Dezembro de 2010. Prestes a estrear seu segundo governo, Cid Gomes define seu novo secretariado. Para a pasta da Cultura, tira o petista Auto Filho e nomeia seu antigo vice, Francisco Pinheiro, também do PT. Fevereiro de 2011. Deputado estadual eleito, Pinheiro se afasta da Secult para regularizar sua situação no parlamento. Quem assume interinamente é a secretária-adjunta, Maninha Morais. Junho de 2011. Depois de garantir em definitivo sua vaga na Assembleia Legislativa, ele retoma o posto de secretário da Cultura. Agosto de 2011. Governo do Estado publica nomeação oficial de Pinheiro na Secult. Junho de 2012. Mais uma vez, Pinheiro deixa o cargo de secretário para reocupar o de deputado. Em seu lugar, assume o ex-líder do governo na Assembleia e também petista, Antônio Carlos, conforme O POVO publicou ontem com exclusividade.
Embora fosse especulada desde o fim de semana, a mudança de comando da Secult pegou boa parte dos artistas e produtores culturais de surpresa. A presidente da Associação de Bailarinos, Coreógrafos e Professores de Dança (ProDança), Graça Martins, disse que esteve reunida na manhã da última terça, 5, com o professor Francisco Pinheiro. “Ele disse que iria tirar 30 dias de licença, mas que depois retornaria. E perguntei: ‘Mas o senhor retorna para a pasta, secretário?’. E ele disse que sim. No outro dia, quando abro o jornal, vi a notícia de que o Antônio Carlos iria assumir a Secult. É uma palhaçada! Estão brincando de fazer cultura”, disparou.
“Primeiro, gostaria de entender quem é Antônio Carlos. Uma figura que não me parece ter muita entrada no setor da cultura, assim como Pinheiro, que começou torto e saiu esquisito e nunca compreendeu a dinâmica dos trabalhos na cultura. Sei que ele é deputado e líder da Assembleia, mas isso diz pouco. Não entendo porque a Secult não tem em seu comando um gestor técnico. Já que não é a secretaria ‘menina dos olhos’ do Governo e politicamente não parece ser tão estratégica, poderia receber um gestor experiente em gestão cultural e não um político”, avalia o produtor cultural Rodrigo de Oliveira, do Coletivo Tembiú e do Estúdio Pã.
Boa parte das críticas dedicadas à condução da Secult deve-se ao fato de ela vir sendo gerida por pessoas pouco íntimas do assunto. O próprio deputado Antônio Carlos reconheceu o fato em seu primeiro discurso na Assembleia Legislativa como titular da Cultura, realizado na manhã de ontem, 6. “Apesar da pouca compreensão do tema, posso dar minha contribuição”, sustentou.
“Na verdade, o governador me convidou para a Secretaria e deixou claro que era um situação de interinidade. Só até o desatar desse nó político”, antecipa Antônio Carlos, em entrevista por telefone. Leia-se: o nó é a definição do candidato que Cid Gomes deve apoiar nas próximas eleições para prefeito de Fortaleza. Apesar disso, ele afirma que ficou lisonjeado e que pretende aproveitar ao máximo a oportunidade. “Tenho acompanhado essas críticas que têm sido feitas ao Dragão do Mar e pretendo dar minha contribuição para que se avance nesse ponto. Também é um dever de ofício fazer uma grande homenagem ao Chico Anísio. Tudo o que foi feito até agora é muito pouco diante da dimensão do Chico”, declarou.
Para dar coerência à sua gestão, Antônio Carlos pretende agendar uma conversa com os outros ex-secretários da Cultura do governo Cid Gomes. São eles: Auto Filho e Pinheiro. Também está nos seus planos uma aproximação com a classe artística para que todos possam contribuir da forma que for possível. “Tenho uma visão de que cultura quanto mais livre e menos estatal, melhor. É a manifestação do povo mesmo. Acho que o que o Estado deve é dar apoio, sem interferência. Articular mesmo”, resume.
Formado em Filosofia pela Universidade Estadual, Antônio Carlos se defende das críticas sobre o desconhecimento da área cultural dizendo: “Todo ser humano inserido na vida do Estado tem alguma relação com a cultura. Minha relação não é profissional, mas é política”. Professor de história e filosofia, radialista e comentarista esportivo, ele ainda acrescenta que ao longo da vida política pode “se aproximar desse segmento de uma forma efetiva”. E é com essa experiência que ele já pretende ir preparando o Estado para chegada dos dois grandes eventos esportivos que estão chegando, a Copa das Confederações e a Copa do Mundo. “São coisas grandiosas para um período que pode ser curto”, reflete. (colaboraram Elisa Parente e Magela Lima)
jornal O Povo
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