terça-feira, 4 de agosto de 2015

João Nogueira Jucá - herói e 1º Bombeiro Honorário do Ceará

Na tradicional Praça da Lagoinha, no Centro de Fortaleza, muitas pessoas passam pelo busto de um jovem. Os mais antigos lembram com orgulho da sua história. "Esse aí foi um herói" é uma das frases mais ouvidas daqueles que relembram o seu feito. Trata-se da eternização de um gesto de coragem e amor ao próximo de João Nogueira Jucá que, aos 17 anos, se sacrificou para salvar diversas vidas, ato que valeu a ele o reconhecimento com os títulos de "Herói do Ceará", "1º Bombeiro Honorário do Corpo de Bombeiros do Estado do Ceará", "Membro Honorário da Associação dos Ex-Alunos do Estado do Ceará" e "Patrono da Campanha Contra a Pena de Morte do Ceará".

O fatídico episódio aconteceu no dia 4 de agosto de 1959. A explosão de um depósito de éter levou pânico aos pacientes, funcionários e visitantes da Casa de Saúde Dr. César Cals. Os vidros das janelas foram quebrados e o fogo em altas chamas foi queimando os móveis, atingindo outras dependências do hospital. Os doentes que se encontravam em leitos corriam de um lado para o outro e alguns tratavam de socorrer os que se encontravam em estado mais crítico. Momentos depois, chegavam os primeiros socorros, tanto do Corpo de Bombeiros Militar do Ceará, como das demais casas de saúde de Fortaleza. A enfermeira Raimunda Parente faleceu na Assistência Municipal, enquanto dezenas de pessoas foram vitimadas pelo incêndio.

Mas foi um jovem adolescente quem se tornou o protagonista daquele dia. Ao voltar da aula no Colégio São João, João Nogueira Jucá deparou-se com o incêndio. Imediatamente tratou de socorrer diversas vítimas, arriscando a própria vida. João sofreu gravíssimas queimaduras no corpo, vindo a falecer no dia 11 de agosto de 1959, Dia do Estudante. O Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará, reconhecendo a coragem do jovem, homenageou-o com o título de Bombeiro Voluntário e obteve, junto ao Governo do Estado, a instituição da Medalha de Bravura João Nogueira Jucá, insígnia criada para agraciar aos que tenham se destacado pela prática de atos heroicos.

A coragem de João Nogueira é vista com admiração para todos que conhecem a história. E quem o conhecia, o orgulho é ainda maior. É o caso da aposentada Tereza Ponte Jucá, viúva do Dr. José Jucá Neto, irmão de João e que retratou o seu feito no livro "Herói e Mártir". "Ele era um rapaz amigo e, diante da catástrofe, não mediu sacrifício. Para mim, mais do que um herói ele é um santo. Ele não pensou nas consequências e salvou muita gente. É uma alegria que o Corpo de Bombeiros nunca o tenha esquecido. Isso é importante para estimular que os jovens a terem uma vida melhor. Não tem a necessidade de perder a vida, mas fazer o bem", diz ela.

Segundo Tereza, o instinto solitário sempre foi uma característica forte de João, lembrando que ele não se mostrou arrependido do que fez mesmo quando estava na UTI por sete dias, entre a vida e a morte. "Quando estávamos de férias, lembro uma vez em que uma idosa caiu em uma cacimba, os bombeiros a salvaram, e ele falou para o pai que com certeza a resgataria se fosse preciso. Ele queria ser marinheiro, muitas vezes falava como se tivesse se dirigindo a algum capitão. O pai e a mãe dele ficaram do lado dele quando estava internado. Ele dizia que doía como uma brasa. E quando perguntaram se ele se arrependia do que fez ele disse que não, disse que faria tudo de novo", conta.

Luiz Carlos Barbosa Nanan, amigo de colégio de João, também lembra com emoção do dia 4 de agosto de 1959. "Lembro quando o diretor do colégio São João, o Dr. Braveza, um homem dedicado à educação, veio anunciar a tragédia. Todos ficaram emocionados. Ele era um rapaz alegre, extrovertido, gostava de esportes. O João demonstrou desprendimento, bravura, amor ao próximo salvando pessoas que ele nem conhecia. Todo mundo se comove com essa história. Até quem não o conhecia, chora", diz ele. "Ele é o protetor desse hospital. Desde então, nada mais aconteceu. Ele era um bombeiro. Talvez nem soubesse, mas era", completa Luiz.

O legado do estudante é forte, tanto que todo dia 11 de agosto de cada ano, uma missa em sua homenagem é realizada na capela do Hospital Geral Dr. César Cals. Para a capitã do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará, Juliany Freire, João é um exemplo dentro da corporação mediante os perigos enfrentados diariamente na profissão. "A história dele serve de inspiração para todos nós bombeiros, tanto que a nossa medalha de bravura leva o nome dele, medalha que é uma das mais difíceis de ser conquistada. No dia 11 de agosto também é comemorado o Dia do Estudante e nós buscamos trazer os alunos do Colégio Militar do Corpo Bombeiros para envolvê-los nesse história, pois é importante que a gente cultue boas histórias para que esses bons exemplos sejam disseminados. Precisamos muito hoje em dia de atos de bondade e coragem", diz ela.

Nenhum comentário: