quinta-feira, 5 de junho de 2014

25 anos do massacre da Praça da Paz Celestial

Espremidas em uma fila longa e demorada, duas turistas chinesas se perguntavam qual seria o motivo da segurança ultra-reforçada para entrar na praça da Paz Celestial, no coração de Pequim, ontem.

Tentando ajudar, um chinês de trajes simples que está um passo à frente arrisca um palpite: “Deve ser alguma data comemorativa do Mao Tsé-tung”. Não era.

O mausoléu do líder comunista, onde seu corpo embalsamado permanece em exposição há 38 anos, fica a poucos metros. Mas as medidas extras de segurança nada tinham a ver com ele.

A data era o aniversário de 25 anos do massacre da Praça da Paz Celestial, 4 de junho, um dos eventos mais dramáticos da história recente da China e, ao mesmo, tempo ignorado por muitos, como os turistas da fila.

Mesmo em plena era das redes sociais e da comunicação instantânea, o governo chinês conseguiu manter boa parte da maior população do planeta alheia ao que houve há 25 anos.

No massacre de 1989, o Exército abriu fogo para colocar fim ao protesto pró-democracia que ocupara a praça durante sete semanas. A ação terminou com centenas, talvez milhares de mortos. O número nunca foi revelado.

Em Hong Kong, território que pertence à China mas mantém certa autonomia política, um público recorde de 180 mil pessoas, segundo os organizadores, participou de uma vigília com velas acesas para lembrar o aniversário do massacre.

“Vamos mostrar nosso mar de luzes a Xi Jinping [líder chinês]. Lutemos até o fim!”, conclamou Lee Cheuk-yan, presidente da Aliança de Apoio a Movimentos Democráticos na China.

Na China, o silêncio foi mantido à força. Correspondentes estrangeiros com longa experiência no país contam que jamais o governo se esforçou tanto como neste ano para evitar que o aniversário fosse lembrado.

Mais de 60 ativistas foram presos nas últimas semanas. O controle à internet aumentou. “Isso mostra que as autoridades ainda não tem coragem de encarar os erros que cometeram há 25 anos”, disse Zhang Xianlin, uma das fundadoras do grupo “Mães de Tiananmen”.

Em 1989, quando ocorreram os protestos pró-democracia que levaram à violenta intervenção do Exército, a praça da Paz Celestial (Tiananmen, em mandarim) ainda era aberta, sem as cercas que hoje a contornam, muito menos as barreiras de segurança com raio-x.

Centro do poder e símbolo do Estado chinês, a praça da Paz Celestial é um destino imensamente popular entre chineses de todo o país.

A receita do governo para manter o público longe do assunto inclui repressão, censura e ênfase no crescimento econômico, que tirou 500 milhões de pessoas da pobreza desde 1978. (da Folhapress)

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