“Ninguém cospe no Lula, velho? Que troço desesperador. Ninguém dá uma cuspida no Lula, um sujeito desses é digno de uma cusparada.” Alexandre Fetter, em programa de rádio de emissora da RBS, a “Globo” do Sul
“Já é possível perguntar e discutir se Lula vai ser preso.” Merval Pereira, em O Globo
“Aos brados, o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes chamou o ex-presidente Lula de “bêbado”, anteontem, no aniversário da ministra Katia Abreu (Agricultura). Segundo seu relato, Lula chegou embriagado em São Paulo para prestar solidariedade às vítimas do acidente da TAM, em Congonhas, ocorrido em outubro de 1996. A tragédia acabou com 99 mortos. Constrangimento geral.” Ilimar Franco, em O Globo
O cerco a Lula
Há meses que eu ouço frases como: “Quando vão chegar no Lula?”, ou então, “Quando vão pegá-lo?”.
Porque, afinal, este é o objetivo maior do establishment brasileiro: atingir o maior líder popular do Brasil desde Getúlio Vargas.
Não porque ele seja desonesto, mas porque ele se manteve de esquerda, porque se manteve fiel à sua classe de origem não obstante o clássico processo de cooptação de que foi objeto. Pois bem, o establishment chegou ao Lula. Não para incriminá-lo, mas para tentar desmoralizá-lo.
As duas manchetes de primeira página dos dois principais jornais de São Paulo de hoje são significativas. Na Folha leio que “Lula é investigado por suposta venda de MPs”.
Não há nada contra o ex-presidente na Operação Zelotes, a não ser a desconfiança de um delegado irresponsável.
O que há nessa operação é o envolvimento de grandes empresas e de seus dirigentes em um escândalo de grandes proporções de pagamento de propinas para obterem MPs favoráveis.
No Estado, por sua vez, a manchete é “Compra de sítio foi lavrada no escritório de compadre de Lula”.
Neste caso – o do uso por Lula e sua família de um sítio no qual construtoras se juntaram para realizar obras sem que houvesse pagamento – o caso é mais objetivo. Lula aceitou um presente que não deveria ter aceito.
As contribuições de empresas a campanhas eleitorais (que até a decisão do Supremo eram legais) são afinal presentes.
Mas é impressionante como empresas dão ou tentam dar presentes mesmo a políticos – presentes dos quais elas não esperam nada determinado em troca; fazem parte de suas relações públicas.
Eu sempre me lembro de como tentaram reformar a piscina da casa do Ministro da Fazenda em Brasília quando ocupei esse cargo em 1987. Minha mulher os pôs para correr.
Era o que devia ter feito Lula, que havia acabado de sair do governo. Não o fez, e isto foi um erro político.
A reforma não aumentava seu patrimônio, apenas lhe proporcionava mais conforto. Ele não trocou o reforma do sítio por favores às duas construtoras. Não há nada sobre isto na investigação sobre o sítio.
O Estado brasileiro está revelando capacidade de se defender – de defender o patrimônio público – ao levar adiante as operações Lava Jato e Zelotes.
Dirigentes de empresas, lobistas e políticos envolvidos estão sendo devidamente incriminados e processados. A instituição da delação premiada revelou-se um bom instrumento de moralização. Mas está havendo abusos.
Houve e estão havendo abusos na divulgação de delações sem provas, houve abuso em prisões cautelares ou provisórias quando não havia razão para elas.
E não é razoável o que se está fazendo com Lula. Só um clima de intolerância e de ódio pode explicar o cerco de que está sendo vítima.
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