quarta-feira, 1 de outubro de 2008

PESQUISAS SUSPEITAS SÃO ALVO DE AÇÕES JUDICIAIS NO INTERIOR

O número 261 da rua Amazonas, em Maracanaú, nem de perto parece com um escritório de um instituto de pesquisa. Do lado de fora, uma mesa de madeira e uma pequena churrasqueira. Dentro da casa, prateleiras com diversas marcas de cachaça. Zenir de Oliveira, 57, apareceu na porta para explicar que, naquele endereço, não funcionava o Instituto Cearense de Opinião Pública (Icop). "É um barzinho, nós não temos nada a ver", disse ela, desculpando-se não poder esticar a prosa, para cuidar da mãe doente.

Na última terça-feira, foi divulgada pesquisa realizada nos dias 21 e 22 de setembro pelo Icop (cujo endereço oficial é a rua Amazonas), no município de Paramoti, que apontou Marcos Aurélio Santos (PT) com 40,77% das intenções de voto na cidade, contra 44,3% de Samuel Boyadjian (PSDB). No mesmo dia, o Exacta Pesquisas deu outro resultado: 58% para o petista, contra 32,1% do tucano. O levantamento foi realizado no dia 23 de setembro, um dia após o feito pelo Icop. Resultados invertidos, dúvidas no ar.

Ações judiciais
Pesquisas suspeitas têm sido alvo de ações judiciais nos municípios do Interior. Em Quixeramobim, a juíza Maria José Sousa Rosado de Alencar concedeu liminar proibindo a divulgação de pesquisa da empresa F.S. Gomes Pesquisa de Mercado e Opinião Pública na cidade, por suspeita de fraude.

Em Boa Viagem, a coligação do candidato à reeleição José Vieira Filho (PR), o Mazinho, tentou impugnar uma pesquisa do Icop que o colocava em desvantagem na disputa. "O juiz registrou a pesquisa e a gente recorreu ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral)", explicou o advogado da Mazinho, Thiago Fragoso. A coligação aguarda a decisão do tribunal.

O POVO foi até a rua Amazonas à procura do Icop. Não encontrando ninguém ligado ao instituto no local, de acordo com a alegativa da moradora, a equipe entrou em contato por telefone com José Gerardo Rodrigues, que consta como diretor do Icop nos registros dos cartórios eleitorais onde as pesquisas foram realizadas.

"Hoje o escritório funciona na minha casa, na rua Doutor Almeida Filho", contou Gerardo. Ele contou que, em 2001, registrou sua empresa em Maracanaú, mas, quando mudou-se, não modificou o endereço nos documentos oficiais do Icop. "Não mudei (o endereço) por displicência. Sou uma pessoa correta, não faço nada errado. Não achei que fosse dar complicação", justificou Gerardo, que garantiu que corrigirá a falha assim que as eleições terminarem.

O diretor do Icop garante que a pesquisa feita pelo instituto em Paramoti não está errada. "A outra empresa eu não conheço, mas a minha trabalha com seriedade. Eu nunca errei uma pesquisa. No dia que foi feita a pesquisa, o resultado era esse aí".

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EMAIS

- A secretária judiciária do Tribunal Regional Eleitoral, Sandra Mara, diz que a Justiça Eleitoral tem a função de arquivar e centralizar as informações sobre as pesquisas.

- Segundo ela, os institutos e as pesquisas têm de ser fiscalizados pelo Ministério Público, partidos políticos, coligações e candidatos - que podem impugnar os levantamentos feitos.

- O presidente do Conselho Regional de Estatística (Conre), Carlos Robson Bezerra de Medeiros, confirmou que o Icop é devidamente registrado, com endereço na rua Amazonas.

- De acordo com Robson Medeiros, "a verificação de fraude nas pesquisas pode ser feita com base nas informações fornecidas pelas empresas ao TRE, por denúncias de tendências na coleta de informações, com o confronto com os resultados de outras empresas e o resultado final das eleições".
Jornal O Povo

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