terça-feira, 9 de dezembro de 2008

COLETIVO MALUNGO FECHA ANO COM EXPOSIÇÃO DO FOTÓGRAFO ALLAN BASTOS




Wilson Borba
Especial para o JC

A exposição Repetições surgiu da vontade de trazer um novo rumo para os ares fotográficos do Cariri. Referenciado pelo fotógrafo húngaro, radicado norte americano, André Kertész e suas fotografias de nus, o artista Allan Bastos ousa ultrapassar a barreira dos corpos e propõe um novo olhar sobre a nudez. André Kertész mostrou corpos distorcidos por espelhos em um de seus trabalhos mais famosos, a série Distorções, de 1933. Assim como o fotógrafo americano, Allan utiliza dessas distorções, mas modifica a técnica espacial da foto apenas utilizando sua sensibilidade, suas lentes e a luz.

Na mais simples definição, Repetições exerce o próprio poder da fotografia, o de repetir o real. Onde a câmera olha e reproduz o que vê. Num conceito mais amplo, o artista utiliza-se da anatomia dos corpos para demonstrar essas repetições, “comparado à biologia os corpos desde sua primeira divisão celular, já reproduz certa separação em duas partes iguais. O nosso corpo tem dois lados e quase todos os órgãos do corpo são duplos. Essa é a divisão nervosa do corpo, é onde o seio liga-se diretamente com as pernas, o clitóris, a barriga, etc. Podemos ver isso muito bem no mapa do taoísmo ou até mesmo na acupuntura”, explica Allan. Essa repetição direta é o que permeia o trabalho do artista, a intenção de lembrar que o corpo está devidamente repetido.

Diferente de seus outros trabalhos onde a idéia fotográfica nascia de outras perspectivas, Repetições foi concebida a partir de um projeto antigo do fotógrafo. Com o estudo do conceito de Nú na fotografia, Allan pôde enveredar no seu trabalho. “neste trabalho houve o inverso de minhas fotografias, antes a fotografia surgia e a partir dela eu buscava o conceito, em Repetições primeiro houve o estudo do conceito para somente depois acontecer à parte prática da fotografia”, afirma o artista.

Diferente de outros fotógrafos como o próprio Kertész, Allan já não reconhecia a identidade dos fotografados para que os espectadores possam observar apenas os corpos e fugir da prática de procurar entre as pessoas quem teria sido fotografado provocando, assim, o espectador a encontre-se no ensaio ou qual seria a sua imagem repetida.

Outro detalhe das fotos é a utilização da luz como forma de deformação dos corpos. Nesse sentido, Allan buscou aprimorar as fotografias através da iluminação, criando um desenho luminoso em contraste com a cor da pele do fotografado, ou seja, a foto passa a ter uma linguagem única.

Durante muitos anos Allan Bastos trabalhou com Moda em suas andanças pelo Brasil, especificamente em Recife, mas desta vez o fotógrafo lança um trabalho que pode ser colocado a prova como “anti-moda”. A exposição recorta os corpos, mas de certa forma traz as marcas de roupas em seus recortes. Surge aqui mais uma inovação do fotógrafo para seus trabalhos autorais, a preservação da identidade dos corpos através de cicatrizes, marcas de jeans e lingerie, burlando a prática do nu clássico projetado nas várias exposições em galerias do Brasil e do Mundo.

Convidado pelo Coletivo Malungo para apresentar esta exposição e aceitando a provocação do espaço, Allan devolve um ensaio cheio de suas inquietações. Este trabalho marca a carreira do artista, por ser a primeira exposição individual e por vir de maneira arrojada e substancial para o espectador. A interferência do nu ultrapassa o convencional e avança o conceitual organizando o olhar ousado ou até mesmo um recorte do lado voyeur de todo ser humano, mas o que se mostra nesta exposição fotográfica é a repetição de vários nus em diferentes ângulos desmistificando o pudor e elaborando um panorama artístico do comum, a nudez ou como queiram, preto e pele.

Serviço:
Repetições – Allan Bastos
Local: Coletivo Malungo - Rua Tristão Gonçalves, 567 - Centro – Crato/CE
Lançamento: 03 de dezembro de 2008
Hora: 20h03min

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