ele, quando todos tiverem as mesmas oportunidades. Esta a verdadeira meritocracia.
Para tanto, assinalou Lemann, é imperioso que todos possam frequentar as mesmas escolas, as mesmas escolas e por aí vai.
É o modelo escandinavo.
Tal sistema é o oposto do thatcherismo que Temer pretende colocar em prática no Brasil se chegar ao poder e tiver força para fazer qualquer coisa.
O thatcherismo, amplamente adotado no mundo e inspiração clara da gestão FHC, levou a uma brutal concentração de renda contra a qual acabaria se erguendo, nos útimos anos, uma pujante onda igualitária internacional.
Temer e os que o apoiam – a mídia acima de tudo – vão na direção oposta. Querem um Brasil não escandinavo, mas vitoriano na disparidade de renda entre as classes.
Os programas sociais e os direitos trabalhistas têm que avançar para o Brasil ser menos desigual. Temer acena com o oposto.
Não poderia vir em melhor hora a manifestação igualitária de Lemann. Pela liderança que ele exerce entre os empresários e executivos brasileiros, a mensagem será ouvida, discutida e em larga medida aceita.
Ficará muito mais fácil defender, daqui por diante, um Brasil menos iníquo. Já não se poderá dizer que é coisa de comunista, esquerdista, socialista etc etc.
Lemann teve um momento de extrema lucidez ao clamar contra a desigualdade, e o Brasil como um todo só tem a agradecer.

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