quinta-feira, 19 de junho de 2008

VIOLETA ARRAES: MADRINHA DA CASA GRANDE

Faleceu no Rio de Janeiro, na manhã desta terça-feira, 17 de junho de 2008, Dona Violeta Arraes e Alencar Gervaiseu, madrinha e amiga querida da Fundação Casa Grande.
Nossa homenagem veio ainda em vida, com a inauguração do Teatro Violeta Arraes - Engenho de Artes Cênicas, no ano de 2002. No local onde se destacam tantas estrelas, de certo brilhará para sempre a de Dona Violeta, imortalizada em um texto escrito por Caetano Veloso, especialmente para a inauguração, e que reproduzimos abaixo:


Violeta Arraes Gervaiseu

Violeta Arraes tem sido, em suas atividades politicas e culturais, assim como em sua vida pessoal, um modelo de solução dos problemas estéticos, éticos e identitários do homem brasileiro. É que nela o movimento de desprovincianização se dá junto com o aprofundamento da identidade regional. O homem cariri afirma-se como homem brasileiro que, por sua vez, se afirma como homem do mundo.

Entre os últimos anos da década de 1960 e os primeiros da década de 1970, a casa de Violeta em Paris era como que uma embaixada do Brasil profundo na Europa. Os exilados pelo regime militar ali encontravam carinho e ensinamentos. Dos livros, filmes, peças bailes que eram recomendados aos modos a um tempo despojado e elegantíssimo que ela e seu marido Pierre Gervaiseau exibiam, tudo ali contribuía para a regeneração dos espíritos dilacerados pela infelicidade histórica.

Quando, depois da anistia,Violeta voltou ao Brasil, foi seu trabalho na Secretaria de Cultura do estado do Ceará que deu continuidade a esse gesto generoso, ampliando sua envergadura, pois tratava-se de oferecer a mesma acolhida aqueles que estão desde sempre exilados dentro do território nacional: os sertanejos, os esquecidos.

Violeta é uma cearense do Cariri que, ao lado de seu irmão Miguel Arraes, marcou a história de Pernambuco na primeira metade dos anos 1960; conheceu de perto o sofrimento dos primeiros expatriados da ditadura; acompanhou com cuidados maternais a segunda leva de exilados, a de depois de 1968; e voltou para orientar a participação do estado no desenvolvimento cultural da sua região. Em todos esses momentos ela foi um exemplo de dignidade. E segue nos ensinando,com conversas, com gestos,com as roupas que escolhe para vestir - e esperamos que outra vez também com poderes oficiais - como se faz para dignificar o ser cariri, o ser nordestino, o ser brasileiro, o ser humano.

TEXTO ENVIADO A ESTE COLUNISTA PELA ASSESSORIA DE IMPRENSA DA FUNDAÇÃO CASA GRANDE

Nenhum comentário: