As obras de reforma da Praça Siqueira Campos, no Centro do Crato, provocam os primeiros abalos entre o prefeito Samuel Araripe (PSDB) e o deputado estadual Ely Aguiar (PSDC). A briga de bastidores tem gerado divergências porque as obras são questionadas não apenas pelo seu valor, mas, também, pela sua estética. O que deveria ser um cartão-postal da cidade foi transformado em um monstrengo, com a sua beleza destruída por uma reforma mal executada. As obras, no valor de R$ 96.000,00, foram realizadas com recursos de uma emenda parlamentar apresentada ao Governo do Estado pelo deputado Ely Aguiar, mas a licitação, para contratação da empresa, ficou com a Prefeitura do Crato.
Reinaugurada no dia 29 de setembro - cinco dias antes das eleições municipais, a praça virou pomo de discórdia: após as críticas de populares e pessoas que, diariamente, passam pela Praça Siqueira Campos, as cobranças sobre o valor da obra foram ampliadas pelo ex-deputado estadual e empresário Jairo Sampaio. Ely Aguiar se defendeu, disse que conseguiu os recursos e que não tinha indicado a empresa Proserv, que fez a reforma e que a licitação foi conduzida pela Prefeitura. Com essa posição, Ely transferiu o desgaste para a Prefeitura, o que inquietou o prefeito Samuel Araripe. Samuel não gostou das declarações do deputado com quem dividiu o palanque nas últimas eleições.
As divergências entre ambos estão nos bastidores, mas ganham corpo e podem levá-los ao rompimento. Como a Prefeitura realizou a licitação para reforma da Praça Siqueira Campos, Samuel alegou que segurou a liberação de parte dos recursos após as críticas e questionamentos surgidos sobre a obra. Ely se queixou dessa decisão de Samuel. A briga ficou ainda mais evidente após o ex-deputado estadual Jairo Sampaio, em entrevista à Rádio Araripe e ao Jornal do Cariri (edição de 06 de janeiro último) revelar que recebeu um cheque no valor de R$ 5.000,00, emitido pela Construtora Proserv, referente a venda de refeições para os operários que trabalharam na reforma, e, ao tentar trocar o cheque em uma agência bancária, não conseguiu porque não havia fundos.
As críticas manifestadas pelo ex-deputado estadual Jairo Sampaio criaram fissuras na relação entre Samuel Araripe e o deputado Ely Aguiar porque as investigações sobre a reforma da Praça Siqueira Campos - de tão questionada por populares, pode chegar ao Ministério Público Estadual. Com menos de 15 dias no exercício do segundo mandato, o prefeito Samuel Araripe administra esse conflito e, também, a insatisfação dos ex-prefeitos Ariovaldo Carvalho e José Adega. Ariovaldo e Adega se queixam de que Samuel Araripe não honrou os compromissos assumidos durante a campanha eleitoral para serem cumpridos a partir do dia primeiro de janeiro de 2009, com o Partido da República (PR). As principais lideranças do PR, irão se reunir nesta semana e decidir a posição oficial da legenda sobre o prefeito Samuel Araripe e o fato do atual prefeito não ter cumprido acordos políticos feitos com a legenda, e que garantiu sua reeleição. Nos bastidores lideranças do PR dizem abertamente que, se Samuel não voltar atrás e honrar sua palavra, haverá um rompimento político.
Para arquiteto, reforma destruiu cartão-postal
O arquiteto Waldemar Arraes Filho, autor do livro “Crato – Evolução Urbana e Arquitetura – 1740-1960”, considerado um dos especialistas no assunto, em contato com a reportagem do JC, afirmou que a reforma deixou a praça inutilizada. “A praça está horrível. Já estava ruim, mas agora ficou pior. A praça ficou inutilizada, com pouco sombreamento, teve perda de árvores e eles podaram muito. Da forma que está lá, está deplorável. É um desrespeito com a cidade, descaracterizou a praça. Aqui na cidade as coisas acontecem muitas vezes sem critério”, avaliou.
