Os presidentes americanos John Kennedy e Lyndon Johnson sabiam que
havia um golpe em curso no Brasil. Do embaixador dos Estados Unidos no
País, Lincoln Gordon, Kennedy ouviu em 1962 que o então presidente João
Goulart poderia se transformar em um “ditador populista” como o
argentino Juan Domingo Perón. Dois anos depois, após série de informes
do diplomata sobre oficiais do Exército e políticos dispostos a derrubar
o governo, Johnson autorizou o deslocamento de navios da Marinha dos
EUA para a costa brasileira, a fim de dar suporte à insurgência que
culminou em 21 anos de ditadura militar.
O envolvimento do
governo americano no golpe contra Jango, prestes a completar 49 anos, é o
pano de fundo do documentário O Dia que Durou 21 Anos, de Camilo
Tavares, que estreou ontem em sete capitais do País - Fortaleza não está
entre elas.
Seu protagonista é Lincoln Gordon, economista de
Harvard que serviu no Brasil como embaixador entre 1961 e 1966 e cujo
maior temor, pelos áudios e documentos exibidos no filme, era que o
maior país da América Latina se convertesse “não em outra Cuba, mas em
uma China no Ocidente”. O coadjuvante é o adido militar Vernon Walters,
veterano que conhecera Castelo Branco na Segunda Guerra Mundial e
descreve o amigo como “altamente competente, oficial respeitado,
católico devotado e (que) admira papel dos EUA como defensores da
liberdade”.
“Os telegramas que estão no filme mostram
progressivamente essa ampliação do clima de paranoia”, diz o diretor do
filme, rico em reproduções de telegramas e de reportagens da mídia
imprensa e televisiva americana e brasileira. “Um dos aspectos
surpreendentes da pesquisa que fizemos para o filme é o papel de Kennedy
na trama.”
Extraídos dos acervos dos dois ex-presidentes
americanos, o conteúdo desses diálogos e documentos já é de conhecimento
público - estão em livros como a série As Ilusões Armadas, do
jornalista Elio Gaspari, ou 1964 Visto e Comentado pela Casa Branca, do
também jornalista Marcos Sá Corrêa. Mas ouvir as conversas de Kennedy e
Johnson e os telegramas de Gordon e de Walters, narrados por um locutor
da TV americana contratado pela produção do filme, ainda soam relevantes
para entender, meio século depois, como o clima da Guerra Fria levou o
país tropical a duas décadas de autoritarismo.
Além de
recontar fatos históricos do golpe de 1964, O Dia que Durou 21 Anos tem
forte componente pessoal. Tavares nasceu em 1971 no México, viu o pai
ser preso no Uruguai aos 8 anos e só pisou em solo brasileiro aos 12.
“Para mim, o projeto tinha uma questão pessoal, sem dúvida, mas
pesquisar e ver o tamanho do envolvimento dos Estados Unidos foi
surpreendente para nós e deu novo direcionamento ao objetivo inicial”,
diz.
Os trabalhos da produção começaram em 2005, um ano após
vir a público papéis do governo dos EUA que mostravam o respaldo à
insurgência militar. (da Agência Estado)
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