domingo, 26 de outubro de 2014

Rumo ao futuro

Da Coluna Política, no O POVO deste sábado (25), pelo jornalista Érico Firmo:
A complexidade do que é o Brasil não cabe no maniqueísmo raso das campanhas. A propaganda eleitoral, pobre em conteúdo e simplista na forma, não abarca a análise do que foram as políticas públicas nas duas últimas décadas. O País melhorou nos últimos 20 anos, mas ainda enfrenta problemas dramáticos. Houve acertos louváveis e erros demais. Os avanços não são obra de apenas um grupo político. Os equívocos não partem de um só lado. O Brasil de 1994 era pior que o de 2002. O de 2003 era pior que o de 2014. Entre muitos tropeços e algumas ações bastante corretas, estamos melhores do que já estivemos, mas muito pior do que seria aceitável. Os governos são parecidos em algumas coisas e diferem em outras tantas. Há distinções de focos, prioridades, estilos e métodos. Algumas são complementares. Outras, contradições inconciliáveis.
Em 1994, antes de Fernando Henrique (PSDB) tomar posse, a esperança de vida do brasileiro ao nascer era de 68,1 anos. Em 2002, chegou a 71, conforme o IBGE. Em 2013, essa projeção chegara a 74,8 anos. Em oito anos de gestão do PSDB, o brasileiro passou a ter expectativa de três anos a mais de vida. Em 11 anos sob governos petistas, o aumento é de quase quatro anos.
Em 1993, a taxa de analfabetismo da população com 15 anos ou mais era de 16,4%. Em 2002, ao fim dos oito anos de governo Fernando Henrique, caiu para 11,9%. Em 2013, a taxa havia caído para 8,5%. Ao longo da gestão FHC, a queda foi de 27,4% em oito anos. Na era petista, caiu 28,5% em 11 anos.
A mortalidade infantil, em 1994, era de 38,4 por mil nascidos vivos. Após oito anos de FHC, caiu para 26,04. Em 2013, após 11 anos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff (ambos do PT), caiu para 15,02 por mil. Nos anos tucanos, a queda foi de 32,1%, média de 4% ao ano. Nas gestões petistas, redução de 42,3%, 3,8% ao ano.
O Brasil de 1994 fechou o ano com inflação, pelo IPCA, de 916,46%. Em 2002, havia chegado a 12,53%. Ao fim do governo Lula, em 2010, estava em 5,91%, mesmo índice que terminou no ano passado.
É inegável o papel tucano no fim da hiperinflação – problema nacional de dimensão que as novas gerações têm dificuldade em compreender. Mas houve também atuação decisiva do PT, que manteve patamares inferiores aos da média de todo o segundo governo FHC.
Assim como há méritos de ambos na redução das desigualdades. O chamado índice de Gini, que mede disparidade de renda, era de 0,567 em 1995. Quanto mais próximo de zero, menor a desigualdade. Quanto mais próximo de um, maior a concentração. Em 2002, ao fim do governo FHC, era de 0,561, redução de 1,05%. Quase no fim do governo Lula, em 2009, havia caído para 0,516 (não há dado de 2010). Redução de 8%. Em 2013, caiu para 0,495, queda de 4% em relação a 2009. Há, portanto, trajetória de queda das desigualdades desde FHC. Mas, se o mérito tucano no combate à inflação é maior, petistas foram bem mais importantes na redução das desigualdades.
A diferença não é só partidária. O primeiro governo FHC é muito diferente do segundo. O câmbio é só a mais visível discrepância. Os dois governos de Lula também são bastante distintos nas ações e resultados. E Dilma também tem diferenças bastante significativas em relação à gestão Lula.
O debate não deve se limitar à avaliação pura e simples de quem tem melhores indicadores. O que se espera de todo governo é que faça mais em relação ao anterior. A questão é saber quem avançou mais a partir das bases e dificuldades que encontrou. Nessa perspectiva, a questão fica mais sofisticada e menos simplória.

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