quinta-feira, 7 de julho de 2016

Pessoas capazes de espancar até a morte alguém por conta da sua orientação sexual não podem viver em sociedade

Estou chocado com o assassinato de Diego Vieira Machado, estudante de arquitetura e urbanismo da UFRJ, que foi encontrado morto a pauladas dentro do campus da Universidade. Diego, que era estudante cotista, negro e gay, foi encontrado brutalmente agredido e sem as calças próximo a um córrego na Ilha do Fundão.
Não havia me posicionado até agora porque estava, junto com minha equipe, em busca de mais informações precisas, seguras e confiáveis sobre o crime. Nesses horas, em nome da justiça e da boa informação, é importante que tenhamos cuidado. Aproveito para dizer que me solidarizo com os familiares e amigos e amigas da vítima.
Pairam sobre o caso fortes suspeitas de crime motivado ou potencializado por homofobia. Além do detalhe marcante de ter sido encontrado sem a calça, que indica que o crime tinha mais do que a motivação ocasional, estudantes no alojamento denunciaram nos últimos dias o recebimento de emails com ameaças contra alunos LGBT’s e negros. A mensagem dizia claramente “sabemos quem são vocês” e “queremos vocês fora daqui”.
Havia também uma ameaça velada a um estudante, que se suspeita fortemente que seja Diego. Depois do episódio, pichações homofóbicas foram feitas em um dos banheiros da instituição, no campus da Praia Vermelha. Em tinta preta, foi escrita a mensagem “Morte aos gays da UFRJ”, substituída por artes de apoio à diversidade pintadas por alunas da própria UFRJ pouco antes do assassinato.
Através de minha assessoria, já entramos em contato com o Ministério Público estadual, a fim de obter uma resposta sobre um inquérito para investigar o caso. Eles prometeram atuar no caso e apurar os responsáveis. Estaremos vigilantes sobre isso. Essa violência bárbara, mais este episódio chocante, não pode ficar impune. Pessoas capazes de espancar até a morte alguém por conta da sua orientação sexual não podem conviver em sociedade.
Não nos é estranho que a situação na UFRJ seja muito similar ao último ataque fascista na UNB, orquestrado e anunciado publicamente no Facebook por grupos ligados à extrema-direita. Com bombas e até armas de choque, tais criminosos ameaçaram estudantes e professores com discursos de ódio contra a esquerda e minorias políticas.
Em outro caso ocorrido recentemente, em Minas Gerais, o estudante André Felipe Colares foi encontrado morto em festa da faculdade de medicina da Unimontes, despido, com o pescoço perfurado e olhos furados com palitos.
Portanto, temos que compreender esses fatos, inclusive a morte bárbara e cruel de Diego, dentro do amplo contexto da violência LGTBfóbica no país, e trabalhar já para reverter esse quadro inaceitável. Devemos nos unir contra a disseminação do ódio assim como contra aqueles que cometem crimes motivados por estes preconceitos.
Publicado no Facebook de Jean Wyllys.

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