domingo, 31 de julho de 2016

Temer e a ditadura do parlamento



O golpe que se propõe a destituir a presidente Dilma Rousseff (PT) é o início de uma espécie de ditadura do parlamento, onde os próximos presidentes, inclusive o interino, Michel Temer (PMDB), tornar-se-ão reféns dos interesses de deputados e senadores.

O próprio Temer conspira para instituir um parlamentarismo a fórceps ao declarar que o processo de afastamento de Dilma é político muito mais do que jurídico. A assertiva envia um sinal contundente de que, a partir de agora, o Congresso Nacional terá o controle da República, à revelia do desejo expresso pelo povo nas urnas ao votar no presidente: não cativou a base parlamentar, recorre-se irremediavelmente ao impedimento.

O cenário se apresenta ainda mais grave com a constatação de que o líder máximo da nação terá de se submeter aos interesses fisiológicos e clientelistas do Centrão, grupo hoje formado por metade dos deputados federais, muitos envolvidos em denúncias de corrupção, e que possui forte senso corporativo em torno de interesses próprios.

"Eu penso que o Senado vai avaliar as condições políticas de quem está hoje no exercício e de quem esteve no exercício da Presidência até um certo período", disse Temer, um suposto constitucionalista, agora inebriado pela conveniência.

Uma conveniência, aliás, que cega à quase unanimidade de líderes tucanos, socialistas e cristãos até então aclamados democratas. Só isso pode explicar – embora não absolva, destaque-se – o apoio de figuras como Fernando Henrique Cardoso, Cristovam Buarque, Roberto Freire e demais a esse golpe que ameaça uma jovem democracia, que não conseguiu sequer chegar aos 30 anos a partir de seu restabelecimento, em 1989, com a eleição de Fernando Collor de Melo.

- Brasil 247

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