Artistas, pesquisadores brasileiros e estrangeiros buscam discutir e detectar a ancestralidade presente no cancioneiro popular nordestino e suas possíveis interseções com a produção de música antiga na península Ibérica até fins do século XIX. Com shows de renomados artistas brasileiros e mestres nos estilos medieval, barroco e renascentista, a mostra vem mudando o cenário cultural de Araripe. A perspectiva dos organizadores é levar, à pequena cidade de Araripe, pelo menos 30 mil pessoas. O dobro da edição anterior.
Programação
Nos cinco dias da mostra, os músicos populares apresentam-se na praça principal da cidade, enquanto os de música erudita fazem seus shows na Igreja Matriz. Este ano, o evento conta com artistas, além de Hermeto Pascoal e Aline Morena, Sebastião Tapajós, os mestres na viola da gamba Kristina Augustin e Mário Orlando, a soprano Marília Vargas e Silvana Scarinci, na teorba, o grupo medieval Cantus Firmus, o duo Saga Barroca, o quarteto Zabaione Musicale, que apresenta obras de compositores do século 18, o duo Spes, especialistas em guitarras barroca, teorba e viola da gamba, e o argentino Pablo Lerner, radicado em Budapeste, que traz um instrumento desconhecido para os brasileiros, a viela de roda húngara.
Realização
Iniciada em abril de
Terra de grandes mestres da cultura popular, como o poeta Patativa do Assaré, a região apresenta uma musicalidade marcada por elementos de tradição oral, que influenciam cada vez mais novas gerações de músicos, artistas e aspirantes. Com as oficinas realizadas na edição anterior, as crianças e adolescentes estão empenhando-se na arte musical e desenvolvendo suas histórias.
Nesta mostra, a ênfase das oficinas será nas aulas de canto, com dois expoentes da ópera brasileira, Marília Vargas e Silvana Scaranci, e também com o grupo de Florianópolis, Cantus Firmus. A mostra de música, para Hermeto, é um encontro maravilhoso entre os grandes músicos.
ESPETÁCULO
Hermeto retorna depois de 15 anos
Araripe. Ele esteve no Cariri há 15 anos. Tocou no palco da ExpoCrato com os irmãos Aniceto. “Uma coisa linda. Eu ia tocar para ver o que eles iam sentir naquela hora”, descreve o músico multi instrumentista, Hermeto Pascoal, que não tirou da memória aquele momento. Os acordes modernos de Hermeto não serviram de estranhamento para o grupo de tradição popular com fama internacional. Lembraram dos bois, das vaquinhas e da vida na roça. E foi o que o músico gostou de ouvir e cabe direitinho dentro de sua definição sobre o verdadeiro músico. “Esse é um dom que a gente nasce com ele”, afirma Pascoal.
O gênio da harmonia musical dessa vez veio acompanhado. Aline Morena, companheira de palco e da vida, realiza o show “Chimarrão com Rapadura”. Com ele, a honra de abrir a II Mostra Brasileira de Música Antiga, em Araripe, onde estarão músicos do quilate de Sebastião Tapajós. A alegria de voltar ao Cariri é evidente. O artista destaca a importância da vinda ao Ceará, onde já realizou diversos shows ao longo de sua carreiras. Esteve no Festival de Jazz Guaramiranga no ano de 2004. “O Ceará é um estado de grandes músicos, pessoas talentosas e é uma alegria estar por aqui”, destaca ele.
A música de qualidade, segundo Hermeto, existe no Brasil, mas os novos têm de tomar cuidado como estão tocando. “Não estou rico, tô vivo e feliz. Fazendo a música que gosto e como eu gosto”. A trajetória desse alagoano, que já dividiu palco com os grandes nomes da música brasileira, a exemplo de Elis Regina, faz com que tenha uma visão abrangente do atual momento da música brasileira e mundial. Aposta na naturalidade das coisas. Isso, de acordo com um sempre pesquisador de novos sons, mostra a necessidade de se preservar o que há de bom, sem misturas que deixem de revelar uma identidade para a música.
ELIZÂNGELA SANTOS
Repórter
Mais informações:
ONG Instituto Atos
Rua Santo Antônio, 34
Bairro - Centro
Araripe - CE
(88) 3511-4084 / 3530-1303
Fonte: Diário do Nordeste
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