segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

URCA: QUEM TEM PODERES PARA DECIDIR O FIM DA GREVE? COM A PALAVRA O MAGNÍFICO REITOR...

Li, entre estarrecida e indignada, uma nota da lavra da Reitoria da URCA publicada no seu sítio na internet, com data de 11/01/2008, onde se anuncia o fim da greve da URCA e o reinício das atividades letivas em 21 de janeiro fluente.
Perplexa e intrigada, constatei, dentre outros absurdos, que a tal nota justificava a referida convocação, “em face da notificação do resultado da Assembléia do SINDURCA, realizada em 10 do corrente”, que supostamente autorizaria a Reitoria vir a público “comunicar que as atividades letivas da URCA serão reiniciadas em 21 de janeiro próximo, uma vez que a categoria dos doscentes (SIC) decidiu suspender a greve e retomar as negociações com o Governo do Estado.”
Além do grosseiro erro de português supra destacado, imperdoável para uma Instituição de Ensino Superior, que aliás depõe contra seu dirigente maior e todos os seus auxiliares, mormente aqueles ditos experts na área de Letras, o texto em questão afirma que a conclamação para o retorno às aulas decorre também do “respeito à decisão soberana da Assembléia do Sindicato dos Doscentes”. (SIC)
Imediatamente, e com o fito de conhecer a verdade, uma vez que me causou desconfiança o teor daquilo que eu acabara de ler, procurei saber dos colegas professores, mormente dos líderes sindicais, o que, de fato, estava se passando, pois precisava confirmar se havia procedência no que a nota sugeria ou se estaríamos diante de um duplo golpe: um perpetrado contra o sindicato e outro contra o próprio professor Plácido Cidade por seus aliados e pró-reitores, uma vez que, conforme todos sabemos, tanto o professor Plácido como a direção do SINDURCA foram eleitos para defender os interesses da comunidade acadêmica, melhores condições de funcionamento da URCA, dignidade para a atividade docente e não os interesses do governador e dos partidos aliados.
Após ouvir, atenciosa e criticamente, alguns membros da diretoria do sindicato e outros colegas presentes na referida assembléia, o meu pensamento fora confirmado em parte, pois o que realmente aconteceu foi uma tremenda e arbitrária intervenção (quem diria?) na greve da URCA, perpetrada por meia dúzia de ocupantes de cargos de confiança da Reitoria contra o sindicato e todos os professores de nossa IES, visando exclusivamente atender exigências do governador do estado que não pretendendo negociar com os grevistas, exige que os mesmos retornem às suas atividades sem sequer acenar com o atendimento de suas legitimas reivindicações.
Digo que o meu pensamento fora em parte confirmado porque, para mim, ainda não está claro se houve ou não golpe contra o professor Plácido, (hipótese que, na minha opinião, não está de todo descartada, uma vez que o mesmo, até vésperas do ocorrido, encontrava-se afastado por motivo de doença) ou se este é, afinal, conivente com tudo isto que está acontecendo. Penso que acerca disto somente ele pode se manifestar e, no meu entender, deveria fazê-lo de público o mais rápido possível, uma vez que sua trajetória na URCA, tanto como administrador quanto como professor pode restar maculada e discutida por obra e graça de seus próprios auxiliares.
Devo dizer, ainda, que ante tão infeliz incidente pus-me a me indagar como pode isto estar acontecendo na atual gestão da URCA? Afinal de contas o próprio professor Plácido fora, em 2003, vitima de um golpe capitaneado pelo anterior governador do estado que, arbitrariamente e fazendo uso da força policial, impôs à Universidade uma decisão que contrariava a vontade da maioria da comunidade acadêmica; ou seja, algo parecido com o que está acontecendo agora e que, a mim em particular, que tanto lutei contra aquele golpe, custa-me acreditar que o Plácido concorde ou ache normal o uso de tão absurdos expedientes.
Diante de tudo isto, a sensação que eu tenho agora é bastante similar àquela que me inspirou a escrever os dois cordéis-denúncia intitulados URCA: 18 DE JULHO e URCA CASO DE POLICIA, ambos abundantemente recitados no âmbito desta IES ao longo de toda a administração daquele que se tornou conhecido como O INTERVENTOR, haja vista que era preciso um pronunciamento claro e denunciativo ante tão inadmissíveis desmandos.
A leitura da estapafúrdia nota me fez ter a impressão de que não estamos ainda sendo administrados pelo gestor que prometeu governar a URCA DO JEITO CERTO, pois o texto exposto na página da URCA visa não apenas desmobilizar os professores em greve, mas e, principalmente, desmoralizar completamente o colega Plácido, pois faz com que, para muitos, sua gestão não guarde diferença da anterior ou que esta diferença, se houver, seja tão pequena ou tão pouca que está sendo ofuscada pelas brigas entre seus aliados e pela capitulação covarde de seus auxiliares às exigências do governador que se dizia diferente de Lúcio Alcântara e que, no entanto, já demonstrou não ter compromisso com o ensino superior publico do Ceará.
A razão porque estou escrevendo este texto advém do entendimento de que, na minha opinião, é chegada a hora de avaliarmos não apenas a nossa greve, mas e, sobretudo, os governos de Plácido e Cid, uma vez que as reivindicações e os direitos pugnados hoje são os mesmos pelos quais lutávamos no período de André Herzog e Lucio Alcântara e em defesa dos quais falaram o atual Reitor da URCA e o Governador do Estado, mormente quando desejavam obter (e obtiveram) os votos de muitos docentes desta instituição.
