O Data Popular divulgou esta semana uma pesquisa reveladora sobre o aspecto mais nocivo do “jeitinho brasileiro”. De acordo com o levantamento, sete em cada dez brasileiros afirmaram já ter cometido pelo menos uma atitude que pode ser considerada corrupção. Mas os entrevistados não se assumem: somente 3% deles, questionados se se consideram corruptos, reconheceram que sim.
O estudo aponta que 67% das pessoas já compraram algum produto pirata e 75% declararam conhecer quem já tenha cometido tal atitude, enquanto 15% das pessoas conhecem alguém que já usou estratégias fraudulentas contra o fisco para aumentar o valor da restituição do Imposto de Renda, mas apenas 1% admitiu tal atitude.
Segundo o presidente do instituto Data Popular, Renato Meirelles, não se pode fazer uma gradação entre atitudes mais ou menos corruptas, como, por exemplo, dizer que um sonegador de imposto é mais corrupto do que uma pessoa que pratica um ato aparentemente inofensivo como comprar um CD pirata.
“Depende do conceito de cada um. Eu acredito que não existe uma escala do que é corrupção ou não. Pode-se discutir as circunstâncias, o que leva à prática, mas efetivamente não existe meio ladrão”, diz.
“Entendo corrupção como alguém receber alguma vantagem pessoal ou oferecer vantagem a um agente, para ter uma condição privilegiada sobre algo, independentemente de ser ativo ou passivo. Oferecer algum benefício a outrem ou receber algum benefício de outrem para conseguir vantagem ou privilégio”, explica. Meirelles lembra que, ao contrário do que muitas vezes é implícito nos discursos, a corrupção não é só pública ou ligada a assuntos de Estado.
De acordo com a pesquisa, a tendência à corrupção se revela em atitudes consideradas comuns no dia a dia das pessoas: 15% dos entrevistados disseram ter comprado meia-entrada usando uma carteirinha de estudante de outra pessoa ou falsa. Mais de 31 milhões de brasileiros (21%) receberam troco a mais em uma compra e não devolveram a diferença. Mais de 47 milhões (32%) afirmaram conhecer alguém que faz "gato" na TV por assinatura, contra 11% que disseram já terem cometido a ilegalidade.
Para Meirelles, a superação do problema, enraizado na sociedade brasileira historicamente, não é fácil. “É um problema cultural, que tem de ser enfrentado como problema cultural. A superação começa com um amplo debate, é preciso explicitar claramente o que são atos corruptos ou não, e desnaturalizar a corrupção cotidiana. Isso começa na escola. Vai ser uma mudança geracional”, avalia.
Política
Renato Meirelles não comenta a guerra política em torno de práticas eleitorais. “Para mim, corrupção é corrupção, seja para um, seja para outro. Não podem existir duas réguas: o que vale para um, tem que valer para o outro. Mas o erro de um não justifica o do outro.”
Segundo ele, corrupção não pode ser confundida com preconceito de classe. “Não quero dizer que não exista preconceito de classe. Mas é necessário discutir o mérito da corrupção, suas origens e as causas históricas. Tem a ver com as raízes, com o tipo de educação que se oferece nas escolas, com o pior lado do jeitinho brasileiro, e não com o melhor lado. Com certeza não é encobrindo o debate sobre corrupção que vai se resolver o problema. O debate tem que ser exposto, explícito.”
A pesquisa foi realizada na primeira quinzena de janeiro, com 3.500 pessoas, em 146 cidades do país.
por Eduardo Maretti, da RBA
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