sábado, 28 de fevereiro de 2015

Guimarães avalia situação política



O líder do governo na Câmara Federal, deputado José Guimarães, avalia que está sendo construída uma nova governabilidade na casa. Ele assumiu, no início de fevereiro, em meio a maior crise institucional do Governo Dilma Rousseff, desde o primeiro mandato
Em entrevista ao Ceará 247, o novo líder fala sobre a crise na base, a oposição, CPI da Petrobras, ajuste fiscal, os problemas internos do PT, a relação com suas bases, no Ceará e principalmente, sobre as responsabilidades que assumiu com as novas funções na Câmara. Guimarães assume respaldado, entre outros fatores, pela experiência adquirida nos dois mandatos anteriores e no exercício da liderança do PT, que ocupou durante dois anos, na última legislatura.

Governabilidade
Reconhecido como um hábil articulador, o líder do governo na Câmara Federal, deputado José Guimarães , avalia que "a presidenta Dilma precisa de duas governabilidades, uma institucional - recompor a base é fundamental, e a social - a interação do governo e o diálogo que deve ser permanente com os movimentos sociais e a sociedade em geral".
Sobre a relação com o movimento social ele avalia que "o Governo Dilma, diferente do Governo Lula, tem se afastado dos movimentos socais e esse é um dos desafios que deve ser organizado rapidamente. Na eleição, os movimentos sociais, a militância que estavam afastados dos partidos e que ainda estão, foi o que trouxe a vitória e de lá pra cá nós ainda não conseguimos retomar."
Na liderança, sua principal tarefa, no momento é a recomposição da base, abalada após a ácida disputa interna pela presidência da casa, cujo vencedor foi o deputado Eduardo Cunha (PDM-RJ). O primeiro gesto, após assumir, foi exatamente uma visita ao Presidente da Câmara, segundo ele, "abrindo caminho para uma nova relação".
Após quase um mês, ele avalia que nos últimos dias foi construída uma nova governabilidade e que o ambiente institucional já mudou. Segundo ele, a consolidação do Colégio de Líderes, as reuniões com os ministros, a indicação dos dez vice líderes e a indicação da presidência e da relatoria da CPI, respectivamente pelo PMDB e pelo PT, são demonstrações que o quadro de crise na base aliada está sendo superado. A composição da vice liderança contemplou a base com a participação do PMDB, PT, PP, PR, PRB, PTB, Pros, PCdoB, PSD e um representante dos chamados pequenos partidos.
Mesmo assim, a tarefa do novo líder não é fácil - Reforma Política, CPI da Petrobras, recomposição da base, enfrentamento com a oposição, regulação econômica da mídia, ajuste fiscal são temas que devem dominar, este ano, a agenda política, além das questões econômicas e da seca no Nordeste e no Sudeste. 

Pacote econômico e movimento social
Depois que assumiu, o líder já sentou com a CUT para discutir as medidas provisórias que estão relacionadas com ajuste fiscal. Segundo ele, o governo está disposto a abrir o diálogo e negociar mudanças. "Essa via tem que ser de mão dupla. Movimento social pressiona, legitimamente, e nós atendemos. Somos um governo democrático, ou nós fazemos isso, ou enfraquecemos a relação com os movimentos.  A Jornada de Lutas convocada pela CUT faz parte do jogo democrático e o governo está negociando com o movimento".
Justificando o pacote econômico, anunciado pelo ministro Joaquim Levy, que provocou reação dos trabalhadores, Guimarães justifica - "na verdade houve a necessidade urgente, entre dezembro e janeiro. Temos que corrigir os erros e aprimorar os rumos a serem tomados. O que estou recuperando é um diálogo parecido com aquele que aconteceu em agosto de 2013, durante as manifestações durante a Copa das Confederações. Os partidos da base, principalmente o PT, apresentaram inúmeras emendas. Nossa perspectiva é fazer um bom diálogo, compreendendo que o ajuste é para cumprir objetivos da política econômica. Então estamos trabalhando nesta direção e de que outras medidas poderão vir. Nós não podemos fazer ajustes comprometendo direitos e as conquistas sociais. Qual vai ser o fio da navalha que isso vai ser conduzido? A prática isso vai dizer". 
Ele lembrou que quando Lula assumiu em 2002 e lançou a reforma da Previdência Social, a relação com os movimentos sindicais entrou em confronto, porque diziam que a ação iria tirar direitos. "Ela foi feita e o resultado foi a ampliação das conquistas. A economia tem que entrar no ritmo, é necessário tomar medidas duras para poder avançar. O sufoco deverá ser no primeiro semestre. O nosso governo jamais vai deixar de ter foco na ampliação de conquistas. A Câmara vai responder as expectativas. Dentro de qualquer governo tem pessoas muito diferentes, o que não podemos é perder a referência". 
Em sua avaliação "o Governo Dilma, diferente do Governo Lula, tem se afastado dos movimentos socais". Segundo ele, esse é um dos desafios que deve ser organizado rapidamente. "Na eleição, os movimentos sociais, a militância que estavam afastados dos partidos e que ainda estão, foi o que trouxe a vitória e de lá pra cá nós ainda não conseguimos retomar.

