O líder do governo na Câmara Federal, deputado José
Guimarães, avalia que está sendo construída uma nova governabilidade na casa.
Ele assumiu, no início de fevereiro, em meio a maior crise institucional do
Governo Dilma Rousseff, desde o primeiro mandato.
Em entrevista ao Ceará 247, o novo
líder fala sobre a crise na base, a oposição, CPI da Petrobras, ajuste fiscal,
os problemas internos do PT, a relação com suas bases, no Ceará e
principalmente, sobre as responsabilidades que assumiu com as novas funções na
Câmara. Guimarães assume respaldado, entre outros fatores, pela experiência
adquirida nos dois mandatos anteriores e no exercício da liderança do PT, que
ocupou durante dois anos, na última legislatura.
Governabilidade
Reconhecido como um hábil articulador, o líder do
governo na Câmara Federal, deputado José Guimarães , avalia que "a
presidenta Dilma precisa de duas governabilidades, uma institucional - recompor
a base é fundamental, e a social - a interação do governo e o diálogo que deve
ser permanente com os movimentos sociais e a sociedade em geral".
Sobre a relação com o movimento social ele avalia
que "o Governo Dilma, diferente do Governo Lula, tem se afastado dos
movimentos socais e esse é um dos desafios que deve ser organizado rapidamente.
Na eleição, os movimentos sociais, a militância que estavam afastados dos
partidos e que ainda estão, foi o que trouxe a vitória e de lá pra cá nós ainda
não conseguimos retomar."
Na liderança, sua principal
tarefa, no momento é a recomposição da base, abalada após a ácida disputa
interna pela presidência da casa, cujo vencedor foi o deputado Eduardo Cunha
(PDM-RJ). O primeiro gesto, após assumir, foi exatamente uma visita ao
Presidente da Câmara, segundo ele, "abrindo caminho para uma nova
relação".
Após quase um mês, ele avalia que nos
últimos dias foi construída uma nova governabilidade e que o ambiente
institucional já mudou. Segundo ele, a consolidação do Colégio de Líderes, as
reuniões com os ministros, a indicação dos dez vice líderes e a indicação da
presidência e da relatoria da CPI, respectivamente pelo PMDB e pelo PT, são
demonstrações que o quadro de crise na base aliada está sendo superado. A
composição da vice liderança contemplou a base com a participação do PMDB, PT,
PP, PR, PRB, PTB, Pros, PCdoB, PSD e um representante dos chamados pequenos
partidos.
Mesmo assim, a tarefa do novo
líder não é fácil - Reforma Política, CPI da Petrobras, recomposição da base,
enfrentamento com a oposição, regulação econômica da mídia, ajuste fiscal são
temas que devem dominar, este ano, a agenda política, além das questões
econômicas e da seca no Nordeste e no Sudeste.
Pacote econômico e
movimento social
Depois que assumiu, o líder já sentou
com a CUT para discutir as medidas provisórias que estão relacionadas com
ajuste fiscal. Segundo ele, o governo está disposto a abrir o diálogo e
negociar mudanças. "Essa via tem que ser de mão dupla. Movimento social
pressiona, legitimamente, e nós atendemos. Somos um governo democrático, ou nós
fazemos isso, ou enfraquecemos a relação com os movimentos. A
Jornada de Lutas convocada pela CUT faz parte do jogo democrático e o governo
está negociando com o movimento".
Justificando o pacote econômico,
anunciado pelo ministro Joaquim Levy, que provocou reação dos trabalhadores,
Guimarães justifica - "na verdade houve a necessidade urgente, entre dezembro
e janeiro. Temos que corrigir os erros e aprimorar os rumos a serem tomados. O
que estou recuperando é um diálogo parecido com aquele que aconteceu em agosto
de 2013, durante as manifestações durante a Copa das Confederações. Os partidos
da base, principalmente o PT, apresentaram inúmeras emendas. Nossa perspectiva
é fazer um bom diálogo, compreendendo que o ajuste é para cumprir objetivos da
política econômica. Então estamos trabalhando nesta direção e de que outras
medidas poderão vir. Nós não podemos fazer ajustes comprometendo direitos e as
conquistas sociais. Qual vai ser o fio da navalha que isso vai ser conduzido? A
prática isso vai dizer".
Ele lembrou que quando Lula assumiu em
2002 e lançou a reforma da Previdência Social, a relação com os movimentos
sindicais entrou em confronto, porque diziam que a ação iria tirar direitos.
"Ela foi feita e o resultado foi a ampliação das conquistas. A economia
tem que entrar no ritmo, é necessário tomar medidas duras para poder avançar. O
sufoco deverá ser no primeiro semestre. O nosso governo jamais vai deixar de
ter foco na ampliação de conquistas. A Câmara vai responder as expectativas.
Dentro de qualquer governo tem pessoas muito diferentes, o que não podemos é
perder a referência".
Em sua avaliação "o Governo Dilma,
diferente do Governo Lula, tem se afastado dos movimentos socais". Segundo
ele, esse é um dos desafios que deve ser organizado rapidamente. "Na
eleição, os movimentos sociais, a militância que estavam afastados dos partidos
e que ainda estão, foi o que trouxe a vitória e de lá pra cá nós ainda não
conseguimos retomar.
Oposição
A tarefa, também fundamental do líder é
o enfrentamento com a oposição. Em seu primeiro pronunciamento como líder
enviou um recado direto - “a partir de hoje, não se leva mais desaforo para
casa, em resposta ao líder da minoria, deputado Bruno Araújo (PSDB-PE),
que reproduziu um trecho de uma fala da presidente durante a campanha. O trecho
usado pelo tucano mostrava Dilma prometendo que não haveria aumento nos valores
das contas de energia elétrica. Para ele, "o enfrentamento político
está nos exigindo posições muito firmes. É costume da oposição falar e nós
ficarmos calados e o meu objetivo como líder é adotar um ritmo que temos que
fazer o debate de defesa do governo e jamais aceitar as mentiras que a oposição
leva a plenário e as lideranças, as bases, não podem ficar caladas, porque isso
compromete nossa militância que está nas ruas esperando as nossas posição,
portanto, nós não vamos levar mais desaforo para casa. Até porque eles não tem
autoridade para falar mal de governo".
Corrupção na
Petrobras
A CPI da Petrobras, uma das prioridades
da atuação do líder, vai conseguir ampliar o escopo das apurações. Já foram
coletadas as assinaturas suficientes para aprovar um aditamento que garante as
investigações a partir 1997, época do governo FHC, quando tudo começou.
Nas palavras dele, a "apuração deverá ser ampla, geral e irrestrita, doa a
quem doer. Se tem corrupção, começou lá atrás, nos governos anteriores ao de
Lula. As informações reais são de que a corrupção era rotineira. Jamais esse
combate a corrupção, que está sendo feito pelos órgãos de competência do
governo, pode comprometer a história e o modelo de exploração do pré sal. A
oposição está responsabilizando o Governo Dilma e criminalizando o PT. Os
ataques feitos ao PT são inaceitáveis. Essas empresas que estão sendo
denunciadas nas fraudes da Petrobras tem ligação com todos os partidos, mas só
fazem guerra contra o PT, porque o objetivo central é criminalizar o partido.
Um dia ainda vão querer pedir a ilegalidade do PT".
Para o deputado José Guimarães, é
importante não deixar que a oposição transforme a CPI em um palanque político e
confia no posicionamento e isenção da base aliada. "Ser governo tem ônus e
bônus político. Tem que ter lado. Eu não posso ser governo a noite e de manhã
oposição. É preciso ter conduta política. Após a instalação da comissão, vários
deputados tentaram retirar a assinatura, mas o regimento da Casa não
permite. Se tem corrupção, começou lá atrás, nos governos anteriores ao de
Lula. As informações reais são de que a corrupção era rotineira.
Para ele o que está por trás das
manobras em relação a Petrobras e que não é assumido pela oposição é o modelo
de exploração. "Nós aprovamos o modelo de partilha contra o modelo adotado
pelo PSDB, que era de concessão, ou seja, privatizar o pré-sal, entregando para
empresas estrangeiras. A Dilma entregou para a Petrobras explorar e consolidar
a empresa internacionalmente. Como eles não estão conseguindo vender a
Petrobras como quiseram no passado, querem entregar o pré-sal. Por isso que estão
desgastando a imagem da empresa, que é responsável por 30% do PIB brasileiro,
que mais gera empregos, absolutamente consistente. No passado tentaram vender a
Petrobras, não conseguiram, e agora querem acabar com o modelo de partilha, que
é vitorioso. A oposição anuncia que o PT quebrou o país, mas esquecem que eles
entregaram o país com uma dívida pública com mais de 60% do PIB, uma inflação
média de quase 15%, desemprego de 12,5%. Todos os indicadores atuais são
melhores na gestão do PT.
Política cearense
No Ceará, administrado pela primeira
vez pelo PT, com o Governador Camilo Santana e base eleitoral do líder,
Guimarães também enfrenta cobranças, após a Petrobras cancelar a instalação da
Refinaria Premiun II. Guimarães afirma que nada justifica a suspensão, porque a
localização do equipamento no Ceará é estratégico para a Petrobras, para
exportação do petróleo refinado. "Estamos reiniciando o diálogo e vamos
conversar com o novo presidente da empresa para retomar processo com o governo
do Estado. Não podemos aceitar isso. Mas também não podemos aceitar a oposição
fazer disso um discussão política. Os governos tucano no Ceará, que duranram 20
anos, prometeram a Transnordestina, a transposição do São Francisco o metrô de
Fortaleza, a Siderúrgica e a Refinaria. Nunca moveram uma pedra viabilizar
esses projetos. De todos, a única obra que não foi iniciada nos dois governos
da Dilma e do Lula é a refinaria. Eu estou absolutamente convencido e confiante
que a refinaria virá. Nós vamos honrar esta dívida com os cearenses, honrando o
compromisso.
Sobre o Governo Camilo Santana, seu
aliado, a expectativa, com os primeiros 40 dias é muito positiva. A disposição
do governador em dialogar com todos os setores, marca dos primeiros dias do
governo, é um bom indicativo. Mas, para ele, "2015 será um ano muito
difícil, de seca, com dificuldade econômicas, de falta de refinaria, mas
estaremos junto a ele, apostando em um bom governo, mesmo com todas as
dificuldades". Na visão de Guimarães, o Governo Camilo deve ser de investimentos
para o homem."Temos defendido internamente que o Governo Camilo seja de
investimentos para o homem. O Governo Cid se caracterizou pelas grandes obras.
Agora o Camilo tem que concluir algumas dessas obras e definir ações que
coloquem os cearenses como protagonistas. Está sendo um bom começo para quem
quer uma gestão participativa e democrática". Para ele, Camilo deve
avançar com um sistema de gestão democrática participativa, projetos inovadores
para fazer experiências novas na área de educação, de ciência e tecnologia.
"Claro que todos as obras precisam ser concluídas, mas ele precisa deixar
a marca do modo petista de governar".
PT
Falando sobre o PT, Guimarães foi
muito claro. "Sou a favor de uma reforma dentro do PT, de organização
partidária. Foi exatamente isso que o Lula disse (nas comemorações dos 35 anos do PT). Os diretórios tem que mudar a prática cotidiana.
O PT se transformou em um grande aparelho eleitoral, só se mobiliza em época de
eleição, deixou de ter relação com o cotidiano das pessoas simples. No
congresso do PT, que acontecerá em junho, todos tem que ser ouvidos. O partido
não soube conviver com a chegada ao governo e se institucionalizou deixando de
fazer lutas sociais. Nos transformamos em uma máquina eleitoral e temos que ser
uma máquina política transformadora para despertar novamente sonhos para os
brasileiros. Temos que pegar o manifesto e atualizar de acordo com a conjuntura
atual.
As origens
"Hoje estar na liderança do
governo federal ainda é um susto. Até os 15 anos morando no sertão cearense,
nunca imaginei. Sempre quis morar na cidade grande, passar no vestibular, me
formar, mas ser deputado, ainda mais federal, nunca pensei. Venci todas as
dificuldades, mais a maior como militante do PT, como parlamentar, é a liderança.
Minha missão é ser líder do governo, mas eu jamais quero deixar que o PT e a
relação com o Ceará sejam perdidas, porque tudo que consegui na minha vida foi
através da política. É desafiador, me assustou um pouco. Porque a gente sempre
acha que está preparado para tudo, mas não está. Do menino que saiu lá do
Encantado, para Fortaleza e depois para Brasília, o que muda é
responsabilidade, mas os princípios não mudam". Foi assim que o deputado
federal José Guimarães finalizou a entrevista falando sobre o que muda na sua
vida com a nova função de líder do Governo, na Câmara
Federal, no segundo mandato da
Presidenta Dilma Rousseff.
fonte: site Brasil 247