quinta-feira, 5 de agosto de 2010
Os jornalistas e as pesquisas eleitorais
Em momentos iguais a este, de aproximação das eleições, veem-se exemplos disso a toda hora. Como saem pesquisas com muita frequência, a imprensa está sempre cheia de matérias que as citam, nas quais se percebe a desinformação de seus autores sobre o que acontece no quartel-general das candidaturas.
Não são todas as campanhas que conseguem, mas todas que podem montam sistemas de acompanhamento dos humores do eleitorado através de pesquisas. À medida que aumenta a importância do cargo em disputa e sobe a capacidade de arrecadação, maior é o arsenal de pesquisas próprias que mandam realizar, para uso de coordenadores e estrategistas.
Faz tempo que as pesquisas quantitativas de intenção de voto se tornaram apenas o pedaço visível desses projetos, pois eles envolvem inúmeros outros levantamentos cujos resultados não são divulgados ou comentados. Ou seja: o que se vê é somente a ponta de um iceberg, cuja parte maior permanece submersa.
No mundo real das campanhas, grande destaque é dado às pesquisas qualitativas, indispensáveis à formulação de estratégias de comunicação. São elas que permitem entender as razões e motivos dos eleitores, por que preferem um candidato em detrimento de outros, o que esperam da eleição, o que não sabem e gostariam de saber dos candidatos.
Os marqueteiros costumam olhá-las com mais interesse que os resultados das quantitativas, cujo objetivo é medir quantos pensam de uma maneira ou de outra, bem como identificar que variações existem entre os segmentos (socioeconômicos ou geográficos) do eleitorado.
As campanhas de Serra e de Dilma estão fazendo pesquisas desde muito antes do lançamento oficial das candidaturas. Seus partidos têm o hábito de pesquisar, possuem institutos que tradicionalmente lhes prestam serviços e contam com especialistas, internos e de fora de seus quadros, para assessorá-los em sua análise. A esta altura do processo eleitoral, já fizeram alguns (muitos) milhares de entrevistas e (várias) dezenas de discussões em grupo, a técnica qualitativa mais empregada.
Ambos têm em mãos longas séries de pesquisas em todo o país, estado por estado, sempre usando questionários mais elaborados e detalhados que aqueles que se veem na imprensa. De agora em diante, na reta final, essa massa de dados vai aumentar exponencialmente.
Além da parafernália de pesquisas próprias, as duas campanhas têm acesso a dezenas de outras, feitas por correligionários e aliados nos estados, por entidades de classe e empresas do setor privado. Não deve haver um só dia em que não chegue aos comitês uma pesquisa nova.
Faz algum sentido imaginar que campanhas assim organizadas e tão bem abastecidas tenham que esperar a divulgação de pesquisas públicas para tomar qualquer decisão relevante? Que as equipes de Serra e Dilma fiquem roendo as unhas na frente da televisão para saber quem está na frente e quem atrás? Que só resolvam o que vão fazer depois de ler no jornal o que disse uma pesquisa?
Pelo que escrevem alguns jornalistas, pareceria que sim. Seus textos dizem coisas como “antes da pesquisa do Ibope, Serra ia fazer….”, “agora com o Datafolha, Dilma decidiu….”, o que equivale a supor que os candidatos foram inteirados de algo pela imprensa. Que o vasto investimento de suas campanhas em pesquisas próprias é inútil, pois o que contaria seriam as pesquisas hípicas (as que mostram quais cavalinhos estão na frente) que todos conhecem.
Nas disputas eleitorais, as pesquisas publicadas são irrelevantes como instrumentos de informação estratégica, pois as campanhas grandes (e seus apoiadores) sabem muitíssimo mais que aquilo que chega à imprensa e ao cidadão comum. O que não quer dizer que sejam irrelevantes na guerra da comunicação, pois estar publicamente na frente é melhor que estar atrás — e isso pode trazer diversas vantagens a quem lidera.
(*) Marcos Coimbra é sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
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