domingo, 25 de setembro de 2016

Educar nos novos tempos requer coragem, humildade e paciência, defende filósofo Mario Sergio Cortella



Em uma hora e meia de palestra, poucos se levantavam ou demonstravam distração. Apenas com o microfone e sem apresentação de slides, o filósofo e educador Mario Sergio Cortella convidou mais de mil educadores a despertarem o interesse em sala de aula com temas que movem o universo dos alunos. A palestra encerrou a 10ª edição do Congresso Nacional de Educadores, promovido pelo Sistema Ari de Sá (SAS), no hotel Marina Park.

Com o tema “A educação e a emergência de múltiplos paradigmas: novos tempos, novas atitudes”, Cortella ressaltou características desejáveis no educador: coragem, humildade e paciência. Segundo ele, ferramentas necessárias para lidar com um novo tempo na escola, que recebe pessoas com deficiência, jovens inseridos em novas configurações de família e de pais com dificuldade em estabelecer regras e disciplina em casa.

Com duas edições por ano, nos meses de janeiro e setembro, o evento teve como tema geral “Pessoas com excelência constróem escolas de excelência”. O encontrou reuniu professores e gestores de escolas de diversos estados do Brasil, com quatro palestras nos turnos da manhã e da tarde. O público estimado pela organização foi de 1,1 mil participantes.

“Nós queremos nos tornar educadores melhores e discutir o cotidiano das escolas. Antes de mais nada, nós queremos formar seres humanos críticos, questionadores, livres e pensadores”, afirmou Raison Pinheiro, diretor de Consultoria Educacional do SAS. O relacionamento interpessoal e o estímulo ao pensamento e à participação na escola foram abordados em palestra de Marcos Moriggi, gerente de Consultoria Pedagógica do SAS.

Encerrando o evento, Mario Sergio Cortella deu exemplos de situações práticas para uma educação de excelência. Segundo o filósofo, o uso das tecnologias é bem-vindo quando houver intenção pedagógica. Independente da forma, ele defende que o papel do educador é transmitir o conhecimento dentro da realidade experimentada pelo aluno. No entanto, ele argumenta que nada disso é possível sem um bom planejamento e sem a busca constante dos professores por renovação.

Em entrevista ao O POVO Online, Mario Sergio Cortella fez uma síntese da mensagem principal deixada aos participantes.

O POVO Online - O que significa educar com excelência?

Excelência é tudo aquilo que ultrapassa, é tudo aquilo que vai além. A própria palavra excelente significa aquilo que vai além. Portanto, a educação excelente é aquela que faz mais do que a obrigação. Isto é, aquela que tem obrigação como ponto de partida, não como um ponto de chegada. Uma educação excelente é aquela que oferece sólida base científica, formação de cidadania, concepção de solidariedade social... Mas que faz isso de uma maneira que encante, que eleve, que faça com que haja alegria e prazer naquilo, de maneira que se queira mais. Portanto, a excelência é aquela que não tem um ponto de interrupção. Excelência é um horizonte, não é um lugar onde você chega.

O POVO Online - Quando pensamos em novos tempos e novas gerações de alunos, que novas atitudes o educador deve perseguir?

A gente tem de ter três grandes atitudes. A primeira delas é coragem. Entender que coragem não é ausência de medo, mas é capacidade de enfrentar o medo. E nós temos de ter coragem pra entender que hoje há um movimento novo, e nós temos de lidar com ele. Temos uma sociedade que muda com muita velocidade. Por isso, os alunos novos apresentam para nós não um encargo, mas um patrimônio. Portanto, eles são uma fonte de aprendizagem. É preciso ter coragem para lidar com essa questão.

Segundo: humildade. Saber que eu não sei todas as coisas. E se eu estou na educação, eu preciso entender que só é um bom ensinante quem for um bom aprendente. Em terceiro lugar: paciência. A gente não constrói as coisas de maneira apressada, de maneira açodada. Ao contrário, há um tempo de maturação em que as coisas acontecem. Por isso, coragem, humildade e paciência. Essas atitudes nos permitem entrar na estrada. Não significa que, com elas, a gente já chega ao final. Mas é assim que a gente começa.

- no site do jornal O Povo

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