Os
tempos modernos de comunicação instantânea, equipamentos eletrônicos e avanço
da informatização mudam hábitos e costumes em todos os lugares. Entretanto, a
cultura popular resiste e em algumas localidades mantêm a tradição. Um exemplo
vem desta cidade, que promove, a cada ano, o Encontro de Penitentes das Regiões
Centro-Sul e Cariri e a Procissão do Fogaréu, que reuniu mais 200 participantes
neste ano.
O evento tem caráter religioso popular
e cultural, realizado pela Secretaria de Cultura e Turismo do município. Abre
os ritos da Semana Santa, na comunidade. Neste ano, nove grupos de penitentes
deste município e das cidades de Barbalha e de Lavras da Mangabeira saíram às
ruas emocionando os participantes e os moradores que ocuparam as vias por onde
a caminhada seguiu. No cortejo, há o ritual da autoflagelação.
Quem não seguiu por meio da procissão,
neste fim de semana, acompanhou a passagem dos penitentes nas calçadas,
elogiando os benditos e admirando a tradição que remonta aos tempos medievais.
"O nosso esforço é para manter viva a cultura, as tradições e as manifestações
populares", frisou o secretário de Cultura do Município, Milton Bezerra.
O evento é idealizado com o objetivo de
fortalecer a cultura popular, promover um intercâmbio entre os grupos, e
principalmente, preservar a tradição popular. Também é caracterizado pela
Procissão dos Penitentes, que segue pelas ruas da cidade carregando tochas,
entoando benditos e realizando o ritual da autoflagelação. A caminhada nesta
cidade é pioneira. Em Barbalha ocorre a procissão na próxima Quinta-feira
Santa.
Os penitentes são homens simples e
abnegados, profundamente identificados com as crendices, superstições e dogmas.
Movimento remonta à era medieval. Desde o século XVII que existe a Ordem dos
Penitentes no Nordeste do Brasil. Acredita-se que os primeiros penitentes na
região do Cariri surgiram por volta de 1850 e, posteriormente, em Várzea Alegre,
sendo considerada uma cultura secular.
A memória que retrata a mística dessa
cultura secular praticamente dilui-se no tempo. Entretanto, há resistência, em
Várzea Alegre e em outras cidades, de alguns grupos, que, mesmo diante das
dificuldades, ainda mantêm-se ativos. O secretário de Cultura, Milton Bezerra,
mostrou preocupação com a falta de renovação. "Os penitentes estão idosos,
alguns, por problemas de saúde, não participam mais", frisou. "Os
jovens não querem seguir o rito dos mais velhos".
A Semana Santa é período de orações,
jejum, penitência, de manifestações de religiosidade cultural e popular. O
Encontro dos Penitentes e a Procissão do Fogaréu, que percorreu ruas e igrejas
desta cidade, assinalam a abertura dos ritos desse período santo para os cristão
católicos. Em 2014, o evento reuniu 12 grupos oriundos das regiões Centro-Sul e
Cariri, três a mais do que neste ano.
A procissão partiu da Capela de São
Vicente de Paulo. Pelas ruas da Cidade, o povo acompanhou os grupos que levavam
tochas acesas e cantavam benditos. O encerramento da caminhada foi na Capela de
São Francisco de Assis, no bairro Betânia, onde alguns dos integrantes de
grupos de penitentes procederam a autoflagelação, um dos rituais mais antigos
desse segmento religioso.
Para o prefeito Vanderlei Freire, a
integração dos grupos de penitentes da região representa a manutenção de uma
das culturas populares mais antigas. "Foi uma troca de experiência
excepcional", frisou. "O município foi pioneiro em reunir e
incentivar a participação desses grupos, com o objetivo de valorizar a cultura
dos penitentes na região".
Neste ano, o evento contou com a
participação da coordenadora de Cultura Popular de Barbalha, Maria Gorete; do
turismólogo de Barbalha, Rodrigo Torres; do educador patrimonial do Banco do
Nordeste de Lavras da Mangabeira, Regi Belizário; e da secretária de Cultura de
Lavras da Mangabeira, Cristina Couto.
De Barbalha, vieram quatro grupos:
Irmandade do mestre José Galego e Santas Missões, do mestre Olímpio, do Sítio
Lagoa; Inselências de mestra Terezinha e Irmãos da Cruz, do mestre Antônio, do
Sítio Cabeceiras.
Do município de Lavras da Mangabeira,
vieram dois grupos: mestre Vicente Vieira, do sítio Oitis; e mestre Luiz
Geraldo, da Vila Mangabeira. Da cidade de Várzea Alegre compareceram os grupos
do mestre Tico de Manuel Vicente, da Vila Riacho Verde; do mestre Francisco
Adriano, do Sítio Jatobá; do mestre Vicente Barbosa, do bairro Riachinho.
Vestidos a caráter, batas vermelhas,
pretas, os penitentes conduzem a cruz, tochas de fogo, chicotes e entoam
benditos. Na capela da Betânia, realizam o ritual da autoflagelação (batem com
chicotes com pontas de ferro nas próprias costas) e em seguida rezam um terço.
"Antes, a gente só fazia a penitência para Deus, isolado, pedindo perdão
pelos pecados, em uma estrada, próximo de um cruzeiro, com a roupa levada
escondida em um bornal e só a mulher sabia, que dava banho de água de sal nas
costas", contou um dos penitentes de Barbalha.
fonte: Diário do Nordeste
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