Oposição
A tarefa, também fundamental do líder é o enfrentamento com a oposição. Em seu primeiro pronunciamento como líder enviou um recado direto - “a partir de hoje, não se leva mais desaforo para casa, em resposta ao líder da minoria, deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), que reproduziu um trecho de uma fala da presidente durante a campanha. O trecho usado pelo tucano mostrava Dilma prometendo que não haveria aumento nos valores das contas de energia elétrica. Para ele, "o  enfrentamento político está nos exigindo posições muito firmes. É costume da oposição falar e nós ficarmos calados e o meu objetivo como líder é adotar um ritmo que temos que fazer o debate de defesa do governo e jamais aceitar as mentiras que a oposição leva a plenário e as lideranças, as bases, não podem ficar caladas, porque isso compromete nossa militância que está nas ruas esperando as nossas posição, portanto, nós não vamos levar mais desaforo para casa. Até porque eles não tem autoridade para falar mal de governo".

Corrupção na Petrobras
A CPI da Petrobras, uma das prioridades da atuação do líder, vai conseguir ampliar o escopo das apurações. Já foram coletadas as assinaturas suficientes para aprovar um aditamento que garante as investigações  a partir 1997, época do governo FHC, quando tudo começou. Nas palavras dele, a "apuração deverá ser ampla, geral e irrestrita, doa a quem doer. Se tem corrupção, começou lá atrás, nos governos anteriores ao de Lula. As informações reais são de que a corrupção era rotineira. Jamais esse combate a corrupção, que está sendo feito pelos órgãos de competência do governo, pode comprometer a história e o modelo de exploração do pré sal. A oposição está responsabilizando o Governo Dilma e criminalizando o PT. Os ataques feitos ao PT são inaceitáveis. Essas empresas que estão sendo denunciadas nas fraudes da Petrobras tem ligação com todos os partidos, mas só fazem guerra contra o PT, porque o objetivo central é criminalizar o partido. Um dia ainda vão querer pedir a ilegalidade do PT".
Para o deputado José Guimarães, é importante não deixar que a oposição transforme a CPI em um palanque político e confia no posicionamento e isenção da base aliada. "Ser governo tem ônus e bônus político. Tem que ter lado. Eu não posso ser governo a noite e de manhã oposição. É preciso ter conduta política. Após a instalação da comissão, vários deputados tentaram retirar a assinatura, mas o regimento da Casa não permite. Se tem corrupção, começou lá atrás, nos governos anteriores ao de Lula. As informações reais são de que a corrupção era rotineira. 
Para ele o que está por trás das manobras em relação a Petrobras e que não é assumido pela oposição é o modelo de exploração. "Nós aprovamos o modelo de partilha contra o modelo adotado pelo PSDB, que era de concessão, ou seja, privatizar o pré-sal, entregando para empresas estrangeiras. A Dilma entregou para a Petrobras explorar e consolidar a empresa internacionalmente. Como eles não estão conseguindo vender a Petrobras como quiseram no passado, querem entregar o pré-sal. Por isso que estão desgastando a imagem da empresa, que é responsável por 30% do PIB brasileiro, que mais gera empregos, absolutamente consistente. No passado tentaram vender a Petrobras, não conseguiram, e agora querem acabar com o modelo de partilha, que é vitorioso. A oposição anuncia que o PT quebrou o país, mas esquecem que eles entregaram o país com uma dívida pública com mais de 60% do PIB, uma inflação média de quase 15%, desemprego de 12,5%. Todos os indicadores atuais são melhores na gestão do PT. 

Política cearense
No Ceará, administrado pela primeira vez pelo PT, com o Governador Camilo Santana e base eleitoral do líder, Guimarães também enfrenta cobranças, após a Petrobras cancelar a instalação da Refinaria Premiun II. Guimarães afirma que nada justifica a suspensão, porque a localização do equipamento no Ceará é estratégico para a Petrobras, para exportação do petróleo refinado. "Estamos reiniciando o diálogo e vamos conversar com o novo presidente da empresa para retomar processo com o governo do Estado. Não podemos aceitar isso. Mas também não podemos aceitar a oposição fazer disso um discussão política. Os governos tucano no Ceará, que duranram 20 anos, prometeram a Transnordestina, a transposição do São Francisco o metrô de Fortaleza, a Siderúrgica e a Refinaria. Nunca moveram uma pedra viabilizar esses projetos. De todos, a única obra que não foi iniciada nos dois governos da Dilma e do Lula é a refinaria. Eu estou absolutamente convencido e confiante que a refinaria virá. Nós vamos honrar esta dívida com os cearenses, honrando o compromisso.
Sobre o Governo Camilo Santana, seu aliado, a expectativa, com os primeiros 40 dias é muito positiva. A disposição do governador em dialogar com todos os setores, marca dos primeiros dias do governo, é um bom indicativo. Mas, para ele, "2015 será um ano muito difícil, de seca, com dificuldade econômicas, de falta de refinaria, mas estaremos junto a ele, apostando em um bom governo, mesmo com todas as dificuldades". Na visão de Guimarães, o Governo Camilo deve ser de investimentos para o homem."Temos defendido internamente que o Governo Camilo seja de investimentos para o homem. O Governo Cid se caracterizou pelas grandes obras. Agora o Camilo tem que concluir algumas dessas obras e definir ações que coloquem os cearenses como protagonistas. Está sendo um bom começo para quem quer uma gestão participativa e democrática".  Para ele, Camilo deve avançar com um sistema de gestão democrática participativa, projetos inovadores para fazer experiências novas na área de educação, de ciência e tecnologia. "Claro que todos as obras precisam ser concluídas, mas ele precisa deixar a marca do modo petista de governar". 

PT
Falando sobre o PT, Guimarães  foi muito claro. "Sou a favor de uma reforma dentro do PT, de organização partidária. Foi exatamente isso que o Lula disse (nas comemorações dos 35 anos do PT). Os diretórios tem que mudar a prática cotidiana. O PT se transformou em um grande aparelho eleitoral, só se mobiliza em época de eleição, deixou de ter relação com o cotidiano das pessoas simples. No congresso do PT, que acontecerá em junho, todos tem que ser ouvidos. O partido não soube conviver com a chegada ao governo e se institucionalizou deixando de fazer lutas sociais. Nos transformamos em uma máquina eleitoral e temos que ser uma máquina política transformadora para despertar novamente sonhos para os brasileiros. Temos que pegar o manifesto e atualizar de acordo com a conjuntura atual.  

As origens
"Hoje estar na liderança do governo federal ainda é um susto. Até os 15 anos morando no sertão cearense, nunca imaginei. Sempre quis morar na cidade grande, passar no vestibular, me formar, mas ser deputado, ainda mais federal, nunca pensei. Venci todas as dificuldades, mais a maior como militante do PT, como parlamentar, é a liderança. Minha missão é ser líder do governo, mas eu jamais quero deixar que o PT e a relação com o Ceará sejam perdidas, porque tudo que consegui na minha vida foi através da política. É desafiador, me assustou um pouco. Porque a gente sempre acha que está preparado para tudo, mas não está. Do menino que saiu lá do Encantado, para Fortaleza e depois para Brasília, o que muda é responsabilidade, mas os princípios não mudam". Foi assim que o deputado federal José Guimarães finalizou a entrevista falando sobre o que muda na sua vida com a nova função de líder do Governo, na Câmara 
Federal, no segundo mandato da Presidenta Dilma Rousseff. 

fonte: site Brasil 247


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