Foi um domingo para não esquecer. A história rugiu, rangeu e se mexeu. Mas não na direção que o conservadorismo esperava. O que as urnas fizeram foi repor certas correlações entre a nervura social e o voto; entre o discernimento popular e o legado histórico de projetos e propostas antagônicas.
Milhões
de vozes e rostos anônimos falaram o que pensam. Como é natural, em se
tratando de escrutínios marcados por peculiaridades locais, emitiram
vereditos ecumênicos.
Mas certas linhas afloraram com força: primeiro, o PT superou o PMDB e se tornou o partido mais votado no país, com 17,3 milhões de votos; cresceu 4% sobre 2008. Seu rival, o PSDB perdeu 4%.; em segundo lugar: o PT ganhou 627 prefeituras (14% mais que em 2008) e disputa o 2º turno em seis das maiores cidades do país. Não só.
Ali onde a natureza da disputa incorporou a tensão do conflito entre dois grandes blocos de interesses contraditórios — não apenas no âmbito local, mas nacional e também no plano da crise global– a resposta do voto desautorizou o prognóstico conservador. Ou seria melhor dizer a torcida e, em alguns casos, a quase fraude?
O domingo mostrou que o mundo seria perfeito para o conservadorismo se a democracia pudesse ser resolvida no campo das ‘ilações’, tão a gosto de certas togas e dos interesses aos quais elas se oferecem, sendo por eles obscenamente desfrutadas.
Se bastassem as ‘ilações’ do Datafolha, por exemplo, Serra iniciaria hoje um passeio pelo segundo turno de São Paulo –de bike, que ele é moderno– para desmontar o frágil Russomano.
O Datafolha modelou esse cenário indutor; insistiu nele até o último instante, reservando a Haddad uma 3ª colocação algo desanimadora (afinal, quem é que gosta de votar em candidato fora do páreo?). Em 24 horas, tudo mudou: o candidato do PT saltou dos 19% que lhe eram atribuídos pelo instituto dos Frias e encostou nos 29% (dos votos válidos, neste caso, conforme lembra com razão o leitor Kubas em seu comentário abaixo; o sentido da ‘modulação’ na forma de divulgar, persiste).
Como um instituto que se pretende isento não capta um migração de votos dessas proporções?
Se Haddad fosse um furacão e o Datafolha um serviço de meteorologia, que destino caberia aos responsáveis por tão clamorosa falha na informação à opinião pública?
As ‘ilações’ da mesma extração tampouco se revelaram pertinentes na tarefa de derrotar Chávez neste domingo.
Maciçamente apresentado como uma ruína política pelo jornalismo conservador –incluindo-se os mervais brasileiros – o ‘autoritário’ Chávez venceu Henrique Capriles, num pleito difícil, mas limpo e com participação recorde, por uma diferença da ordem de 10 pontos (54% a 44%).
Domingo memorável. O eleitor resolveu ‘meter o bico’ na história em São Paulo, em Caracas e em outras praças, para horror daqueles que não suportam ‘estrangeiros’ em seus currais. Mas também uma jornada recheada de advertência às candidaturas de esquerda que seguem para o 2º turno: é hora de vestir a camisa do bloco progressista ao qual pertencem, se quiserem obter os votos que –tradicionalmente– a ele se destinam. A ver.
Mas certas linhas afloraram com força: primeiro, o PT superou o PMDB e se tornou o partido mais votado no país, com 17,3 milhões de votos; cresceu 4% sobre 2008. Seu rival, o PSDB perdeu 4%.; em segundo lugar: o PT ganhou 627 prefeituras (14% mais que em 2008) e disputa o 2º turno em seis das maiores cidades do país. Não só.
Ali onde a natureza da disputa incorporou a tensão do conflito entre dois grandes blocos de interesses contraditórios — não apenas no âmbito local, mas nacional e também no plano da crise global– a resposta do voto desautorizou o prognóstico conservador. Ou seria melhor dizer a torcida e, em alguns casos, a quase fraude?
O domingo mostrou que o mundo seria perfeito para o conservadorismo se a democracia pudesse ser resolvida no campo das ‘ilações’, tão a gosto de certas togas e dos interesses aos quais elas se oferecem, sendo por eles obscenamente desfrutadas.
Se bastassem as ‘ilações’ do Datafolha, por exemplo, Serra iniciaria hoje um passeio pelo segundo turno de São Paulo –de bike, que ele é moderno– para desmontar o frágil Russomano.
O Datafolha modelou esse cenário indutor; insistiu nele até o último instante, reservando a Haddad uma 3ª colocação algo desanimadora (afinal, quem é que gosta de votar em candidato fora do páreo?). Em 24 horas, tudo mudou: o candidato do PT saltou dos 19% que lhe eram atribuídos pelo instituto dos Frias e encostou nos 29% (dos votos válidos, neste caso, conforme lembra com razão o leitor Kubas em seu comentário abaixo; o sentido da ‘modulação’ na forma de divulgar, persiste).
Como um instituto que se pretende isento não capta um migração de votos dessas proporções?
Se Haddad fosse um furacão e o Datafolha um serviço de meteorologia, que destino caberia aos responsáveis por tão clamorosa falha na informação à opinião pública?
As ‘ilações’ da mesma extração tampouco se revelaram pertinentes na tarefa de derrotar Chávez neste domingo.
Maciçamente apresentado como uma ruína política pelo jornalismo conservador –incluindo-se os mervais brasileiros – o ‘autoritário’ Chávez venceu Henrique Capriles, num pleito difícil, mas limpo e com participação recorde, por uma diferença da ordem de 10 pontos (54% a 44%).
Domingo memorável. O eleitor resolveu ‘meter o bico’ na história em São Paulo, em Caracas e em outras praças, para horror daqueles que não suportam ‘estrangeiros’ em seus currais. Mas também uma jornada recheada de advertência às candidaturas de esquerda que seguem para o 2º turno: é hora de vestir a camisa do bloco progressista ao qual pertencem, se quiserem obter os votos que –tradicionalmente– a ele se destinam. A ver.
Carta Maior
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