domingo, 13 de março de 2011
DOMINGO À TARDE NO MARACANÃ
Por Emerson Monteiro
Na primeira metade da década de 80, fase de inverno rigoroso no Ceará, quando resolvi passar alguns dias entre São Paulo e Rio de Janeiro, algo em torno de duas semanas. Disposto às desacomodações dos passeios longe de casa, nisso visitaria alguns dos postais que ilustraram os calendários e as revistas da minha infância e adolescência. Pontos típicos da enorme metrópole paulistana e da Cidade Maravilhosa, polos do progresso nacional. Vale do Anhangabaú, Estação da Luz, Praça da Sé, Jardim Zoológico paulista, Viaduto do Chá, Santa Teresa, Passeio Público, Palácio do Catete, Biblioteca Nacional, Candelária, Alto da Boa Vista, Museu de Arte Moderna, e tantos outros, sempre novidades raras além das estampas, na boa companhia de Tiago Araripe, em São Paulo, e Denise e Clênio Castañon, no Rio, meus estimados amigos, os quais me receberam sob absoluta disponibilidade todo tempo.
No Rio, um tarde de domingo, e resolvemos assistir a um jogo no Estádio do Maracanã, Flamengo e Fluminense. Clênio, torcedor emérito do Flamengo, nos instalaria ao centro da torcida rubro-negra, com direito às faixas, charangas e emoções jamais previstas e, depois, até hoje inigualadas. Numa festa que considero dos maiores espetáculos de que dou notícias, acompanhamos de perto essa oitava maravilha do mundo no seu pleno exercício de funcionamento, nas horas vespertinas domingueiras.
O público carioca supera quaisquer expectativas de visitante. Desde criança ouvira falar da monumentalidade do Maracanã, construído para a Copa do Mundo de 1950, palco da derrota do Brasil contra o Uruguai na decisão. Seguidor das influências do futebol do Sudeste, mania cratense trazida nas ondas do rádio, alimentava o sonho de viver de perto as circunstâncias daquela tarde.
Um dos destaques da partida, o jogador Bebeto vestia a camisa do Flamengo, chegado recente do Vitória da Bahia em substituição a Zico, que seguira para jogar na Itália. Quando parecia que o Fluminense levaria a melhor pelo placar de 2 X 1, Bebeto marcou pelo Flamengo, consolidando o empate final.
Tamanha multidão reunida ainda não mais vim a presenciar, somadas as ondas de entusiasmo do povo em plena função de entusiasmo, numa ocasião incomparavelmente feliz. A alegria contagiava aos sons de hinos, batidas de bumbo, caixas, metais, fogos, gritos estrepitosos, calor humano fervoroso, uma religião o futebol carioca. Demonstração pública de canto, dança, movimento; expressão pura de comoção às raias do deslumbramento; explosão da sentimentalidade popular no auge das belezas coletivas do esporte; radicalidade humana em estado bruto; isto tudo pode ser vivenciado nas tardes cheias dos estádios de futebol, nas grandes capitais do mundo.
Aquela ocasião, portanto, motivou em mim das melhores lembranças, que guardo com carinho e, agora, busco transformar em palavras, transmitindo ecos contemporâneos do que permanece desse quadro, o que (quem sabe?) incentivará outros para viver aventura semelhante.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário