Por Renato Casimiro
Com a transmissão de nossas emissoras pela rede mundial de computadores, venho diariamente tentando ouvir, especialmente seus noticiários. Por uma questão de gosto pessoal, sou exigente. E por azar, freqüentemente me encontro com o que há entre o ruim e o péssimo. Há exceções. Estas eu admiro e me fazem bem. O que fazer, nesta hora da busca de uma notícia mais fresca ? Nestas horas, talvez até por saudosismo, vou me lembrando de muitos profissionais que conheci, ou simplesmente ouvi no rádio. Escreviam, produziam, tinham dicção irrepreensível, falavam corretamente a sua própria língua, suas expressões não eram banais e não envelheceram, senão, merecedores de uma admiração que vinha na reciprocidade a este valor profissional que cada um carregava em si. Como lamento que o rádio, literalmente engolido pela Internet de hoje, está falindo em concessões perniciosas, com uma qualidade sofrível, e tendo tudo para superar-se diante do tempo real que lhe favorece. Historicamente, é a nossa empatia, o amor à primeira vista, já exposto magistralmente por Woody Allen, no A Era do Rádio, que vai se perdendo pela falta de competência. O improviso deixa a falsa impressão de um veículo ágil, agressivo e aparentemente único. Até se ouve dizer que o jornal não tem voz; sua voz é o rádio quem confere. Vejam, só. Quando o rádio esbraveja sobre a miséria do dia-a-dia, especialmente na praga dos programas policiais, ele até comove, para embutir a própria fraqueza e o temor a uma estrutura viciada que alimenta a crescente violência urbana. No rádio destes tempos se respira algo falacioso como o hi-tech desta instantaneidade que parece substituir o talento. Mas, é engano. O rádio não se civilizou o suficiente para dispensar a produção, a redação, o profissionalismo que se tenta mascarar por provisionamento interiorano, circunstancial e vitalício, na ausência de academia, substituída por cursinhos de reciclagem de fim de semana, cortesia da corporação sindicalista. Os valores continuam sendo reclamados por nossas aspirações, como ouvintes. Nós o queremos melhor, na opinião e na música, no texto e na voz, na técnica e no artesanato deste fazer radiofônico. Há pouco li sobre a história da Radio Nacional, e aí dados do papel inovador do nosso Lourival de Melo Marques, incansável, a ponto de ter deixado um verdadeiro monumento que contribui para o resgate da memória de páginas tão douradas. Lourival Marques não foi o único valor que saído de uma radiofonia interiorana impressionou e justificou a missão do rádio. Mas se tudo é o espelho desta sociedade, e o rádio não é exceção, o que pensar dos veículos que assumem esta pretensa formação de opinião, como instrumento medíocre do político sem escrúpulos, de um mercado de ilusão consumista, de atrativos de seitas e credos religiosos e dos modismos que não acrescentam nada, ética ou moralmente aos que o sustentam? É necessário pensar a importância do compromisso social deste veículo. Isso nos cabe. Deixar que a iniciativa se perca na encenação do próprio serviço é reduzir a importância do ouvinte como agente desta regulação e do disciplinamento de que tanto o rádio carece. Felizmente, nós temos esta habilidade mínima de saber o que presta ou o que não presta. E devemos fechar o rádio quando ele não presta. Ou ele nos serve, ou não serve para nada.
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