segunda-feira, 11 de junho de 2012

Polícia Civil do Cariri à beira de um colapso

Quatro horas para registrar um Boletim de Ocorrência (B.O), delegacia lotada de pessoas a espera de uma resposta para seu problema. Dezenas de viaturas e policiais parados do lado de fora esperando para resolver procedimentos. Cidades com efetivo policial deslocado para outro município. Nossa equipe de reportagem acompanhou a rotina de um final de semana na Delegacia Regional de Polícia Civil de Juazeiro e pode constatar o caos que se instala a partir da sextas feiras na Regional.

As ocorrências são incontáveis, e de todos os tipos. Só de flagrantes a média é de 15 por plantão de 24 horas. Enquanto uns correm, outros esperam sentados sem nada poder fazer. Moradores de cidades distantes como Campos Sales, Barro, que precisam registrar um simples B.O tem que deslocar-se até Juazeiro. E as horas passadas em uma fila de espera muitas vezes ainda não garantem o devido atendimento. Pois, por conta da situação o horário para realização de B.Os foi limitado de sete às 18 horas.

São mais de 20 municípios atendidos por uma única delegacia. Uma população de cerca de 700 mil pessoas. Essa é a demanda pela qual fica responsável a Delegacia de Juazeiro durante todas as noites, finais de semana, e feriados, períodos mais críticos de violência e criminalidade. Todos os dias depois das 18 horas as ocorrências da região são encaminhadas para Juazeiro que conta com uma equipe plantonista composta apenas por um delegado, um escrivão e dois inspetores. Isso ocorre porque a delegacia do Crato, que também é uma regional, responsável por 11 municípios não dispõe de plantões há mais de dois anos. De acordo com o inspetor Glêdson Bezerra “as celas da Delegacia nos finais de semana ficam superlotadas com presos das cidades de Crato, Juazeiro e Barbalha, sacrificando a equipe de trabalho da Polícia Civil”.

O inspetor, que também é vereador aproveitou para reclamar a situação na Câmara, e encaminhar ofícios às mais diversas autoridades estaduais para que o problema seja solucionado o mais breve possível. Também será realizada uma audiência pública para discutir o problema, que considera ter chegado ao fundo do poço.

Durante o tempo que a reportagem passou acompanhando os serviços na DP pode se constatar a unanimidade de opinião. Como está não pode ficar, os servidores estão à beira de um colapso. E a população cansada da insegurança e revoltada com a demora. Uma mulher que havia tido a carteira furtada há poucas horas. Ela explicou que ao chegar a delegacia não havia como fazer o Boletim de Ocorrência dela. “O recepcionista sugeriu que eu fizesse o B.O. pela internet, mas eu vou ter que colocar como se eu tivesse perdido a carteira, pois na internet só permite fazer B.O. por perda” diz M.L.B.S., de 37 anos, que está na região a trabalho e preferiu ter o nome preservado.

O comerciante Emanuel Aquino considera absurdo ter que sair do município de origem para prestar queixa em outra cidade. “Acho absurdo o que estou passando. Além de ter sofrido um abuso pela falta de segurança, ainda tenho que viajar e passar horas para conseguir o mínimo, que é registrar a ocorrência”, desabafa Emanuel Aquino, reconhecendo que dificilmente será investigado, e recuperará seu bem furtado, pois segundo ele a situação é precária. “Aqui, a gente vê dois policiais na delegacia para atender uma região inteira, não tem como dar conta”, reclama.

Toda a demanda da Delegacia de Mulheres também fica por conta da Regional durante os períodos já citados. Com toda essa demanda, os serviços de Polícia Judiciária ficam prejudicados.

Agravante IML

“É muito comum parentes e amigos de vítimas de acidentes de trânsito e homicídios esperarem horas para receberem uma guia de exame cadavérico, a fim de liberarem um corpo no instituto Médico Legal (IML), ressalta Glêdson. E de acordo com os policiais que acompanham as pessoas ao IML, lá os serviços só funcionam até às 22 horas. Ocorrências a partir deste horário só serão procedidas no dia seguinte, quando retorna o médico legista.

Jornal do Cariri

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