A redução da fome pelos países em desenvolvimento é objetivo há muito propugnado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Seus relatórios anuais projetam avanços significativos, remanescendo o agravamento do problema apenas em poucas nações que claudicam nas soluções.
Especificamente, no último documento da FAO sobre segurança alimentar no mundo, divulgado neste ano, o Brasil está excluído do mapa da fome em escala mundial. Pelos últimos registros estatísticos, o fenômeno afeta 1,7% da população brasileira que se considera em condição de insegurança alimentar. Este fato ocorre quando a família não sabe se terá refeição no dia seguinte.
No passado, a fome se caracterizava no País como problema endêmico. Em primeiro lugar, pela carência de renda para garantir a ração diária, tanto das famílias situadas abaixo da linha da pobreza como dos desempregados e trabalhadores temporários.
O segundo fator se referia à qualidade do alimento consumido por essas camadas necessitadas, geralmente, de baixo teor nutritivo. Por último, o subemprego histórico predominava em vastas regiões geoeconômicas, onde há carência de abertura de postos de trabalho e de qualificação de mão de obra. Todos esses fatores justificaram a preocupação do governo brasileiro em reverter esses quadros deficitários, procurando meios para garantir a ração básica.
Os primeiros instrumentos para efetivar esse programa foram as redes de restaurantes populares nos polos industriais, mantidas pelo antigo Serviço de Alimentação da Previdência Social. Outra saída foi o tabelamento de preços dos produtos das cestas de alimentos básicos, acessíveis aos rendimentos dos trabalhadores. O último benefício adicional aos trabalhadores foi o vale-refeição.
Consequência dessa diretriz governamental foi a projeção adquirida pelo País, no âmbito das organizações internacionais voltadas para a alimentação e a agricultura, durante as décadas de 40, 50 e 60. Entre seus efeitos, o mais expressivo foi o convite formulado ao médico brasileiro Josué de Castro, especializado em alimentação e nutrição, para conduzir esse projeto em nível mundial. O pesquisador brasileiro havia realçado essa problemática tanto com seu trabalho de gestor, bem assim, com a publicação dos estudos condensados no livro "Geografia da Fome". Concluído seu mandato internacional, ele voltou ao Brasil para atuar no plano político.
A FAO assinala a trajetória brasileira no combate à fome por etapas. Ao analisar os últimos 22 anos de esforços, ela destaca que o Brasil teve a redução de 84,7%, classificada como a maior do mundo no período. Seu avanço inicial operou-se entre 1990-1992. Depois, veio outro triênio, 2000-2002, registrando a redução no número de pessoas subalimentadas. No primeiro período, o esforço contemplou 3,5 milhões de pessoas; no segundo, 15,6 milhões. Entre 2001 e 2012, foi diminuído em 75% o número de pessoas vivendo na pobreza extrema.
Deve ficar bem esclarecido, no entanto, que ainda existe muita gente que passa fome no Brasil. São cerca de 3,4 milhões de pessoas famintas e os desafios da área social persistem. O que está superada é a denominada "fome estrutural", que ocorre quando ela alcança 2% do contingente populacional.
Dessa forma, mostra-se imperiosa a continuidade do plano nacional de combate à fome, baseado no aumento da oferta de trabalho, na correção do salário mínimo e na redistribuição de renda.
Diário do Nordeste
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