domingo, 19 de fevereiro de 2012

O mago da Sapucaí



Em ano de centenário de nascimento, o normal seria contar a vida de Luiz Gonzaga desde o início lá em Exu, no pé da serra do Araripe, até o estrelato. Se assim fosse, porém, não seria um Carnaval de Paulo Barros. O inventivo carnavalesco da Escola de Samba Unidos da Tijuca, que amanhã, 20, desfila na Marquês de Sapucaí com o enredo “O Dia em Que Toda a Realeza Desembarcou na Avenida para Coroar o Rei Luiz do Sertão”, prendeu-se ao título de nobreza para criar um sem fim de fantasias.

“O desfile será uma grande coroação de Luiz Gonzaga, uma grande festa para comemorar os 100 anos. Os monarcas serão convidados e vocês verão muitos reis na Sapucaí. Luis XV, a Família Real, os Três Reis Magos, Rei Leão, Roberto Carlos e até o rei do pop Michael Jackson estará presente”, adiantou em entrevista recente. “Vou contar a história do meu jeito, com uma roupagem moderna. Luiz Gonzaga será hollywoodiano e teremos muitas surpresas no desfile”, completou.

Com o horário de entrada na Sapucaí marcado para 1 hora e 20 minutos (depois da Estação Primeira de Mangueira e antes da Acadêmicos do Grande Rio), a Tijuca, logo na comissão de frente, coreografada por Rodrigo Nery e Priscila Motta, promete surpreender, como já é de praxe quando o assunto é Paulo Barros.

A comissão de frente, cujas surpresas só serão reveladas amanhã, é marca registrada do carnavalesco, que nos últimos dois anos fez os espectadores prenderem o fôlego. Em 2010 (ano em que Barros e a Tijuca foram campeões), os integrantes da comissão trocaram de roupa como num passe de mágica e ano passado Barros trouxe uma comissão vestida toda de preto, simulando caveiras, cuja coreografia fazia a cabeça se deslocar do corpo, para cima e para baixo.

Costumeiramente chamado de inovador, o carnavalesco já colocou integrantes de cabeça para baixo e tirou a bateria do chão, colocando-a em cima de um carro alegórico. Pelo histórico, é difícil imaginar o que saiu da cabeça de Paulo e estar por vir, mas ele adiantou alguns detalhes. Segundo ele, o terceiro carro, que vai representar o mercado de artesanato, virá com componentes em onze gangorras. A alegoria é toda e tons de barro.

A ideia é que o público seja guiado por um caminho em que será possível conhecer toda a cultura nordestina e todas as inspirações que Luiz Gonzaga cantou ao longo da vida, como o sertão nordestino, o rio São Francisco, as lavadeiras e a festa do vaqueiro. No fim do desfile, o carnavalesco da Tijuca promete coroar o Rei do Baião.

Muitos Carnavais

Apontado como o grande responsável por mudanças e inovações nos Carnavais desde que fez seu primeiro desfile em 2004 no grupo especial, Paulo Barros foi antes comissário de voo por 13 anos, até se decidir pela paixão da vida corrida dos barracões e o brilho da Sapucaí. “Dizem que mudei a história do Carnaval e sempre cobram muito de mim, mas não me preocupo, me ocupo. Faço um Carnaval onde o mais importante é a diversão”, disse.

Barros iniciou sua carreira como carnavalesco em 1995, na Escola de Samba Vizinha Faladeira. Passou pela escola Arranco do Engenho de Dentro entre 1999 e 2001, para voltar à Faladeira em 2002. Naquele ano, fez um desfile que marcou o seu estilo, ao utilizar materiais não convencionais. Em 2003, na escola Paraíso do Tuiuti, homenageou Cândido Portinari por ocasião do centenário de sua morte, que chamou a atenção das escolas do grupo especial. Contratado pela Unidos da Tijuca em 2004 arrematou o primeiro vice-campeonato. Foi logo nesse primeiro desfile que o carnavalesco surpreendeu público e crítica ao levar para a avenida uma alegoria humana – o carro do DNA (a alegoria era formada pela coreografia dos 127 componentes, pintados de azul e foi considerada a criação mais inovadora do Carnaval daquele ano). Depois de passagens por Viradouro e Vila Isabel, voltou è Tijuca para, depois de ganhar estandartes de ouro e ser apontado pela crítica como injustiçado, ser campeão em 2010, com o enredo “É Segredo”.

O carnavalesco é tido, por sua criatividade e polêmica, como o sucessor do mestre Joãosinho Trinta, falecido no final de 2011, com quem trabalhou e de quem era fã. Barros, contudo, vê a comparação com modéstia. “Quem sou eu para hoje me achar sucessor desse homem. Ele revolucionou o Carnaval numa época em que o desfile das escolas estava em decadência”, declarou.

Recentemente, Barros disse como gostaria de ser lembrado daqui a 50 anos: “Alguém que amou o que fez e se dedicou a fazer um Carnaval com alegria para divertir o público”. O certo é que ele já é um capítulo a parte na história do Carnaval do Rio de Janeiro.

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