Um período que jamais será esquecido nas páginas da história do Brasil passa a ter um documento inédito também no Cariri, com o recém-lançado "Anos de Chumbo: O Movimento Político Estudantil e a Ditadura Militar do Crato", do escritor, jornalista e pesquisador Jurandy Temóteo. Foram vários anos dedicados à obra, que pela primeira vez reúne nomes importantes de participantes ativos de um processo que mudou o País.
O professor Jurandy adentrou aos meandros de um período em que procurou mostrar as suas diversas facetas. Mostra de que forma o Crato recebeu essa realidade, como os movimentos, em especial o estudantil, e se comportou com a fase em que os militares assumiram o poder. Na obra, ele cita o período em que o Crato teve a visita do então presidente da República, Castelo Branco, político cearense, que inclusive está registrado na capa do trabalho. Ele veio presidir as festividades dos 200 anos do Crato, em 21 de junho de 1964, a convite do então senador Wilson Gonçalves.
As prisões de jovens e idosos são relatadas pelo autor, mesmo sem acusações formais, na calada da noite, foram levados como subversivos. As pessoas eram conduzidas à delegacia de Juazeiro do Norte e em seguida levados para Fortaleza, para as celas do Dops. As arbitrariedades cometidas, com ameaças de tortura, são ditas pelas próprias vítimas. Para o professor Jurandy, o seu maior interesse foi poder inserir em um livro, com um rico acervo de fotografias, esse momento da história. Ainda haverá um segundo trabalho, provavelmente, para que seja relatada uma segunda fase desse momento da ditadura, já que havia um material extenso. A edição foi detalhada, para conter os principais acontecimento além dos relatos, incluindo de dona Almina Arraes, irmã de Miguel Arraes, e da prisão do jovem Valdesley Alves, poeta da cidade de Mautiri, preso de forma arbitrária e torturado. O trabalho não teve ainda lançamento oficial, mas chama a atenção pela rica composição de informações, pluralidade de informações sobre a ditadura, as vítimas do processo, e o comportamento da cidade na época. Como eram os festivais da canção e os meios de comunicação. Como essa realidade tenebrosa influenciava as pessoas.
Com vários livros editados, o professor aposentado da Universidade Regional do Cariri (Urca), produz e edita a revista A província, dentre outras publicações já realizadas e publicadas, escritas por ele e outros autores, por meio de sua editora. Segundo o professor Jurandy, há a história oficial e a real, considerada a parte marginal do processo. A que não consta as conveniências do momento. "Então, procurei dar vez e voz a esses personagens que com o tempo iriam se apagar, com as pesquisa e entrevistas", diz ele.
Dentro desse contexto, para ele, ou se diz a verdade ou fica dentro da conveniência. "A gente passa e as coisas ficam. E temos essa riqueza de acontecimentos na nossa história", ressalta. Anos de Chumbo começa com uma análise poética do trabalho de Valdesley Alves. A sua obra reflete algumas consequências do período da ditadura. No livro, é relatada a própria tortura sofrida pelo poeta, por uma barbalhense, Antonieta Duarte, que também sofreu pressões e foi perseguida. Atualmente é advogada e seu testemunho inédito foi registrado.
Horizonte
O horizonte geográfico do trabalho é o Crato, com as ramificações sobre a ditadura na região. Casos como o de Valdesley, Alberto Teles, família Arraes, são registrados por meio de entrevistas. São 13 ao todo, com nomes como o escritor e advogado, Emerson Monteiro, e o médio e político, Marcos Cunha.
Além disso, há o registro da memória iconográfica e testemunhos por escrito, para se ter um contexto das coisas que ocorreram na época.
O professor, que no período era estudante e fez parte do movimento estudantil, fez parte de um grande ciclo de amizades. Havia uma grande efervescência na época. "Fui um personagem, mas sempre abominei violência e era amigo das duas partes, mas que na verdade a gente não tinha tantos comunistas no Cariri, mas idealistas e jovens querendo defender o petróleo e a nação", afirma ele.
