segunda-feira, 26 de setembro de 2011
JORNALISMO: GÊNEROS E VASOS COMUNICANTES
O jornal, assim como a revista, deve ser aquele que irá complementar aquilo que já lhe foi passado, de maneira rápida e superficial, pelo rádio, a televisão e a internet. Entendemos que o aparecimento desses novos veículos não causará a extinção do jornal impresso se seus donos compreenderem que é uma oportunidade para o aperfeiçoamento e renovação
Exemplos de ruptura de fronteiras entre literatura e a retórica do jornalismo são as reportagens, crônicas, perfis, comentários, entrevistas, artigos e ensaios que se tornaram os trunfos para a sobrevivência dos jornais por representarem a fecundidade criativa do jornalismo alicerçada por técnicas literárias.
Um híbrido entre a notícia e a ficção, a crônica aparece todos os dias quando abrimos um jornal ou revista. Lá está ela, num espaço destinado, separado das chamadas notícias objetivas. O cronista cearense Airton Monte diz que qualquer coisa pode se tornar tema de crônica. Ele afirma que muitas vezes, na rua, ouvia uma conversa entre um casal ou um grupo de amigos, alguma coisa lhe chamava a atenção, e a partir daí saia a crônica que viria a ser publicada no dia seguinte.
Crônicas são feitas em primeira pessoa, o autor tem liberdade para escrever sobre ele mesmo, experiências suas; reflete sobre o dia-a-dia e, também, sobre notícias factuais; não tem obrigação de se ater a nada. O "eu" do autor se faz presente mais do que nunca. Porém, José Luis Martinez (apud MELO, p. 141) diz que a crônica latina "traz consigo ainda certa dose de carga informativa, de atividade característica de um repórter e não de um editorialista". Já Massaud Moisés (2003) diz que a crônica é uma expressão ambígua pois, ao mesmo tempo que transcende o diário também pretende ser atual. Ricardo Miyake, professor de literatura, define a crônica como: (TEXTO I) José Marques de Melo (2002) afirma que a crônica é um gênero jornalístico recente, contemporâneo, "cujas raízes localizam-se na história e na literatura. A atividade dos ´cronistas´ vai estabelecer a fronteira entre a Logografia - registro de fatos, mesclados com lendas e mitos - e a história narrativa - descrição de ocorrências extraordinárias nos princípios da verificação e da fidelidade" (MELO, 2002, P. 139). Jorge de Sá (2002) nega o fenômeno atual que Melo preconiza à crônica e garante que a carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal, depois do descobrimento do Brasil, é criação de um cronista. No texto, o português: (Texto II)
No relato, Caminha descreve, em primeira pessoa, suas observações diretas sobre os fatos que estava presenciando. Dessa forma, recriando a realidade por meio da arte e de fatos efêmeros que ganham certa concretude, Caminha estabelece "o princípio básico da crônica registrar o circunstancial. A história da nossa literatura se inicia, pois, com a circunstância de um descobrimento: oficialmente, a Literatura Brasileira nasceu da crônica" (2002, p. 6-7). Porém, na opinião de Antonio Soares Amora (apud MELO, p. 140), falta, nos relatos de Caminha e de cronistas colonizadores, "valor artístico", pois eles não estavam interessados um caráter literário.
A gênese
A crônica tem sua origem, portanto, na História e na Literatura. Só depois que ela vai passar destes para a atividade jornalística "sendo um gênero cultivado pelos escritores que ocupam as colunas da imprensa diária e periódica para relatar os acontecimentos pessoais" (MELO, 2002, P. 141). Segundo Miyake, a crônica brasileira "notabilizou-se por seu caráter essencialmente carioca".
Como a imprensa nacional nasceu na então capital do país, o Rio de Janeiro, a intelectualidade brasileira fincou os pés na cidade. Será a partir "da experiência cotidiana ´no´ e ´com´ o Rio de Janeiro", que a crônica vai se modular inicialmente com Machado de Assis e José de Alencar durante o século XIX.
Mas foi na década de 30, que "a crônica moderna se definiu e consolidou no Brasil" como um gênero tipicamente nacional. João do Rio, Lima Barreto, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, Nelson Rodrigues e Rubem Braga são os grandes representantes do gênero no país.
O desbravador
João do Rio (pseudônimo mais conhecido do jornalista Paulo Barreto) foi quem concedeu à crônica, antes um simples artigo informativo, uma roupagem mais literária. E Rubem Braga, tempos depois, a enriqueceria de forma ainda mais marcante. "Em vez do simples registro formal, o comentário de acontecimentos que tanto poderiam ser do conhecimento público como apenas do imaginário do cronista, tudo examinado pelo ângulo subjetivo da interpretação, ou melhor, pelo ângulo da recriação do real" (SÁ, 2002, p. 9). Ou seja, João do Rio chegou a inventar personagens em suas crônicas e, assim, "dava a seus relatos um toque ficcional". (Texto III)
ALINE SANTIAGO VERAS
COLABORADORA*
*Do Curso de Jornalismo da Unifor
TRECHOS
TEXTO I
a seriedade e a sátira, a formalidade e a familiaridade, o terno e a bermuda, ela abrange tanto a narrativa de pequenos acontecimentos cotidianos como as formas poéticas, o relato breve e o ensaio, os temas políticos e as miudezas cotidianas, de modo que quase tudo parece caber na crônica, que, nesse sentido, transita no meio-fio (e fora dele também) entre a ordem e a desordem. (MIYAKE, p. 50)
TEXTO II
"recria com engenho e arte tudo o que ele registra no contato direto com os índios e seus costumes, naquele instante de confronto entre a cultura europeia e a cultura primitiva" (SÁ, 2002, p. 5-6).
TEXTO III
o cronista age de maneira mais solta, dando a impressão de que pretende apenas ficar na superfície de seus próprios comentários, sem ter sequer a preocupação de colocar-se na pele de um narrador, que é, principalmente personagem ficcional. Assim, quem narra uma crônica é o seu autor mesmo, e tudo o que ele diz parece ter acontecido de fato, como se nós, leitores, estivéssemos diante de uma reportagem. (SÁ, 2002, p. 9)
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