O Ministério Público do Estado do Ceará já tem em mãos e investiga uma denuncia feita pelo vereador Roberto Guedes Araújo (PP), de Araripe, que aponta possíveis irregularidades na contratação de uma construtora para fazer o trabalho de melhorias e recuperações das estradas vicinais do Município.
De acordo com a denuncia protocolada no MP e no TCM (Tribunal de Contas dos Municípios), contra o prefeito Humberto Germano (sem partido), o Município de Araripe “tem contratado através de modalidades outras de licitação a empresa Construtora Cruz e Tenório, de propriedade do senhor Gilmar Tenório, (..) e estranhamente entre os exercícios de 2008, 2009 e 2010, já ganhara para execução de obras no Município de Araripe, o valor aproximado de R$ 566.521,85”.
Para o vereador a construtora Cruz e Tenório, que atua em diversos municípios da região, não possui nenhum equipamento de justifique a denominação de construtora, sobretudo quando se relaciona as inúmeras atuações da mesma junto ao Município de Araripe.
A Cruz e Tenório, não foi contratada pela prefeitura apenas para recuperação de estradas vicinais. A construtora também já construiu um posto de saúde, que inclusive, já foi entregue à prefeitura.
Ainda na denuncia protocolada no MP e TCM, Roberto Guedes, alerta que a empresa não tem nenhum equipamento como pá mecânica, patrol, tratores de esteira ou caminhões caçamba para a realização de serviços em que esses equipamentos são essenciais.
Outro ponto importante é que a empresa funciona em uma pequena sala, no centro de Potengi e não possui nenhuma garagem com nenhum equipamento de grande porte para realização de serviços pesados na área da construção civil.
De acordo com o parlamentar causa estranheza a forma como se contrata a empresa e ele quer apenas uma explicação para deixar as coisas bem claras. “O que temos visto em Araripe é que a prefeitura gasta muito com as estradas e essas estradas estão sempre em péssimas condições de uso” , alerta, lembrando que “nunca vi essa empresa fiscalizar as obras, acompanhar as obras e, tem mais, a patrol da prefeitura trabalha junto com esse maquinário, aí ninguém sabe qual maquinário da prefeitura e qual o maquinário da empresa”, afirma.
O vereador Roberto Guedes avalia que a situação das estradas chama a atenção. No atual momento, segundo ele, foram feitas algumas melhorias. No ano passado, quando foi feita a licitação a situação das estradas vicinais era dramática. “Vários trechos impossíveis de se transitar como a estrada do Brejinho, a do Riacho Grande, a do Pajeu e da Alagoinha”, afirmou.
Guedes acredita que o Município de Araripe precisa instrumentalizar melhor as estradas, fazer melhorias definitivas, muitas estradas precisam ser refeitas, e não serviços que devem ser refeitos constantemente. O vereador defende que o desenvolvimento de Araripe passa pela melhoria das estradas, “e isso não vem sendo feito”, aponta.
Para Roberto Guedes, a sua intenção foi de esclarecer os fatos. “O tribunal vai fazer a sua parte, minha intenção sempre foi a de zelar pelo dinheiro público, afinal, somos fiscais do povo, devemos fiscalizar as ações do Município”,conclui. Para ele, os órgãos de fiscalização devem avaliar melhor essas questões. Ele argumenta que as denuncias foram feitas baseadas em informações e que tudo está nas mãos dos órgãos fiscalizadores.
No tocante à empresa Cruz e Tenório ele afirma que em um seminário que participou sobre gestão pública foram dadas várias orientações. E que quanto às empresas que atuam em vários municípios de uma vez vem acontecendo investigações constantes.
O Ministério Público já solicitou inclusive alguns documentos ao setor de licitação da prefeitura de Araripe. Os documentos já foram repassados, mas até o momento o MP não se pronunciou.
Humberto Germano nega acusações
O prefeito de Araripe, Humberto Germano (sem partido), em entrevista à reportagem do site Miséria negou todas as acusações e denuncias feitas pelo vereador Roberto Guedes. “O vereador Roberto Guedes é tradicional de oposição e ele tem enchido o MP de denuncias que até agora nada foi comprovado”, afirmou.
De acordo com Germano “os processos licitatórios da prefeitura de Araripe estão todos publicados no Portal da Transparência do Tribunal de Contas da União e estão à disposição da Câmara de Vereadores, e de qualquer pessoa da comunidade e do Ministério Público para serem examinadas. Não temos nenhuma preocupação com relação a isso por conta de que as licitações são publicadas no Diário Oficial da União, e convidamos o MP para participar das nossas licitações”.
