terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Farias Brito, um filósofo cearense preocupado com a crise da civilização ocidental




Raimundo de Farias Brito, nascido em 24/07/1862 em São Benedito, no alto da Chapada da Ibiapaba, no Ceará, e falecido em 17 de janeiro de 1917, no Rio de Janeiro, é considerado pela maioria dos estudiosos da cultura brasileira, como um dos grandes nomes da filosofia no Brasil. Além de dedicar-se, quase ininterruptamente ao magistério, publicou obras que representam um marco na história do pensamento filosófico brasileiro, tais como: a trilogia Finalidade do Mundo, com os seguintes títulos: A Filosofia como Atividade Permanente do Espírito Humano (1895), A Filosofia Moderna (1899), Evolução e Relatividade (1905). Em seguida publicou mais três livros: A Verdade como Regra das Ações (1905), A Base Física do Espírito (1912) e O Mundo Interior (1914).
Quem diria que aquele rapazola de 15 anos, que saíra de Sobral com sua família fugindo da terrível seca de 1877-1878, para estudar no Liceu do Ceará, em Fortaleza, iria ter destaque num ramo de conhecimento que é a própria base da civilização ocidental, embora pouco valorizado pelas elites dirigentes do País? Pois bem! Aquele jovem, cuja inteligência e modéstia impressionava professores e colegas de Liceu, vai para a Faculdade de Direito do Recife na busca do passaporte para melhorar suas condições materiais e aprofundar seus estudos e lá encontra a famosa Escola do Recife, onde fervia um caldeirão de idéias cientificistas em voga na Europa nas últimas décadas do século XIX, como o positivismo de Augusto Comte e Èmille Littré, o evolucionismo de Herbert Spencer, o monismo de Ernest Haeckel, além do criticismo de Immanuel Kant.
Nosso filósofo, ao contrário de seu mestre Tobias Barreto e colegas como Silvio Romero e Clóvis Beviláqua, não vai se entusiasmar por tais idéias que faziam apaixonados prosélitos em nossa juventude. Mas o interesse pela discussão filosófica ficou indelevelmente marcado na sua personalidade. Levando às últimas conseqüências a maiêutica, o método socrático que leva o indivíduo a parir suas próprias idéias, Farias Brito busca traçar sua própria concepção de mundo a partir de uma nova definição de filosofia como a atividade permanente do espírito humano para a realização de um ideal ético. Inconformado com as soluções que os sistemas filosóficos apresentavam no seu tempo e com o avanço da crise da civilização ocidental do final do século XIX, que levaria às barbáries do século XX, Farias Brito paciente e solitariamente vai elaborando suas idéias, cujo objetivo é contribuir para uma nova síntese entre filosofia, ciência, arte e religião para superação dessa crise. Para ele, as diversas manifestações do conhecimento humano, ao invés de se combaterem mutuamente, deveriam encontrar soluções para os problemas humanos, abdicando cada uma do monopólio da verdade para se chegar a uma verdade maior. Essa verdade a ser perseguida tem um ponto de partida e de chegada: a consciência humana em contínua elaboração.

Júlio Filizola Neto
* Professor do Liceu do Ceará, doutorando em Educação Brasileira, UFC.

(jornal Contraponto)

Nenhum comentário: