terça-feira, 9 de agosto de 2016

O amor que muda o mundo, documentário que alerta sobre a violência que atinge mulheres




Erbênia de Sousa é enfática quando fala sobre a diversidade de agressões que mulheres sofrem cotidianamente. “Nós estamos em um País e em uma região muito marcados pela violência doméstica”, resume. Mas não é apenas a violência doméstica que se faz forte e rasga o dia a dia de tantas mulheres Ceará afora. Lutas marcam o cotidiano destas pessoas, que enfrentam exclusão econômica e social, atravessam os meandros da seca e se misturam ao machismo arraigado nas terras áridas do Ceará. Para além das dificuldades enfrentadas, as histórias de superação e de transformação rebentam no Estado. E o cotidiano de Erbênia, como coordenadora da Cáritas Diocesiana de Crateús, é de identificar as violências e fazer com que as mulheres virem protagonistas das reviravoltas. Das muitas reviravoltas.


Histórias enfrentadas por ela, por Maria da Penha, por Aurilene, por Aurinélia e tantas outras mulheres são contadas no documentário italiano Mothers - L’amore che cambia il mondo (Mães - O amor que muda o mundo). O filme terá sessão exclusiva no Cineteatro São Luiz às 18h30min de hoje, com entrada gratuita. Ele será exibido dois dias depois de a Lei Maria da Penha completar 10 anos desde que foi sancionada, em sete de agosto de 2006. Para a noite de estreia, as mulheres que deram seus depoimentos foram convidadas e estarão na plateia do Cineteatro, assistindo, pela primeira vez, o documentário todo montado. Muitas delas, nunca estiveram em uma sala de cinema.


O filme, do premiado fotógrafo italiano Fabio Lovino, traz narrativas de cearenses e outras brasileiras, mas também de pessoas que ele encontrou em viagens feitas por países como Itália, Benin, Camboja e Nepal. Todas têm algo em comum: são mobilizadoras, agentes de mudanças sociais que acontecem em suas comunidades e são irradiadas para outros espaços. No Brasil, Erbênia foi uma das pessoas que ajudaram a produção do documentário a mapear os locais onde há comunidades e mulheres que guardam histórias de luta e superação. “No filme, a maioria dessas pessoas conta fatos que a gente facilmente pode identificar violência recorrente. Mas há uma naturalização disso tudo, de que mulher é para obedecer, de que briga é coisa de casal”, relata Erbênia.


Muitas destas mulheres nem viram estatísticas, porque não denunciam. Elas sabem que tem algo de errado, mas acham que é normal. Conforme O POVO publicou no último dia cinco, uma média de oito mulheres são vítimas de violência doméstica todos os dias e, de 2008 até julho deste ano, 24.855 mulheres sofreram algum tipo de violência doméstica no Ceará. “Muitas já começam a ter a noção e o sentimento de que é preciso destruir essa ideia de naturalização. A desconstrução é importante, é um passo para a reconstrução”, observa a coordenadora da Cáritas.

- Jornal O Povo

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