Confira artigo de Ricardo Alcântara:
Brasileiros pelo mundo – no seu mais distante: Ucrânia, Síria ou Tailândia, quando respondem à pergunta sobre seu país de origem logo as pessoas de lá abrem um largo sorriso. A palavra ‘Brasil’ tem este dom: ela precede o sorriso do mundo.
O futebol – o modo como o praticamos Garrincha, Pelé, Zico, Romário e Neymar – é uma das causas da nossa reputação de gente sangue bom. Lá fora, acredita-se que vivemos com as mesmas virtudes que se revelam com a bola em nossos pés.
Uma copa do mundo no Brasil, quem não sonhava com ela? No entanto, tarda o país a se envolver com sua realização. A pergunta que não quer calar é: por que não estamos celebrando esta como a “Copa das copas” que deveria ser?
Começo pelo começo, a economia. Crescemos por dez anos e, como em toda parte, reduzimos o ritmo. O acento forte no consumo se mostra de curto fôlego para o salto na infraestrutura. Em saúde e segurança, o que não se agrava, estanca.
A percepção coletiva não é de crise, mas de incerteza: se 47 por cento declara intenção de voto na presidente Dilma, 72 por cento manifesta desejo de mudança. Grande parte dos brasileiros ocupa espaço nos dois grupos: manter, mas mudar.
Ao quadro incerto, soma-se a decepção: ao contrário do que o presidente Lula assegurou, há dinheiro público, sim, dos cofres estaduais e de empréstimos graciosos do BNDES, na construção dos estádios, além de superfaturamento.
As insatisfações prosperam ainda porque o melhor da copa não veio a tempo: só 12 por cento das obras de mobilidade urbana estarão prontas quando Neymar tocar a bola para Fred em Itaquera, dando início à primeira partida da competição.
Mas haverá um legado: as obras públicas. Mesmo os estádios, confortáveis, o torcedor brasileiro os merece. Sobre os desperdícios, longe de querer sancioná-los, a mídia espontânea sobre o país no exterior, se contratada, não sairia mais barata.
Já estava mesmo na hora do Brasil sediar uma Copa do Mundo. E pode ser que, na ponta do lápis, esta copa não seja lá um bom negócio e tampouco represente um prejuízo que não possa ser compensado pelos ganhos subjetivos, simbólicos.
O poder público apostou no instinto ufanista da “pátria de chuteiras” e subestimou o desconforto de consciência de se ver estádios brotarem do chão enquanto o crime toma conta das cidades e as filas nos hospitais não param de crescer.
O povo brasileiro não foi para as ruas quebrar as cidades. Nem foi a elas para aplaudir os desvios. Dá com isso, em ambos os casos, uma lição de civismo que o discurso velhaco do populismo governista não teve a grandeza de alcançar.
Que respostas nos foram dadas às manifestações de massa de 2013, quando fomos às ruas dizer aos dirigentes do país que estamos prontos para apoiá-los nas mudanças que o país precisa? Os talheres de sempre. Os conchavos de sempre.
Decepcionado com sua classe política, mas em paz com sua brasilidade, o povo vai torcer pelo que merece afirmação: sua índole criativa que a tradição de estilo da seleção brasileira tão bem representa. E festejaremos. Se festa houver.
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