O Sindicato dos Psicólogos de São Paulo (Sinpsi) e o Conselho Federal de Psicologia (CFP) lamentaram hoje (5) o assassinato do psicólogo e militante em defesa da reforma psiquiátrica e dos direitos dos indígenas Marcus Vinicius de Oliveira, mais conhecido como Marcus Matraga. Seu corpo foi encontrado pela manhã, com um tiro na cabeça, no povoado de Pirajuía, em Jaguaripe (BA).
De acordo com informações do Correio da Bahia, Marcus Matraga foi sequestrado por dois homens armados em sua casa e levado até uma estrada, onde foi morto. A polícia do município investiga o crime e a hipótese de emboscada.
Segundo o investigador Marcos Pinto, dois homens foram até a casa de Matraga, por volta das 19h, dizendo que uma amiga dele passava mal. Um dos suspeitos se identificou como neto da mulher. Ao sair de casa para prestar socorro à amiga, ele foi rendido e levado de carro até uma estrada de terra do povoado. Os criminosos fugiram depois de cometer o crime.
Nascido em Minas Gerais, tinha mestrado em Saúde Pública pela Universidade Federal da Bahia, onde se aposentou mais tarde, como professor, e doutorado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Segundo Ilka Bichara, professora do Instituto de Psicologia da UFBA, o professor foi um dos pioneiros na luta pela reforma antimanicomial e criação dos Centros de Atenção Psicossocial, os Caps.
O corpo do professor foi encaminhado para o Instituto Médico Legal (IML) e de lá para para Belo Horizonte, onde mora a família. Alunos e colegas do professor lamentaram nas redes sociais a morte do professor, que nos últimos anos mediava conflitos de terra entre indígenas e fazendeiros.
O Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, onde Marcus Vinicius foi diretor durante uma década e esteve responsável pela Comissão Nacional de Direitos Humanos, lamentou a morte. “Ele foi uma grande liderança na construção de uma profissão comprometida com a justiça e a igualdade e da sua democratização. Foi também um dos grandes militantes da luta antimanicomial no país”.
Em nota, o Sinpsi lamentou o assassinato, destacando que Matraga foi morto ao defender uma comunidade indígena em um conflito de terras na Bahia, "cumprindo assim seu papel cidadão na luta pelos oprimidos, pelos que sofrem diuturnamente com um genocídio que se iniciou no descobrimento e nunca terminou. Buscava entendimento, alternativas que conduzissem ao diálogo, à convivência".
Ainda segundo o Sinpsi, Marcus foi incansável defensor e trabalhador em prol da saúde mental, da luta antimanicomial, da construção de uma compreensão da loucura sem rótulos, estigmas e discriminações.
Professor aposentado da Universidade Federal da Bahia, onde formou gerações de psicólogos, realizou e participou de importantes pesquisas na área. Atuou em gestões do Conselho Federal de Psicologia.
Com outros companheiros, fundou o movimento Cuidar da Profissão, que trouxe a preocupação e compromisso com os dilemas e problemas da realidade brasileira e de nossa gente. O compromisso social da Psicologia passou a orientar discursos e práticas profissionais e de formação.
Em nota, o Conselho Federal de Psicologia destacou o caráter de Matraga como defensor incansável dos direitos humanos e militante da reforma psiquiátrica e da saúde mental no Brasil. Era entusiasta da Clínica das Psicoses e ferrenho estudioso das desigualdades sociais e subjetividade.
Marcus Vinícius participou ativamente da consolidação da Psicologia no Brasil, tendo integrado o Conselho Federal de Psicologia nas gestões de 1988 – 1989, 1992 – 1995, 1997 – 1998, 1998-2001 e 2004 – 2007. Também esteve em gestões dos conselhos regionais de Minas Gerais e Bahia.
Foi coordenador do Centro de Referências em Políticas Públicas – CREPOP – entre os anos de 2004 e 2007. No Conselho Nacional de Saúde participou da Comissão Nacional de Saúde Mental, como representante do FENTAS – Fórum Nacional de Trabalhadores de Saúde. Foi, ainda, integrante da Comissão Nacional de Reforma Psiquiátrica de 1994 a 1997.
Com informações do Correio da Bahia
Fonte: Rede Brasil Atual
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