O parto normalmente é um momento de alegria, de festa, de renovação da vida. Os pais se redobram de cuidados para receber o fruto do amor e da união que nutrem o casal. Durante nove meses planejam todos os passos, tomam todos os cuidados, na busca de proteger o novo ser. E sempre querem o melhor para a nova vida que chega. É isso que se observa em todos os lugares do mundo. Não seria diferente aqui no Crato.
Lamentável é que apenas os casais pertencentes às classes sociais mais favorecidas, aqueles que possuem planos de saúde, estão podendo oferecer estas garantias aos seus filhos e gestantes. Os casais mais esclarecidos, muito freqüentemente, estão preferindo que seus partos sejam realizados em outras cidades caririenses, principalmente nos municípios de Barbalha e Juazeiro do Norte. O que justifica esta
preferência? Será que estamos perdendo até mesmo o orgulho de SER CRATENSE?
Não. Isso a gente nunca vai perder. O que justifica esse “êxodo” é o fato de não dispormos em nosso município, lamentavelmente, de uma maternidade que ofereça total segurança para o binômio mãe-filho, principalmente nos casos de gravidez de alto risco. Falta-nos uma UTI Neonatal. Somos carentes de Neonatologistas. As parturientes do Sistema único de Saúde (SUS) nunca são assistidas se quer por médicos
pediatras na sala de parto, como determina a lei. Em termos de Maternidade, temos muito a melhorar.
Vivemos num mundo em que as riquezas são concentradas. Muito dificilmente um filho de pobre galga o poder. O filho do médico normalmente consegue seguir a carreira do pai enquanto o filho do pedreiro torna-se pedreiro também. Mantendo-se essa regra perversa, num futuro que não está muito longe, já não teremos mais cratenses
para assumir os postos de comando da nossa cidade. Todos seremos barbalhenses ou Juazeirenses, sem nenhum demérito aos filhos dessas cidades. Precisamos barrar, urgentemente, esse processo. São esses fatos que correm silentes, sem que ninguém perceba, que acabam determinando o nosso fraco desempenho no que se refere ao
desenvolvimento. Isso pode nos custar muito caro num futuro próximo ao mesmo tempo em que dissimula o nosso nato “orgulho de ser cratense”.
Temos uma grande oportunidade para exterminarmos este germe. A Maternidade do Crato, do Hospital São Francisco de Assis, está em fase de conclusão de uma ampla, necessária e merecida reforma das suas estruturas físicas. Está nascendo uma Nova Maternidade do Crato, é preciso que nos juntemos e cobremos das esferas de governos municipal, estadual e federal, o mais urgentemente possível, a implantação de uma
UTI Neonatal nesta Maternidade, e também que nela seja colocado, à disposição de todos, o mais moderno e necessário arsenal diagnóstico e terapêutico. Só assim todos os CRATENSES voltarão a nascer aqui. E, quem sabe, até mesmos os barbalhenses e juazeirenses. Só depende da gente.
Dr. Valdetário Brito
Médico
Crato (CE), 14 de junho de 2009.
Um comentário:
Dr. Valdetário, seu texto reflete a mais pura e lídima verdade.Costumo escrever alguns textos simples no "blog do Crato", todavia, não havia ainda lido naquele blog nenhuma matéria nesse contexto. Esse relato, permeado da mais alta competência, pois como médico lhe assiste capacidadade para falar à respeito, reflete o quadro critico em que enfrentamos no sistema "único, solitário" de saúde.Tive o privilégio de nascer no hospital São Francisco, isso em 1970,náquela época, segundo relato dos meus pais o atendimento era satisfatório, entretanto, não posso avaliar nos dias atuais, porém, segundo afirmações contidas no seu texto, é muito preocupante, deixa-nos estremamente apreensivos, pois, independente de não residir na minha terra natal,tenho vários parentes e amigos que ai residem, e mesmo que não os tivesse, o simples fato de saber que outras pessoas, mesmo que estranhas, correm sérios riscos, já seria mais que suficiente para nos alarmar.Veja voce que apesar de previsão legal, o administrador não a cumpre, ignora, deixando a "deus dará" o resultado, que em muitos casos é de dificil reparação. Sem olvidarmos que o parto mal assistido pode gerar não somente o óbito ( da mãe ou do filho), porém, sequelas gravissimas que ficarão gravadas no individuo pelo resto da vida.Outro fato importante, a lei 11.634 de 2007, garante à gestante o direito de saber o local onde terá o seu filho (no caso do patrocinio do sus), será que isso é cumprindo? Outro dado, já a lei 11.664 de 2008, dispõe sobre a efetivação de ações de saúde que assegurem a prevenção, a detecção, o tratamento e o seguimento dos cânceres do colo uterino e de mama, no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS, será essa também cumprida? Ficam essas questões como reflexão para todos nós. Parabéns pelo texto e ao Sr. Tarso, por trazer informações importante para o povo cearense.Luiz Cláudio Brito de Lima.
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