Trezentos anos depois da chegada dos primeiros colonizadores no Sul do Estado, restam poucas informações sobre os índios Cariris, primeiros habitantes da região. A presença dos nativos foi parcialmente esquecida pelos historiadores oficiais. A memória dos Cariris foi apagada pelo tempo. A igreja da Sé, por exemplo, foi construída em cima de um cemitério indígena num desrespeito contra um direito de todas as sociedades humanas. A prerrogativa de enterrar, com dignidade, seus entes queridos.Hoje, quando se comemora o Dia do Índio, os pesquisadores correm atrás do prejuízo histórico. A professora e ambientalista Rosi Mary de Araújo descobriu no Sítio Poço Danta, a 25 quilômetros do Crato, uma tribo indígena que tem o sobrenome Cariri. A comunidade, formada por cerca de 70 pessoas, ainda mantém os mesmos hábitos de seus antepassados. Vivem da pesca e da agricultura de subsistência. Fabricam cestos, balaios e utensílios de barros. O milho continua como a base da alimentação.TradiçãoUtilizam ervas para curar as doenças e ainda praticam rituais de pajelança, uma forma de reza que é exercida por Vânia Cariri, numa pequena casa de oração, onde são encontrados santos da igreja católica, candidato o santo, como Padre Cícero, personagens do candomblé e entidades indígenas. O sincretismo religioso é respeitado por todos os integrantes da comunidade.Este ano, o grupo conseguiu uma escola municipal. É a “Escola Indígena Cariri Luiz Felipe da Silva Cariri”. Que tem como professora uma integrante da comunidade, Débora Avelino, conhecida por “Gasula”. Na pequena casa, mantida pela prefeitura do Crato, alunos na faixa etária de 10 a 70 anos aprendem, além das primeiras letras, lições de ecologia e a história dos índios Cariris.Com 72 anos, cabelos brancos, a mais velha moradora da comunidade, Nilza Cariri, conta que sua avó pegou o “dente de cachorro” nas matas da região e foi trazida por um rico proprietário rural para o Sítio Poço Danta. O proprietário fez questão de registrar os índios que trabalhavam com ele com o sobrenome Cariri.História dos CaririsOs índios Cariris eram originários da Ásia e chegaram ao novo mundo pelos rios Amazonas e Tocantins. Dois tipos étnicos chegaram à América no período neolítico: os Sudésticos e os Brasilídios, a procura de um lugar que lhes dessem melhores condições de vida. Alguns prosseguiram a sua migração que só foram detidos pelas águas caudais do Rio São Francisco, difícil de serem transpostas e então asenhoraram-se da vasta região que compreende este rio. Uma dessas tribos foi a nação Cariri que chegou ao sul do Ceará nos séculos IX e X da era Cristã em busca de terras férteis, úmidas, quentes e de fácil plantio, de onde pudesse retirar o sustento da família e, conseqüentemente, melhorar a qualidade de vida dos integrantes da tribo.Encontraram no Cariri, mais precisamente no Crato, o ambiente propício às suas aspirações; com suas fontes e riquezas naturais a região propiciou-lhes uma vida fácil e primitiva, retirando da natureza, em abundância, uma diversidade de alimentos como macaúba, babaçu, piqui e araçá, dentre outros da cultura indígena.CulturaDedicaram-se, ainda, ao plantio da mandioca, do milho e do algodão. A caça e a pesca farta nas matas e rios fazia do ambiente um verdadeiro paraíso tropical onde suas famílias puderam viver em paz durante muito tempo. A vida na tribo era tranqüila. Suas residências eram construídas com a palha da palmeira. Usavam utensílios feitos de forma artesanal como cabaças, cuias e coités. Fabricavam diversos utensílios domésticos.Dentre eles destacamos o pilão de socar, a arupemba, o abano, esteiras de palha de palmeira e artigos feitos em cerâmica como vasos, pratos e panelas onde podiam fazer seus cozidos provenientes da farinha de mandioca (produzida em estilo rudimentar, em casas de farinhas primitivas) e do milho. O beiju, a tapioca, a puba, a canjica, o cuscuz e muitas outras receitas nutritivas vieram dos nossos antepassados indígenas. A maioria destes costumes foram e continuam úteis às comunidades atuais.
FIQUE POR DENTRO
Pedras de fogo são superstição sobre a triboConta à superstição que as pedras de fogo que caíam do céu (os meteoritos) traziam desgraça, provocavam incêndio na mata e rachaduras nas árvores, colocando muito medo nas pessoas. Quem encontrasse uma pedra dessas deveria dirigir-se à beira do rio ou da mata, dar as costas e atirar a pedra para trás, retirando-se do local sem voltar para observar onde cairia a pedra. Guardar a pedra em casa era atrair raios em dias de chuva. Acontece que esses meteoritos são parecidos com artefatos indígenas, às machadinhas, e na dúvida o comportamento de quem as encontrava era o mesmo, atirar no rio ou na mata. Na maior parte das vezes, eram artefatos que iam parar no fundo do rio, e não os meteoritos. Com isso, um rico material sobre a história desses índios ficou no fundo dos rios, e raramente são encontrados.
IDENTIDADE
Professora estuda origens do grupoCrato. “A construção da identidade de um povo tem como base sua história. Por isso, a história do Brasil e, particularmente, a história do Cariri passa pela cultura indígena”. A observação é da professora Rosi Mary Araújo, uma índia Cariri, que montou a sua taba de índios em Crato com o objetivo de aprofundar as pesquisas sobre suas origens. Rosi não aceita o rótulo de descendente de índio. “Eu sou uma índia Cariri”, afirma com orgulho.Nascida no Sítio Carnaúba, município de São Benedito, Rosi cresceu ouvindo histórias indígenas contadas por seus pais e avós. Descobriu que suas origens estão no Crato de onde os índios Cariris emigraram, por volta de 1730, quando chegaram os primeiros colonizadores e se espelharam por todo o Nordeste. Dois núcleos dos Cariris ainda hoje resistem em Crateús e São Benedito.
O mais significativo deles está em Crato, agora identificado pela professora Rosi.InformaçãoA pesquisadora lamenta as poucas informações sobre os Cariris. Esqueceram a grande contribuição que o negro e o índio deram para o desenvolvimento do Brasil. Essa história, segundo Rosi, foi reduzida a quase nada. Ficaram apenas peças soltas. O índio é visto muito mais como figura folclórica, objeto e não como ser humana. Além disso, pessoas encontram diversos utensílios pertencentes aos índios.
O carroceiro Leônidas Bezerra da Silva passou mais de três anos com uma pedra guardada em casa na certeza de que se tratava de uma “pedra de corisco”, jogada na terra durante uma noite de relâmpagos e trovões. A pedra foi encontrada no bairro Batateira, num terreno de Maria Muniz. O carroceiro estava retirando barro para uma construção, quando a picareta bateu na pedra, provocando centelhas de fogo.No mês passado, Leônidas procurou o Diário do Nordeste para entregar a pedra que foi levada para o Departamento de Produção Mineral (DNPM) a fim de ser identificada. Os geólogos Bendimar Filgueiras e Artur Andrade identificaram a pedra como uma machadinha feita de granito.
ANTÔNIO VICELMO
Repórter
Mais informações:Telefones: (88) 9239-2046(88) 3513-4401
Matéria publicada na edição de hoje do jornal Diário do Nordeste
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