quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Crônica 01

O índio e a areia



Disse uma amiga que gosta de boas histórias, que em certo lugar da Chapada do Araripe acontece algo que mudou a vida dos moradores de uma vila.

Certo dia tão despretensioso como qualquer outro, bateu uma ventania que inundou o lugarejo com areia por todos os lados. Para qualquer lugar que se virasse, tinha areia, nos rostos, nos pastos, casas, armários , chuveiros e até nos fogões à lenha. E o pior é que por mais que varresse, limpasse, passasse água, pouco depois a areia estava lá, como se alguém a colocasse de volta.

Isso durou dias, até que num início de noite quente, verão de torrar a cabeça e a paciência, tudo sujo, daqueles em que as árvores da chapada ficam imóveis, como quem espera um empurrão, chegou ao lugarejo um índio de olhar misterioso.

Não passou muito tempo, mas ficou uns dias num canto da vila, comendo as sobras, pedindo esmolas e tocando uma flauta feita de madeira, com suas próprias mãos. À noite pedia para dormir na soleira das portas, dizia que protegia a casa melhor que um cachorro doido.

Os dias passaram e as pessoas foram gostando do índio, que passou a ajudar a todos. Como pouco falava, seus olhos diziam muitas coisas boas e ruins e suas palavras eram tão poucas mas tão significativas que pareciam resolver tudo.

Um dia a areai aumentou inundando mais ainda as casas, causando todo pito de transtorno. Mulheres, homens, crianças, velhos, o padre do distrito ,todos alvoroçados. O índio tocou sua flauta durante todo o dia, como se quisesse espantar algo. Dormiu de noite quando todos estavam acordados e sem sono e com raiva.

Quando todos acordaram depois de horas de vigília simplesmente a areia tinha ido embora e o índio junto.

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