No Cariri havia dois blocos, segundo o autor, um deles querendo defender o Brasil, e outra parcela querendo um movimento de libertação, com alguns comunistas, mas relata que os abusos eram demais. A própria imprensa era sempre do lado da direita. No livro estão relatados os discursos realizados na visita de Castelo Branco, com análise dos posicionamentos. (E.S)
Mais informações:
Professor Jurandy Temóteo
Crato
Telefones: (88) 9909.2138 - 3521.2552
O professor Jurandy adentrou aos meandros de um período em que procurou mostrar as suas diversas facetas. Mostra de que forma o Crato recebeu essa realidade, como os movimentos, em especial o estudantil, e se comportou com a fase em que os militares assumiram o poder. Na obra, ele cita o período em que o Crato teve a visita do então presidente da República, Castelo Branco, político cearense, que inclusive está registrado na capa do trabalho. Ele veio presidir as festividades dos 200 anos do Crato, em 21 de junho de 1964, a convite do então senador Wilson Gonçalves.
As prisões de jovens e idosos são relatadas pelo autor, mesmo sem acusações formais, na calada da noite, foram levados como subversivos. As pessoas eram conduzidas à delegacia de Juazeiro do Norte e em seguida levados para Fortaleza, para as celas do Dops. As arbitrariedades cometidas, com ameaças de tortura, são ditas pelas próprias vítimas. Para o professor Jurandy, o seu maior interesse foi poder inserir em um livro, com um rico acervo de fotografias, esse momento da história. Ainda haverá um segundo trabalho, provavelmente, para que seja relatada uma segunda fase desse momento da ditadura, já que havia um material extenso. A edição foi detalhada, para conter os principais acontecimento além dos relatos, incluindo de dona Almina Arraes, irmã de Miguel Arraes, e da prisão do jovem Valdesley Alves, poeta da cidade de Mautiri, preso de forma arbitrária e torturado. O trabalho não teve ainda lançamento oficial, mas chama a atenção pela rica composição de informações, pluralidade de informações sobre a ditadura, as vítimas do processo, e o comportamento da cidade na época. Como eram os festivais da canção e os meios de comunicação. Como essa realidade tenebrosa influenciava as pessoas.
Com vários livros editados, o professor aposentado da Universidade Regional do Cariri (Urca), produz e edita a revista A província, dentre outras publicações já realizadas e publicadas, escritas por ele e outros autores, por meio de sua editora. Segundo o professor Jurandy, há a história oficial e a real, considerada a parte marginal do processo. A que não consta as conveniências do momento. "Então, procurei dar vez e voz a esses personagens que com o tempo iriam se apagar, com as pesquisa e entrevistas", diz ele.
Dentro desse contexto, para ele, ou se diz a verdade ou fica dentro da conveniência. "A gente passa e as coisas ficam. E temos essa riqueza de acontecimentos na nossa história", ressalta. Anos de Chumbo começa com uma análise poética do trabalho de Valdesley Alves. A sua obra reflete algumas consequências do período da ditadura. No livro, é relatada a própria tortura sofrida pelo poeta, por uma barbalhense, Antonieta Duarte, que também sofreu pressões e foi perseguida. Atualmente é advogada e seu testemunho inédito foi registrado.
Horizonte
O horizonte geográfico do trabalho é o Crato, com as ramificações sobre a ditadura na região. Casos como o de Valdesley, Alberto Teles, família Arraes, são registrados por meio de entrevistas. São 13 ao todo, com nomes como o escritor e advogado, Emerson Monteiro, e o médio e político, Marcos Cunha.
Além disso, há o registro da memória iconográfica e testemunhos por escrito, para se ter um contexto das coisas que ocorreram na época.
O professor, que no período era estudante e fez parte do movimento estudantil, fez parte de um grande ciclo de amizades. Havia uma grande efervescência na época. "Fui um personagem, mas sempre abominei violência e era amigo das duas partes, mas que na verdade a gente não tinha tantos comunistas no Cariri, mas idealistas e jovens querendo defender o petróleo e a nação", afirma ele.
No Cariri havia dois blocos, segundo o autor, um deles querendo defender o Brasil, e outra parcela querendo um movimento de libertação, com alguns comunistas, mas relata que os abusos eram demais. A própria imprensa era sempre do lado da direita. No livro estão relatados os discursos realizados na visita de Castelo Branco, com análise dos posicionamentos. (E.S)
Mais informações:
Professor Jurandy Temóteo
Crato
Telefones: (88) 9909.2138 - 3521.2552
(Diário do Nordeste)
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