quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012
A “década perdida” do hard rock
Caro leitor, cara leitora, este artigo aqui tem como tema os piores discos de hard rock dos tenebrosos anos 80, que, mesmo sendo ruins, ainda perdemos tempo escutando-os.
Antes que você tenha a certeza de que estou bêbado, alerto que não bebi. Realmente decidi ouvir outra vez aqueles horríveis, bizarros, asquerosos elepês lançados ao longo daquela década por muitas bandas que andavam por baixo. Tive essa maquiavélica ideia quando, remexendo em minha coleção de discos (atchim!), encontrei (como?!) o fatídico álbum do Kiss Animalize, de 1984.
Mas, antes, vamos ao contexto histórico.
Como houve alterações drásticas no mundo musical no fim dos anos 70, quando o movimento punk perde força, a indústria fonográfica e a imprensa especializada começaram a reparar em novas bandas que circulavam pela cena alternativa. Isso, somado à força da MTV e de seu inovador segmento de videoclipes, acabou dando força para os hards dominarem o circuito.
Bem, o Kiss, ô, ô, ô, ô, ô; ô, ô, ô, ô, ô. Antes de ser xingado, gostaria de esclarecer que sou fã da banda, mas por causa dos trabalhos lançados entre 1974 e 1982. Mesmo Lick it Up (a despeito da capa ridícula), de 1983, contém ótimas canções. Mas esse Animalize, exceção feita às faixas “I,ve Had Enough (Into the Fire)”, o mega hit da MTV “Heaven´s on Fire” e “Under the Gun”, é péssimo, uma tortura (que provavelmente algum “hard farofa” masoquista deva adorar). Entretanto, se fosse escrever somente sobre os desastres do Kiss nos anos 80, estaria sendo cruel e injusto com a banda (mesmo que Hot in the Shade, de 1989, seja o pior trabalho da discografia dos caras, relançou-os com o hit “Forever”, uma balada ao estilo Bon Jovi que foi até parar em novela da Globo). Então, vou atacar outras tranqueiras ;)
Por exemplo, as bandas de hair metal (termo irônico criado pela imprensa norte-americana para designar as bandas que usavam cabelo de “poodle”), como Poison (de Look What the Cat Dragged In, 1986), Cinderella (de Night Songs, 1986) e W.A.S.P. (de W.A.S.P., 1984). Essas bizarrices, por incrível que pareça, faziam sucesso, e vendiam milhões de álbuns. Seriam mais ou menos os “emos” da época: deixavam a música em segundo plano e dedicavam-se primeiro ao visual glam, influenciado por travestis (isso é sério) da cena underground norte-americana da década de 70 e por bandas, como T.Rex e New York Dolls, e o camaleão David Bowie.
Ted Nugent, o excêntrico porém virtuosíssimo guitarrista, também fez trapalhadas em formato de vinil nesta década tenebrosa. Depois de uma sucessão genial de grandes títulos, como Ted Nugent (1971), Free-for-All (1976), Cat Scratch Fever (1977) e o excelente ao vivo Double Live Gonzo! (1978), acabaria lançando um disco pior do que o outro nos anos seguintes, embora suas apresentações continuassem surpreendentes.
Agora, o Aerosmith. Em 1982, já sem Joey Perry – genial guitarrista solo – a banda lança o desastroso Rock in a Hard Place. Embora o elepê tenha emplacado a bacana faixa-título, é o tipo de trabalho que podemos apagar da boa discografia do grupo, que inclui Get Your Wings, de 1974.
A renovação do gênero só viria no fim da década, em 1988. O Guns N’ Roses (que hoje poderíamos chamar de Cachorro Morto), e seu agressivo álbum de estreia, Appetite for Destruction, voltou a dar credibilidade a um subgênero tanto quanto desgastado.
Mas qual é a explicação para o fato de artistas como os citados terem decaído tanto em qualidade musical, após uma década de 70 brilhante? Drogas demais, pressão das gravadoras, crise de criatividade? Tudo isso junto? Bem, não fossem Van Halen e AC/DC, que mudaram de vocalista e continuaram lançando bons trabalhos, e Motorhead, o hard rock dos anos 80 mereceria mesmo ser esquecido.
Por Bruno Barni
Jornalirismo
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