Sendo assim, no meu entender, se os professores da URCA, assim como os da UVA e UECE, em assembléias soberanas, decidiram, após exaustivas discussões, paralisar suas atividades para poderem se ver respeitar como profissionais do ensino que vergonhosamente recebem baixíssimos salários, não é conferido a alguns poucos detentores de cargos de confiança de uma Reitoria, repita-se, em obediência as exigências de um governo descompromissado com o ensino superior, determinar o fim do movimento, mediante uma decisão covarde, oportunista, mentirosa e pusilânime, pois somente a categoria, sob convocação do comando de greve, poderá dizer quando, como e porque pretende retornar ao seu labor educacional.
Se de fato há, conforme diz a nota, da parte da atual Reitoria (e ainda há tempo para Plácido vir a público esclarecer) algum sentimento de consideração para com a categoria dos docentes seria melhor que não se tivesse forjando a decisão que se lê na pagina da URCA, irresponsavelmente atribuída aos professores, usando o nome do sindicato, não obstante cheia de contradições, mormente quando quem subscreve a nota são três dos mais bem mandados cargos de confiança desta administração que, repita-se, por coincidência ou não, são também membros dos partidos que dão sustentação ao governador que tem se recusado a negociar com docentes em greve.
Se os detentores de cargos comissionados estão satisfeitos com as gratificações que percebem, se estão sendo premiados com o atendimento de alguma reivindicação particular ou se resolveram nos prejudicar para render homenagens ao “socialista” que prometeu o “grande salto que o Ceará merece”, que abram mão de seus direitos, que trabalhem voluntariamente, mas não venham burlar a lei, atropelar o processo grevista e forjar um decisão que prejudica a todos, em nome de suas convicções políticas e compromissos partidários.
Ademais, para quem vem acompanhando, ainda que à distância (como é o meu caso) as questões e as razões que ensejaram a deflagração da greve nas três IES do estado do Ceará (URCA, UVA e UECE), não é preciso muito raciocinar para verificar que não apenas a nota mas o seu mal intencionado propósito visam desmobilizar, desacreditar e, sobretudo, desrespeitar a brava, corajosa e batalhadora categoria dos docentes de nossa Instituição, bem como a sua entidade de classe, o SINDURCA que, ao longo dos últimos anos tem dado demonstração de força, tenacidade, coerência e, sobretudo, capacidade de mobilização e construção de conquistas que a atual gerência superior de nossa IES busca abortar.
Até porque, mesmo para qualquer pessoa pouco interessada em questões relativas a luta político-sindical, soa como no mínimo estranho que uma categoria que teve a ousadia de ocupar a Assembléia Legislativa recentemente, que conseguiu a proeza de paralisar todos os campis da IES e manter-se firme na luta pelas reivindicações da classe vá, sem qualquer conquista ou vitória, retroceder no combate para, em ultimo caso, quedar-se inerte e covardemente ante um governador que ameaça não negociar com professores grevistas.
É no mínimo escandaloso e absolutamente risível que uma greve seja encerrada por decisão unânime de meia dúzia de ocupantes de cargos de confiança do Reitor e sem qualquer conquista, exceto o desejo de ajudar o senhor Cid a continuar afrontando aqueles que ousam lutar pelos seus direitos, numa atitude típica do governo autoritário e perseguidor do Interventor que antecedeu Plácido.
Para mim que não apenas votei no colega e hoje reitor Plácido Cidade Nuvens, mas que também, e sobretudo, fiz oposição ferrenha e decidida aos governos de André Herzog e Lucio Alcântara, e justamente por combater suas práticas antidemocráticas e perseguidoras coloquei na ordem do dia dos debates eleitorais para governo em 2006 a situação das três IES do Ceara, dando destaque ao prejuízo que aqueles governantes causaram as Universidades, mormente à URCA, inclino-me a pensar que o ato perpetrado pelos atuais detentores do poder em nossa instituição se afigura como algo parecido com traição, covardia, venalidade e pusilanimidade!
Por tudo isto que acima escrevi, e porque me sinto injuriada com o texto oficial da Reitoria, divido com os colegas estas preocupações. Mas digo ainda que, pela amizade que tenho ao professor Plácido, e por tudo que fiz e lutei para que o mesmo ocupasse o posto que ora comanda, é que espero, sinceramente, estar sendo eu tremendamente injusta e absolutamente equivocada e que ele, o Reitor, não esteja sequer sabendo daquilo para o que seu nome está sendo usado, pois se o contrario for, então logo logo ficará claro que ele próprio se converteu, e muito rapidamente, num administrador pior que aquele que o antecedeu e que por isto mesmo vai pagar caro, pois uma atitude como esta constitui um erro imperdoável contra o corpo docente desta casa que, em sua maioria o elegeu esperando fazer justiça a ele e a todos os que, como ele, merecem respeito, reconhecimento e, sobretudo, melhores condições de trabalho e remuneração condigna.
É o que tinha a dizer em sinal de protesto e de solidariedade.

Salete Maria da Silva
Professora do Curso de Direito da URCA

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