quarta-feira, 20 de julho de 2011

ENTREVISTA COM O PREFEITO DE JUAZEIRO MANOEL SANTANA


“O centenário é o momento mais importante”, diz prefeito

Na semana em que Juazeiro do Norte completa 100 anos de história, o Jornal do Cariri traz uma entrevista com o prefeito do centenário, Manoel Raimundo de Santana Neto (PT). Ele revela jamais ter sonhado administrar o município no ano do centenário e fala das dificuldades de ser gestor em uma cidade do porte de Juazeiro. Se queixa da oposição que classifica de destrutiva, mas diz ter acordado uma relação amistosa com o presidente da Câmara, José de Amélia Júnior, onde o passado recente da guerra dos poderes teria sido apagado para que possam trabalhar juntos em prol da cidade. Santana expressa a vontade de continuar na prefeitura ao lado do vice Roberto Celestino, mas não quer antecipar a disputa eleitoral de 2012 para não mudar o foco do momento que considera mais importante que é o centenário de Juazeiro.

O sonho de ser prefeito

Santana- Jamais sonhei ser prefeito da minha cidade no ano do centenário. Sonhei em ser prefeito de Juazeiro em 1992, quando me candidatei pela primeira vez. Quando tentei pela terceira vez, já sabia que tinha mais chances, pois o momento político era favorável, tinha mais experiência acumulada e o partido estava melhor. E ai aconteceu um fato inesperado, a ruptura do PSDB, que nos trouxe o apoio do Raimundo Macedo, que acabou nos fortalecendo e nos levando a vitória.

Sentimento nesse momento histórico
Santana - Muita responsabilidade. Por ser no ano do centenário, a cidade ganha mais visibilidade e temos que dar respostas à altura da expectativa da maioria das pessoas. Acho que o momento do centenário não pode ser visto apenas como uma ocasião de muitos eventos festivos, recreativos, mas, principalmente, como um momento em que Juazeiro vai amadurecer, do ponto de vista político, administrativo, de que a cidade vai se transformar no ponto de referência da Região Metropolitana do Cariri. Isso é que é o mais importante, uma reflexão profunda. Quero chamar os políticos do Juazeiro a fazerem essa reflexão junto comigo, pensar o futuro da cidade para os próximos 20 ou 30 anos e trabalhar para que os caminhos que fiquem abertos. Sejam realmente os caminhos que vão conduzir a cidade ao progresso tão desejado, como já vem ocorrendo e que deve se consolidar e se fortalecer nos próximos anos.

O Pacto do Centenário
Santana- Hoje, temos uma boa relação com a Câmara. Estamos conversando e a maior parte dos vereadores tem sido parceira da administração. Existe, como em todo lugar, uma oposição, e quando ela se volta para a crítica construtiva é importante e necessária. A oposição não tem atrapalhado, mas vejo que em Juazeiro ela tem um papel destrutivo. Alguns opositores trabalham para destruir quem está no poder e isso é ruim para o município. Tive uma longa conversa com o presidente da Câmara, José de Amélia Júnior e o que ele me expressou é que também está preocupado com as questões do município, com o centenário, querendo que as coisas ocorram. Depois de todo aquele processo que ocorreu no início do ano, (caso da cassação do meu mandato), a gente teve uma reunião e ele (Zé de Amélia), tem sido muito firme nos compromissos que assumimos, de trabalhar em prol da cidade, passar uma borracha no passado e trabalhar de olho no futuro.

Dificuldades
Santana- É muito difícil administrar uma cidade como Juazeiro. Herdamos três grandes problemas. Não tinha um quadro técnico administrativo que fosse o suficiente para atender as exigências de uma cidade do porte que é. Então, foi preciso fazer concurso, qualificar os servidores e isso traz enorme dificuldade para a gestão. Pois, se todo prefeito que entrar tiver sempre uma renovação, as pessoas têm que se adaptar e demora algum tempo. A administração estava muito desorganizada. Outra grande dificuldade foi a diminuição do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), logo no primeiro ano de 2009, e a lenta recuperação até os nossos dias. Isso termina sendo a base de muitos problemas. E Juazeiro é uma cidade que não tem arrecadação própria expressiva e está atravessando um momento de euforia e crescimento extraordinário. Isso faz com que a prefeitura sozinha não tenha pernas para acompanhar esse ritmo de crescimento. Precisamos dos apoios estadual e federal. Outra questão é a demanda reprimida, e são problemas de muitos anos, como o reordenamento dos espaços públicos e as carências, dos mercados, de creches, escolas, postos de saúde, pavimentação asfáltica, saneamento. Juazeiro cresce acima da média nacional da construção civil, eis aí talvez a principal dificuldade que se enfrenta atualmente na cidade.

Licitações
Santana- Enfrentamos muitos problemas com licitações no início da gestão, por inexperiência. Porque temos que fiscalizar se as empresas que vão chegar para a disputa são idôneas. Muitas que contrataram com a gente já vinham de outras gestões. Houve críticas em relação à empresa ASP, que teria ganho 18 licitações no nosso Governo, mas essa mesma empresa já teria ganho mais de 30 em governos passados. Procuramos dar mais rigor aos processos de licitações e cobramos também a execução das obras com qualidade. Criamos uma controladoria para fiscalizar e controlar o próprio governo e ser rigorosa na execução dos contratos de obras e serviços.

Obras
Santana- As grandes obras do centenário estão bem atrasadas. O grande problema é da burocracia que existe no funcionamento das coisas. Temos problemas com o estacionamento do Romeiro, que a obra foi iniciada, mas está faltando a liberação do recurso financeiro. Temos um problema técnico com a obra da Praça do Marco Zero. A obra iniciou, está parada e depende de um parecer da Caixa Econômica Federal. Temos também parada, a ampliação de parte da Avenida Virgílio Távora, por conta de uma liberação da Semace. Faremos agora a licitação das cinco pontes da macrodrenagem. E temos timidamente em andamento a urbanização do Timbaúbas, onde está sendo refeito o calçamento na Avenida José Bezerra para receber a pavimentação asfáltica. Já são quase duzentas ruas asfaltadas, mas é só 20% do que Juazeiro precisa.

Avanços
Santana- O avanço mais significativo do nosso governo talvez seja resolver o problema social da falta de moradia. Uma das obras mais importantes que avança é o Programa Minha Casa Minha Vida, que das 1.280 casas da primeira etapa, entregaremos o primeiro bloco em agosto. Avançamos também na questão da saúde, embora seja um dos pontos mais criticados. Compramos o Hospital São Lucas, fizemos a intervenção no Santo Inácio. Na educação, melhoramos a qualidade do ensino. Vejo um bom funcionamento dos setores ligados a Assistência Social. Juazeiro tem tudo para terminar esse mandato com uma das mais completas redes de segurança alimentar do Ceará. Até o próximo ano, o restaurante popular deve passar a funcionar duas vezes ao dia, com acréscimo no número de refeições. Mais quatro cozinhas comunitárias serão entregues.

Legado
Santana- Queremos deixar os caminhos para que qualquer governante que chegue a prefeitura tenha mais facilidade na gestão da máquina administrativa, com um quadro técnico competente e qualificado, que possa dar respostas aos problemas que ocorrem no cotidiano. Queremos deixar uma situação financeira equilibrada, que permita pensar em investimentos com recursos próprios, com agilidade na resposta aos pequenos problemas do dia a dia. Um plano estratégico de desenvolvimento para o futuro que contemple as gerações vindouras. Esse eu acho é o grande legado que se poderia deixar.

Entrevista concedida ao Jornal do Cariri/Número: 2491.

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