quarta-feira, 8 de outubro de 2008

CARIRI RENOVADO

Renovação. Essa foi a palavra de ordem do eleitor caririense em 2008. Até quando reelegeu alguns prefeitos, o Cariri renovou, pois em muitos desses casos o concorrente nadou contra a maré de grupos hegemônicos no Estado ou no País.

Em Juazeiro do Norte, aparentemente, o eleitorado fez um ruptura histórica com as tradicionais lideranças políticas da cidade. A vitória do médico Manoel Santana é o símbolo maior dessa nova visão em um território marcadamente conservador em termos ideológicos.

Em Barbalha, município que cultiva valores tradicionais, o sucesso do Partido dos Trabalhadores também rompe com a lógica do poder estabelecido. E, no município do Crato, mesmo sem apoio do governador Cid Gomes e do presidente Lula, Samuel Araripe, representante de uma antiga família política, conseguiu o inédito feito da reeleição na cidade que é marcada pelo espírito da rebeldia.

O primeiro-ministro inglês Winston Churchill já afirmou que em uma guerra só se morre uma vez, mas, na política, tem-se o direito de morrer várias vezes. Não é hora de se declarar abertos os funerais de lideranças como Carlos Cruz, Manoel Salviano ou Arnon Bezerra. O prefeito de Juazeiro Raimundo Macedo, que abandonou o PSDB, que já o tinha abandonado, é uma prova viva do caráter dinâmico da política. Por agora, e é somente nesse contexto que se pode assim afirmar, o Cariri fez virar uma página histórica, página essa que relutava em ser mudada. Os efeitos disso serão percebidos nos próximos anos.

No entanto, a onda renovadora no Cariri obedece a outra lógica: a região despertou e resolveu voltar-se para soluções internas. Cresceu enormemente o sentimento de abandono do poder em Fortaleza e de descolamento da política estadual. Se os líderes políticos regionais tiverem a necessária coragem e a visão de longo prazo, esse voto simbólico do povo deverá ser corretamente interpretado como a semente de algo maior. Quem sabe não é a hora de pensar seriamente, sem o verniz de uma excentricidade ou de folclore, em um movimento maior pela autonomia regional em relação a Fortaleza? As condições históricas existem.

O desesperante estado de omissão do Ceará para com as grandes políticas do Cariri já vem de perdurar por vinte anos. O balanço das eleições também mostrou ao Jornal do Cariri o acerto de sua cobertura política imparcial, independente e focada na exposição do fato jornalístico.

A acolhida generosa do povo caririense, o sentimento de boa cumplicidade entre o jornal e seus leitores e a perspectiva da realização do ideal democrático de bem informar dá aos que fazer o periódico a certeza de que esse é o caminho. O jogo político, especialmente em eleições municipais, dá-se em níveis que tendem ao comprometimento de alguns valores éticos.

A imprensa, fragilizada pela crise mundial no jornalismo, é uma presa fácil desses apetites antidemocráticos. O Jornal tem consciência disso e sabe que a melhor forma de ultrapassar esses momentos, que são comuns à imprensa brasileira como um todo, é manter-se fiel a seu único compromisso: levar ao povo os fatos do quotidiano, mostrando-os sob todos as aspectos, de modo plural.

É com esse espírito indômito, porque indômito é o povo do Cariri, que o jornal passará agora a exigir dos eleitos a observância do que prometeram em suas campanhas. Passou a hora da disputa e a hora da festa democrática. Doravante, surge a hora da realização e da observância do que foi prometido ao povo, tão sofrido e tão vilipendiado por anos de impostura de governantes descomprometidos com o bem-comum. Estaremos vigilantes.

EDITORIAL DO JORNAL DO CARIRI
EDIÇÃO DESTA TERÇA-FEIRA, 7 DE OUTUBRO

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