terça-feira, 30 de junho de 2015

Veraneio de Gonzagão saiu do Crato e foi para o Rio de Janeiro

Uma das mais emblemáticas lembranças de Luiz Gonzaga , o Rei do Baião, deixou o Crato com destino ao Centro Municipal Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, localizado na Feira de São Cristóvão no Rio de Janeiro. É uma Veraneio, modelo 1976, que foi comprada numa concessionária de veículos na cidade do Crato.

Com este veiculo, Gonzagão percorreu o Brasil, cantando e encantando por onde passava. Cumpriu a sua vida de viajante, carregando em seus alforjes as tradições nordestinas, a arte sertaneja, cujas raízes continuam plantadas no chão estorricado pelo Sol do Nordeste.

A festa de despedida da Veraneio foi realizada no Largo da Estação Ferroviária do Crato, de onde ele partiu de trem, na década de 20, com 16 anos de idade, para conquistar o mundo com a sua sanfona. Com a Veraneio, foi embora uma das mais significantes relíquias da vida do Rei do Baião. Ao contrário da Asa Branca que volta para casa no ronco do primeiro trovão, a Veraneio ficará definitivamente no Rio de Janeiro, repetindo o gesto do retirante nordestino que deixa sua terra natal em busca de sobrevivência.

Com quase 40 anos de idade, a Veraneio não teve mais condições de se manter em sua terra natal. Ao contrário do cachorro fiel, que permanece ao lado do túmulo de seu dono depois da morte, a Veraneio teve que partir, seguindo o mesmo caminho traçado pelo poeta Patativa do Assaré na música “A Triste Partida” tão bem interpretada por Luiz Gonzaga.

A seca, a crise financeira, a falta de emprego mais uma vez expulsaram para longe o mais precioso bem do publicitário e radialista Luzimar Soares que, com lágrimas nos olhos, entregou o veículo ao jornalista Marcelo Fraga, Diretor do Centro Municipal Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, como quem se vê obrigado a entregar um filho a um amigo para criá‐lo, por absoluta falta de condições de mantê‐lo ao seu lado.

Com a Veraneio, segue o pedaço do Nordeste, do Cariri e do Crato. O que nos conforta é a certeza de que o veículo que transportou o Rei do Baião, leva consigo as mesmas alegrias e tristezas cantadas nas músicas de Luiz Gonzaga e, principalmente, a coragem, a valentia e a resistência de um caboclo nordestino que empurrou de goela abaixo os preconceitos contra uma raça que, como disse o poeta cearense Demócrito Rocha, continua morrendo e resistindo.

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