Segue abaixo uma síntese do projeto de dramaturgia A Donzela e o Cangaceiro de autoria do professor e dramaturgo Cacá Araújo
A DONZELA E O CANGACEIRO é um projeto de construção dramatúrgica, tendo como objetivo principal a elaboração de comédia teatral escrita em versos populares, característicos dos cantadores nordestinos, herdados de eras medievais, tendo como um de seus objetivos difundir valores do folclore e da cultura nordestina através de estética dramática sertaneja, alinhada ao imaginário popular e ao resgate de tradições ancestrais, que remontam aos processos iniciais de formação do povo brasileiro, a partir de matrizes de origem ameríndia, africana e européia, além de oportunizar a formação de platéias, especialmente juvenis, inspirando senso crítico e auto-estima em termos de identidade cultural e desenvolvimento humano, potencializando-as para o convívio e interação com outras culturas e linguagens artísticas;
O estímulo ao desenvolvimento da dramaturgia nordestina é um importante caminho de afirmação e respeito à inventividade literária e à diversidade cultural brasileiras. Neste contexto, insere-se o projeto A DONZELA E O CANGACEIRO que, para sua realização, requer recursos financeiros para pesquisa e, posteriormente à criação do texto, publicação impressa e montagem de espetáculo, como meios de divulgação, intercâmbio e debate sobre os temas sugeridos.
Ao abordar a ecologia e o meio ambiente a partir de motivo factual doméstico, como é o caso do Sítio Fundão, importante reserva ecológica na zona urbana na cidade do Crato ameaçada de extinção, amplia-se o foco ao propor uma leitura da gana imperialista capitaneada pelos USurpAdores das riquezas alheias. A DONZELA E O CANGACEIRO envereda também pelo universo histórico e mítico do homem nordestino e universal, revisitando o cangaço e o mito da Caipora numa história fantástica, mas embrenhada na e de realidade.
A DONZELA E O CANGACEIRO é um projeto de dramaturgia que dá prosseguimento à determinação do autor em buscar a afirmação de uma dramaturgia nordestina alinhada ao resgate e à difusão da cultura tradicional popular, fundada na expressão do imaginário do povo, nas lendas, nos mitos, nos causos, nas aventuras, nos romances, na história, nos mistérios que habitam a alma afoita e brincante do sertanejo, cujo sangue saltitante se perpetua no riso e na dor, na graça e no sofrimento, na desventura e na esperança.
Essa busca iniciou-se com o texto A COMÉDIA DA MALDIÇÃO, que trouxe em seu enredo o resgate do mito da Mula-sem-cabeça , passando por outros textos como O PECADO DE CLARA MENINA e AS PRESEPADAS DE ZÉ OZÉBE, e, nessa nova investida, será a vez de outro mito, a Caipora, ser fantástico universal que habita as florestas, uma espécie de deusa protetora dos animais, segundo a crença popular.
Utilizando motivos e abordagens locais, a peça desenvolverá uma história de ficção ancorada em importantes e reais bandeiras de luta ecológica e na universal mitologia sertaneja. Fortalecerá, portanto, a ação de visitar e revisitar a cultura tradicional popular, o que, indubitavelmente, repercutirá positivamente no ritual permanente de consolidação da cultura nordestina e brasileira, principalmente entre nós nordestinos, e daqui para o resto do país e do mundo.
ARGUMENTO
Quando Donzela flor nasceu, foi grande a alegria do fazendeiro e de sua esposa. Mas, depois do primeiro choro a criança dormiu e não mais acordou. Nem a medicina nem as crendices conseguiam curar a menina. No meio do desespero do cruel fazendeiro aparece a Caipora, montada num porco-do-mato, e profere a sentença: “A criança é cria de quem mata nossas crias. Dormirá até os dezoito anos e somente sobreviverá se alguém de alma pura decifrar o enigma de Seu Jefrésso e lhe der um beijo de amor.” Disse isso e sumiu na fumaça. Donzela Flor é filha única de Pafúncio Brochado, um rico dono de terras que mora na Fazenda Pau-em-pé, e Dona Colombina. Ele diz ter a posse legítima das fontes de água e a soberania sobre tudo e todos da região. A maldição de Donzela Flor foi uma providência e vingança por causa da permanente destruição da natureza e desrespeito ao povo, praticados por seu ambicioso pai. Pafúncio Brochado é dominado pela Feiticeira Catrevage que, transformada em Dona Colombina quando esta não está por perto, o seduz e, através de chantagem, move-o a cometer as maiores atrocidades: desmatamento, represamento de água, matança de animais, violência e exploração contra os pobres empregados, roubo... Tudo em benefício de um interesse macabro: destruir a natureza e fazer da floresta um deserto, pois ela serve ao Bode-Preto, o senhor das trevas.
(jornal Contraponto)
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