sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Um dia para se pensar: Comunicação da violência ou violência da Comunicação?

Uma terça-feira nunca vista em Fortaleza. Assim foi o 3 de janeiro na capital cearense. Em pleno dia útil, lojas, escolas, bancos e repartições fecharam mais cedo. Com a greve dos policiais militares e bombeiros, informações sobre arrastão em vários pontos da cidade se espalharam velozes desde a manhã, aumentando o clima de insegurança na cidade. “O medo passa pela mídia, pelas redes sociais e pelo boca-a-boca”, diz o professor e sociólogo Marcos Silva, pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência da Universidade Federal do Ceará. Daí a enorme responsabilidade de quem informa. Foi mesmo um dia para jornalistas e demais integrantes da sociedade pensarem. Afinal, é "Comunicação da violência ou violência da Comunicação?"

“Nesse caso, a velocidade da informação foi vilã”, analisa o pesquisador, embora reconheça, por outro lado, que recursos de comunicação trazidas com a internet vieram colaborar para aumento da produção e democratização da informação. “Mas esta tem que ser verídica e bem apurada”, alerta. Jornalistas e outros comunicadores sabem disso - e muitos cumpriram muito bem o seu papel na terça-feira incomum -, mas se a regra nem sempre é obedecida pelos profissionais da informação, o que dirá dos internautas em geral, que não se sentem na obrigação de checar o que postam nas redes sociais ou enviam por e-mail?

Para o Prof. Marcos, não se pode esquecer que a causa maior do clima que se instaurou naquele dia em Fortaleza foi “a greve dos policiais que não começou há cinco dias. Foi um processo longo de sucateamento da segurança. O Governo tem sua parcela de culpa porque deixou a situação chegar no alerta vermelho”.

Problemas psicológicos

A grande quantidade de informações disseminada pelos meios de comunicação convencionais e pela internet deu legitimidade e visibilidade à greve "mas, ao mesmo tempo, produziu medo na população”, afirma o pesquisador. Segundo ele, em situações assim, uma gama de fatores psicológicos vai sendo sendo coletivizada o que, em determinados indivíduos que já apresentam vulnerabilidades, pode resultar em problemas psicológicos, como o receio de sair de casa, a síndrome do pânico e depressão.

O idealizador e diretor-financeiro da Agência da Boa Notícia, Luís Eduardo Girão, reconhece que a situação da segurança em Fortaleza e no Ceará é delicada, mas chama atenção para o risco do exagero, da manipulação da informação e do sensacionalismo em relação à greve dos policiais e outras questões ligadas à segurança pública. Ressalta Luís Eduardo que a nova ciência comprova: "o que o ser humano pensa acaba influenciando a realidade."

Assim, explica Luís Eduardo, “se informações distorcidas e negativas se propagam, criam um impacto na psique das pessoas, gerando uma histeria coletiva que causa depressão, paranoia. A pessoa não vai mais sair de casa achando que alguma coisa de ruim vai acontecer. Esse pavor na sociedade, que a própria mídia cria, incita os bandidos a agirem”,


Barrigada

Na ânsia de mostrar imagens do “caos” em Fortaleza, houve quem divulgasse até invasão de loja por conta de liquidação como se causa fosse arrastão. E até o portal Terra derrapou e virou motivo de piada. Tudo porque deu, como fato, esta pérola, a partir de um post no microblog Twitter: "Segundo @juaneceara até mesmo grandes lojas de departamento se recusaram a abrir: 'agora o negócio ficou sério! Acabei de ficar sabendo que fecharam o Romcy e até a Mesbla do Iguatemi! Tenso! #CaosEmFortaleza'".

Qualquer cearense sabe que as duas lojas fecharam há anos., o que fez a jornalista Helga Santos (@helgasantos) desabafar: "#CumuloDoAbsurdo sites de notícia tomarem redes sociais como únicas fontes de informação. Sinto vergonha por eles. Que jornalismo é esse?!"

Mais informações: Prof. Marcos Silva, LEV/UFC – (fone: 3366 7423 / 3366 7425) / Luís Eduardo Girão, Agência da Boa Notícia – (fone: 85 3224 5509)

Fonte: Agência da Boa Notícia

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