Uma das formas de se acabar com a destruição do patrimônio arquitetônico da cidade, de acordo com Waldemar é a realização de concursos públicos de arquitetura, quando se for mexer em algum equipamento ou espaço urbano da cidade. “O concurso tem a vantagem de premiar o arquiteto competente e não aquele que é amigo de um político”, avalia Waldemar, apontando o critério da impessoalidade na contratação de profissionais que, ao transformar um espaço público, faça dentro de critérios estabelecidos e de conhecimento de todos.
O arquiteto aponta que a construtora não teve respeito com a cidade, não levou em consideração a história do Crato. “Muitos materiais utilizados na reforma são de categoria inferior, como a pedra cariri e o granito, que poderia ter sido melhor utilizado” avaliou Waldemar, lembrando que o piso com pedra cariri fica escorregadio e mais feio. “O piso de mosaico de cimento era muito mais resistente e antiderrapante, era um piso característico da cidade do Crato. A pedra cariri colocada é inadequada, quando chover vai ficar lisa, ninguém vai poder correr em cima da praça, pois pode levar uma queda”, disse.
Waldemar lembra que a Praça Siqueira Campos tem uma história antiga. “Antes, ali era uma igreja, a Igreja de São Vicente, que foi demolida em 1913 por Siqueira Campos para fazer a praça. Desde então, ela passou por sucessivas reformas, sempre para pior. Teve reforma nas décadas de 50, 60 e 70 do século passado. Em 50, era uma praça bonita, bem tratada, tinha um coreto. Tenho fotos dessa praça na década de 30 e era bonita” diz Waldemar com saudosismo, ao mesmo tempo, afirmando que essa última reforma foi a pior. “Foi feita em função da modernidade. Há tanta coisa para ser explorada ali, e eles fazem aquela praça sem graça. O relógio que colocaram lá faz é vergonha. Relógio de R$1,00, R$1,99 [risos]. Foi uma brincadeira com a cidade, é achar que a população é burra”, concluiu.
O que você acha da reforma ?
Reforma medíocre
“A expectativa da comunidade é que quando se cerca um determinado logradouro público com o objetivo de fazer uma mudança, e quando se cai os tapumes, que surja uma coisa nova, mas, pelo que estamos vendo, infelizmente foi feita uma remodelação medíocre da praça. Não se concebe que uma praça que receba um piso novo, seja pior do que o velho, envernizem os bancos, as árvores continuam sendo mal tratadas. Tenho a impressão de que, quando o povo diz, o povo sabe. A praça foi inclusive reformada num período inadequado.”
Professor Cavalcanti
Pré-reitor de Assuntos Estudantis da URCA e militante do Partido Verde (PV)
Não gostei
“Eu não gostei da reforma. A reforma mudou os bancos, o piso ficou de pior qualidade. Derrubaram uma árvore, depois podaram as outras , e o que acabou diminuindo a sombra na praça. Os postes foram trocados, os atuais tem pior qualidade. Não achei essa reforma boa não”.
Brás Lima
Taxista
Mais feia
“A reforma da praça não foi boa, pois mudou para pior. A praça antes era bem melhor, tinha mais sombra, era mais bonita. A reforma, a olhos vistos, deixou a praça bem mais feia”
Francisco Bezerra
Taxista
Novo piso
“Minha opinião é clara, acho que não deveriam ter mudado o piso, deveriam voltar o piso que era. Não achei nada demais na praça, acho que só o piso que foi errado. Não gosto de coisas sofisticadas, que só dão despesas. A reforma da praça foi normal, não gera muita coisa para o Crato não, nem turismo, nem desenvolvimento. Só alerto para o piso que achei mal feito”.
Pedro Esmeraldo
Aposentado
Nenhum comentário:
Postar um comentário