quarta-feira, 6 de outubro de 2010

A DERROTA DE TASSO JEREISSATI

Segue o texto de Ricardo Alcântara, no impresso on line Pauta Livre. Ele aborda e avalia a derrota do Senador Tasso Jereissati nas eleições de domingo últmo.

Essa derrota tem dono

Diz-se, frequentemente, que a vitória tem muitos donos e a derrota, nenhum. No caso da candidatura do senador Tasso Jereissati à reeleição, nenhuma das duas versões poderia se impor com força de verdade.


Vencesse, poderia atribuir a si próprio o êxito. Afinal, não contou senão consigo mesmo para resistir à capacidade de transferência de votos do presidente Lula, avassaladora aqui nos estados do Norte.

Perdida a eleição, a perdeu sozinho, sem que possa dividir com ninguém o quinhão amargo da derrota. Foram exclusivamente suas as decisões que o encaminharam ao mau resultado, ainda que sinta à boca o fel da ingratidão.

Essa derrota começou em 2006, quando Tasso se recusou a apoiar a indicação da convenção de seu partido que concedeu a um bem avaliado governador, Lúcio Alcântara, o direito legítimo de buscar a reeleição.

Pôs-se, então, a reboque daquilo a que, somente agora, passou a tratar como uma oligarquia: os interesses políticos dos irmãos Ferreira Gomes – a “family”, na deslumbrada definição de uma das novas figuras agregadas.

Ali, em um único movimento de peça no xadrez político local, obediente aos maus conselhos do fígado, Tasso passou de protagonista a coadjuvante na longa aliança mantida até pouco tempo com o grupo de Ciro Gomes.

Eleito Cid, o “irmão do amigo”, delegaram as urnas ao tucanato o exercício da oposição, mas a pouca prática com o contraditório e a nenhuma disposição para aprendê-lo fez do PSDB, desde cedo, um aplicado serviçal.

Nutrido pelos favores fisiológicos em medida suficiente para não morrer, ficou até a última hora à espera de que o serviço anteriormente prestado, de atirar nos próprios pés e engolir a própria língua, fosse, enfim, compensado.

Mas, como nas decisões entre uma velha amizade e o poder quase sempre a lealdade tem sido a primeira vítima, “o maior político vivo do Ceará” foi despejado do consórcio governista para o cesto dos objetos não-recicláveis.

Ser “o maior político” e “o melhor amigo” foram moedas podres quando constatado – pesquisas, sempre elas – que o preço da lealdade seria colocar em risco o privilégio de manter o taco à mão e “fora do poder, não há salvação”.

Se o (ainda) senador estiver certo em suas decepções, ainda mais certos estarão os que, muito antes, se decepcionaram com ele. É por isso que esta derrota tem dono: ela só pertence a Tasso Jereissati.

Aqueles a quem ele aponta como seus algozes apenas fizeram cumprir as regras tradicionais de uma política que, a despeito de sua má reputação, tem escrito a história dos vencedores. E escreveu mais uma.

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