Para o prefeito de Araripe a empresa Cruz e Tenório apresentou documentos legais exigidos por lei. “Se a empresa tem ou não equipamentos, ela executou porque a lei permite que a empresa possa terceirizar serviços, mas isso não cabe à prefeitura julgar. Se a construtora tem irregularidades não são da nossa competência”, avalia.
De acordo com Germano nos editais publicados para licitações a prefeitura exige fotografias das empresas e o georeferenciamento do endereço da empresa para possível comprovação.
O prefeito disse ainda nesse caso específico da licitação vencida pela Cruz e Tenório não significa dizer que a empresa recebeu todo esse dinheiro. “A gente licita um valor mas gasta aquilo que pode. Nessa licitação por exemplo acredito que a prefeitura não pagou nem a metade”,afirmou.
Construtora Cruz e Tenório já sofre investigação em outros municípios
A empresa Cruz e Tenório vem sendo investigada não apenas em Araripe. No município de Antonina do Norte foi feita uma denuncia formal contra essa mesma empresa, no Ministério Público, acerca da contratação irregular do transporte escolar. Na denuncia se aponta que veículos inadequados viriam fazendo o transporte de crianças e adolescentes colocando em risco a vida dessas pessoas.
O esquema, segundo a denuncia, seria feito em vários municípios cearenses em que o município não compra carros para o serviço. O que seria mais barato aos cofres públicos, mas, quem oferece esses veículos seria uma empresa contratada que contrata os veículos de pessoas com ligações políticas com os prefeitos, em alguns casos até vereadores, como acontece em Antonina do Norte.
Em 2010, a empresa Cruz e Tenório venceu uma licitação e arrecadou R$ 475 mil.
Gilmar: não utilizei máquinas da prefeitura
Em entrevista ao site Miséria o empresário Gilmar Tenório disse que essa denuncia não passa de uma perseguição política. “ O vereador é adversário do prefeito Germano, e o que ele lamenta é que minha construtora não tem capacidade para executar esse serviço. Como uma empresa não pode fazer um serviço e já foi tudo concluído e entregue?”afirma.
Ele diz que nada foi feito de errado. “Acho que o vereador fez isso apenas para atingir o prefeito”. Gilmar Tenório disse ainda que todo o maquinário que ele utilizou foi alugado da empresa J. Carlos Neto, sediada em Araripe. “Eu não utilizei maquinário da prefeitura e o município sabe que tudo foi concluído”. Ele negou que sua empresa esteja sendo investigada mesmo com o processo em andamento e denuncias feitas contra a empresa dele em Antonina do Norte.
Engenheiro diz que serviços foram fiscalizados
O engenheiro Akiro Menezes diz que todas as obras feitas pelas empresas contratadas pela prefeitura foram fiscalizadas. Com relação à empresa não possuir máquinas não torna o trabalho ilegal. “A licitação é feita e toda a documentação é comprovada. Tudo aprovado é legal”, afirma o engenheiro.
Sobre a utilização das máquinas, Akiro afirmou que a prefeitura pagou os serviços da Cruz e Tenório e que a empresa não utilizou nenhum equipamento público, mas sim de sua propriedade ou alugado para executar os serviços a que ela foi contratada. “Toda a parte legal e técnica da licitação está legal”, afirmou.
MPF investiga irregularidades no transporte escolar em Antonina do Norte
A tese do Ministério Público Federal com relação ao transporte escolar em Antonina do Norte é similar ao do vereador Roberto Guedes, em Araripe. De acordo com Guedes, a empresa Cruz e Tenório firmou um compromisso com a prefeitura de Araripe mas não tem como honrar esse compromisso por não ter equipamentos de sua propriedade que possam fazer aos serviços de patrolamento das estradas vicinais.
Em Antonina do Norte, a situação é similar. Para o MPF os veículos utilizados no transporte escolar pela empresa vencedora da licitação, no caso, a Cruz e Tenório, não pertencem à empresa. De acordo com dados apresentados pelo MPF a empresa recebeu verba pela prestação do serviço durante todo o ano de 2010, no entanto, a empresa aluga veículos de vereadores para utilizá-los no transporte público. O MPF diz ter provas de tudo.
Esse tipo de expediente vem se tornando comum e se chama subcontratação. Ou seja, a empresa que vence a licitação não tem estrutura alguma. Mas aluga todos os equipamentos, incluindo veículos de outros e realiza o trabalho para o poder público. Na visão do MP isso é irregular.
site MIséria
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